domingo, 18 de novembro de 2012

Alemanha: ADEUS EURO, OLÁ RECESSÃO

 

Die Zeit, Hamburgo – Presseurop – imagem Antonio
 
O que aconteceria se a Alemanha abandonasse a zona euro? O economista Gustav Horn da fundação Hans Böckler – próxima do meio sindical – imagina as repercussões de uma saída da zona euro e o que o mais popular eurocético da Alemanha, Thilo Sarrazin, diria. Excertos.
 
 
Pequeno exercício intelectual: o que aconteceria de a Alemanha abandonasse a zona euro, como recomenda por exemplo o grande especulador George Soros?
 
Imaginemos que, através de uma maioria de dois terços, o parlamento alemão decide abandonar a moeda única e reintroduzir o marco. Uma decisão contestada apenas pelos Verdes. A taxa de câmbio é de um marco para um euro. O presidente do Bundesbank abandona o conselho dos governadores do BCE, uma decisão que entra imediatamente em vigor.
 
Os mercados financeiros e os mercados cambiais são os primeiros a reagir à saída da Alemanha. A liquidez da Alemanha provém dos outros países da união monetária. A nova moeda é rapidamente valorizada em mais 50% face ao euro. Um marco custa agora €1,50. Os investimentos realizados na Alemanha veem o seu valor cair drasticamente em euros. Ao mesmo tempo, o valor das garantias do Estado alemão destinadas ao fundo de resgate da zona euro diminui. Inicialmente, os riscos para as finanças públicas são menores.
 
Cerca de 200 economistas alemães aplaudem a liberdade ganha pela Alemanha. No talk-show político de Günther Jauch, Thilo Sarrazin declara que a Alemanha não precisa do euro.
 
Nos restantes países da zona euro, os mercados financeiros estão em dificuldades. O BCE, que deslocalizou a sua sede de Frankfurt para Paris logo após a saída da Alemanha, anuncia compras de obrigações ilimitadas. O que permite aos banqueiros da zona central restaurar rapidamente a paz na bolsa. Entretanto, o pagamento à Alemanha pelos depósitos feitos no Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) é efetuado em euros, que uma vez convertidos em marcos perderam um terço do seu valor. Para o Bundesbank, a perda tem um sabor amargo. A dívida pública alemã aumenta.
 
Carros alemães tornam-se demasiado caros
 
Após o sentimento de alívio que permaneceu durante algumas semanas por terem escapado à crise, inúmeros grandes construtores automóveis anunciam que o seu volume de vendas no resto da zona euro tem vindo a cair drasticamente. Os carros alemães são demasiado caros para os europeus. Os construtores passam a recorrer ao desemprego parcial e suprimem cargos. Pouco depois, a confederação do patronato alemão anuncia que a economia alemã deixou de ser competitiva e apela aos sindicatos para a moderação salarial. Um trimestre depois, o gabinete federal das estatísticas divulga que o excedente do saldo da balança de pagamentos caiu para metade, devido à diminuição das exportações para outros países da zona euro. No talk-show político apresentado por Anne Will, Thilo Sarrazin declara que não tem saudades do euro e que os seus rendimentos não baixaram.
 
No resto da zona euro, os países em crise recebem prazos maiores para reduzir as suas despesas. Ao mesmo tempo, os outros países aumentam o seu contributo para o fundo de resgate do MEE, para compensar a perda da Alemanha.
 
O pacto orçamental é suprimido e substituído por um pacto de estabilidade. Este obriga os países a cumprir certos objetivos em matéria de inflação, evitando assim desequilíbrios na balança de pagamentos. O MEE é reconvertido em Fundo Monetário Europeu (FME). Qualquer país que registe excedentes ou défices significativos na sua balança de pagamentos deve ceder ao FME uma parte das suas receitas fiscais provenientes do seu imposto sobre o rendimento.
 
Entretanto, a balança de pagamentos alemã volta ao equilíbrio com a diminuição significativa das exportações. A conjuntura alemã agrava-se consideravelmente. As indústrias exportadoras estão em recessão e cortam sem moderação na massa salarial. A economia nacional começa por sua vez a abrandar. Em contrapartida, no resto da zona euro, a situação económica estabiliza-se progressivamente. No programa de televisão de Frank Plasberg, Thilo Sarrazin declara que o euro não é responsável por nada. A Volkswagen anuncia que vai deslocalizar uma grande parte da sua produção para outros países da zona euro. “O marco alemão é demasiado fraco para a nossa produção e precisamos de uma taxa de câmbio mais estável”. O valor das ações da VW sobe consideravelmente. A BMW e a Daimler anunciam planos similares. No setor público a instauração de um limite de dívida traduz-se na supressão de empregos aliada ao recuo das receitas fiscais. As negociações salariais levam a uma revalorização de 0,5% dos salários.
 
Economia alemã em apuros
 
Um ano após a sua saída da zona euro, a Alemanha atravessa uma profunda recessão acompanhada por uma taxa de desemprego elevada. Entretanto, a procura interna está em queda, os fracos aumentos salariais e a supressão de postos de trabalho passam a afetar o consumo. Ao mesmo tempo, um número crescente de empresas anuncia deslocações de empregos para a zona euro, a Ásia ou os Estados Unidos. A Bolsa de Frankfurt vê a sua influência diminuir em benefício da Bolsa de Paris. Os capitais fogem para o estrangeiro. O valor do marco estagna.
 
A zona euro estabilizou-se e continua a apresentar um fraco crescimento económico. As exportações dos países em crise – nomeadamente com destino à Alemanha – aumentam. A Volkswagen prevê a expansão das suas fábricas na Espanha e a construção de um novo edifício na Grécia.
 
Dois anos depois, a zona euro revela um crescimento claramente superior a 2%. Ao mesmo tempo, o desempenho económico da Alemanha paralisa e o desemprego continua elevado. Cerca de 200 economistas alemães fazem um apelo solene para reforçar a competitividade do país. Segundo estes, o mercado de emprego alemão é pouco flexível, os salários são demasiado elevados e as prestações sociais muito generosas. Dois anos após a saída da zona euro, numa altura em que a economia alemã está em apuros, a Grécia e a Espanha estão em plena expansão, escrevem eles.
 
No talk-show político de Maybrit Illner, Thilo Sarrazin declara: “Nunca recomendei a saída da zona euro, mas ainda podemos dizer que não precisamos do euro”.
 

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