Die Zeit, Hamburgo – Presseurop – imagem Antonio
O que aconteceria
se a Alemanha abandonasse a zona euro? O economista Gustav Horn da fundação
Hans Böckler – próxima do meio sindical – imagina as repercussões de uma saída
da zona euro e o que o mais popular eurocético da Alemanha, Thilo Sarrazin,
diria. Excertos.
Pequeno exercício
intelectual: o que aconteceria de a Alemanha abandonasse a zona euro, como
recomenda por exemplo o grande especulador George Soros?
Imaginemos que,
através de uma maioria de dois terços, o parlamento alemão decide abandonar a
moeda única e reintroduzir o marco. Uma decisão contestada apenas pelos Verdes.
A taxa de câmbio é de um marco para um euro. O presidente do Bundesbank
abandona o conselho dos governadores do BCE, uma decisão que entra
imediatamente em vigor.
Os mercados
financeiros e os mercados cambiais são os primeiros a reagir à saída da
Alemanha. A liquidez da Alemanha provém dos outros países da união monetária. A
nova moeda é rapidamente valorizada em mais 50% face ao euro. Um marco custa
agora €1,50. Os investimentos realizados na Alemanha veem o seu valor cair
drasticamente em euros. Ao
mesmo tempo, o valor das garantias do Estado alemão destinadas ao fundo de
resgate da zona euro diminui. Inicialmente, os riscos para as finanças públicas
são menores.
Cerca de 200
economistas alemães aplaudem a liberdade ganha pela Alemanha. No talk-show
político de Günther Jauch, Thilo Sarrazin declara que a Alemanha não precisa do
euro.
Nos restantes
países da zona euro, os mercados financeiros estão em dificuldades. O BCE ,
que deslocalizou a sua sede de Frankfurt para Paris logo após a saída da
Alemanha, anuncia compras de obrigações ilimitadas. O que permite aos
banqueiros da zona central restaurar rapidamente a paz na bolsa. Entretanto, o
pagamento à Alemanha pelos depósitos feitos no Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE) é efetuado em euros, que uma vez convertidos em marcos
perderam um terço do seu valor. Para o Bundesbank, a perda tem um sabor amargo.
A dívida pública alemã aumenta.
Carros alemães
tornam-se demasiado caros
Após o sentimento
de alívio que permaneceu durante algumas semanas por terem escapado à crise,
inúmeros grandes construtores automóveis anunciam que o seu volume de vendas no
resto da zona euro tem vindo a cair drasticamente. Os carros alemães são
demasiado caros para os europeus. Os construtores passam a recorrer ao
desemprego parcial e suprimem cargos. Pouco depois, a confederação do patronato
alemão anuncia que a economia alemã deixou de ser competitiva e apela aos
sindicatos para a moderação salarial. Um trimestre depois, o gabinete federal
das estatísticas divulga que o excedente do saldo da balança de pagamentos caiu
para metade, devido à diminuição das exportações para outros países da zona
euro. No talk-show político apresentado por Anne Will, Thilo Sarrazin declara
que não tem saudades do euro e que os seus rendimentos não baixaram.
No resto da zona
euro, os países em crise recebem prazos maiores para reduzir as suas despesas.
Ao mesmo tempo, os outros países aumentam o seu contributo para o fundo de
resgate do MEE, para compensar a perda da Alemanha.
O pacto orçamental
é suprimido e substituído por um pacto de estabilidade. Este obriga os países a
cumprir certos objetivos em matéria de inflação, evitando assim desequilíbrios
na balança de pagamentos. O MEE é reconvertido em Fundo Monetário Europeu
(FME). Qualquer país que registe excedentes ou défices significativos na sua
balança de pagamentos deve ceder ao FME uma parte das suas receitas fiscais
provenientes do seu imposto sobre o rendimento.
Entretanto, a
balança de pagamentos alemã volta ao equilíbrio com a diminuição significativa
das exportações. A conjuntura alemã agrava-se consideravelmente. As indústrias
exportadoras estão em recessão e cortam sem moderação na massa salarial. A
economia nacional começa por sua vez a abrandar. Em contrapartida, no resto da
zona euro, a situação económica estabiliza-se progressivamente. No programa de
televisão de Frank Plasberg, Thilo Sarrazin declara que o euro não é
responsável por nada. A Volkswagen anuncia que vai deslocalizar uma grande
parte da sua produção para outros países da zona euro. “O marco alemão é
demasiado fraco para a nossa produção e precisamos de uma taxa de câmbio mais
estável”. O valor das ações da VW sobe consideravelmente. A BMW e a Daimler
anunciam planos similares. No setor público a instauração de um limite de
dívida traduz-se na supressão de empregos aliada ao recuo das receitas fiscais.
As negociações salariais levam a uma revalorização de 0,5% dos salários.
Economia alemã em
apuros
Um ano após a sua
saída da zona euro, a Alemanha atravessa uma profunda recessão acompanhada por
uma taxa de desemprego elevada. Entretanto, a procura interna está em queda, os
fracos aumentos salariais e a supressão de postos de trabalho passam a afetar o
consumo. Ao mesmo tempo, um número crescente de empresas anuncia deslocações de
empregos para a zona euro, a Ásia ou os Estados Unidos. A Bolsa de Frankfurt vê
a sua influência diminuir em benefício da Bolsa de Paris. Os capitais fogem
para o estrangeiro. O valor do marco estagna.
A zona euro
estabilizou-se e continua a apresentar um fraco crescimento económico. As
exportações dos países em crise – nomeadamente com destino à Alemanha –
aumentam. A Volkswagen prevê a expansão das suas fábricas na Espanha e a
construção de um novo edifício na Grécia.
Dois anos depois, a
zona euro revela um crescimento claramente superior a 2%. Ao mesmo tempo, o
desempenho económico da Alemanha paralisa e o desemprego continua elevado.
Cerca de 200 economistas alemães fazem um apelo solene para reforçar a
competitividade do país. Segundo estes, o mercado de emprego alemão é pouco
flexível, os salários são demasiado elevados e as prestações sociais muito
generosas. Dois anos após a saída da zona euro, numa altura em que a economia
alemã está em apuros, a Grécia e a Espanha estão em plena expansão, escrevem
eles.
No talk-show
político de Maybrit Illner, Thilo Sarrazin declara: “Nunca recomendei a saída
da zona euro, mas ainda podemos dizer que não precisamos do euro”.
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