segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A VISITA DA SENHORA MERKEL

 

Tomás Vasques – i online, opinião
 
Uma viagem curta que envolve o Presidente da República e o primeiro-ministro de um país supostamente soberano, com quem trocará breves palavras de circunstância
 
1. A chanceler alemã, Angela Merkel, visita hoje Portugal, como visitou a Grécia recentemente. Uma viagem curta, de cinco horas, numa correria programada ao minuto, na qual, com a deselegância política e o oportunismo que a caracterizam, envolve o Presidente da República e o primeiro-ministro de um país supostamente soberano, com quem trocará breves palavras de circunstância, uns sorrisos e uns beijos, na pré-campanha para as eleições alemãs do próximo ano. Quando entrar no avião que a levará na viagem de regresso, à capital do Império, provavelmente, vai desabafar para um dos seus assessores: “Este número está feito.”
 
Esta senhora que hoje manda na “União Europeia”, a seu belo prazer, bastando-lhe para tal o voto dos alemães, sem ironia, é uma boa síntese, enquanto personalidade, do encontro entre teses filosóficas opostas, a da Escola de Frankfurt, dirigida por Max Horkheimer, nos anos 30 do século passado, que procurou fundir Marx e Freud na explicação do desenvolvimento histórico e a da teoria marxista clássica sobre o papel do indivíduo na História, defendido por Plekhanov. Angela Merkel é a mistura perfeita entre “a frustração individual e o impulso inconsciente” e a “escolha de uma personalidade para o domínio de uma classe”. Não é impunemente, do ponto de vista das teorias da Escola de Frankfurt, que se cresce e vive até aos 35 anos numa “república soviética”, beneficiando do conforto do regime, ao ponto de ganhar, com 15 anos, as olimpíadas de russo e receber, como prémio, uma viagem a Moscovo, de se licenciar pela Universidade Karl Marx, em Leipzig e de se doutorar na Academia de Ciências de Berlim-Leste. Esta falsidade, de viver sorrindo na rua a um regime ditatorial, para dele tirar todo o proveito, enquanto em casa, como luterana, rezava contra quem lhe pagava os estudos universitários, desregulou-lhe a personalidade. Deste período, sobre a chanceler alemã, já se escreveu esta frase demolidora: “Aprendeu a esconder dos professores, dos colegas de classe e dos representantes do Estado aquilo que pensa.” Se Max Horkheimer tivesse conhecido este percurso de Merkel explicaria a destruição da União Europeia socorrendo-se mais de Freud do que de Marx. No entanto, como diria Ernest Mandel, em abono das teses de Plekhanov, estas frustrações individuais e impulsos inconscientes “por mais que determinem a personalidade, não podem directamente dar forma às transformações sociais envolvendo milhões de seres humanos”. Pelo que assistimos, nestes dias negros para a Europa, nunca os freudianos da Escola de Frankfurt estiveram tão próximos dos marxistas clássicos representados por Plekhanov. Ou seja, no fundo, mais uma vez um louco, por quem o dinheiro se faz representar, tomou conta da Alemanha para destruir a Europa.
 
2. O Bloco de Esquerda mostrou em 15 minutos, na convenção realizada no fim-de-semana, o dilema em que se debate e que permanece para além desta reunião. Ao fim da tarde de sábado, Daniel Oliveira, um dos representantes da minoria, na sua intervenção, concluiu: “Não há solução de esquerda, de um governo de esquerda, sem o Partido Socialista.” No momento seguinte, subiu à tribuna Fernando Rosas, em nome da maioria bloquista, para explicar que não é assim, e disse: “A situação política vai mudar muito nos próximos meses e vai haver um governo de esquerda quer o PS queira ou não queira.” Por sua vez, João Semedo, o novo líder do BE, a meias com Catarina Martins, ficou no “centro” deste desentendimento: tem sempre dois discursos preparados, um em cada bolso: num explica que os socialistas fazem parte de uma solução de governo de esquerda, como se estivesse de acordo com Daniel Oliveira; no outro, diz que os socialistas não fazem parte de uma solução de govern o à esquerda, como se estivesse de acordo com Fernando Rosas. Ou seja, o Bloco de Esquerda medeia entre a sobrevivência política e o desaparecimento.
 
Jurista, escreve à segunda-feira
 

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