quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Angola: A INSTÁVEL RDC

 


Luís Fernando - O País (ao), editorial
 
Há, de novo, perigo a rondar-nos. São muito más para Angola as notícias que chegam dos últimos tempos do Leste da República Democrática do Congo (RDC), com a instabilidade crescente que pode induzir, por osmose, desestabilização sentida também do nosso lado. Em bom rigor, a RDC não é uma fonte nova de angústia. É-o desde há muito, porque são escassos os períodos de acalmia absoluta dentro das suas fronteiras.
 
O facto de partilharmos com o antigo Zaíre uma extensa fronteira coloca-nos sempre a questão das barbas que têm de ser postas de molho porque as do vizinho pegaram fogo faz tempo. As perdas de sono, do nosso lado, são na verdade permanentes.
 
Se não é o ribombar de canhões por perto, são as complexas teias da migração ilegal montadas em território congolês tendo Angola como destino apetecível. Na RDC, tornaram-se endêmicos a doentia paixão emigratória para Angola e os conflitos armados opondo as autoridades e os rebeldes. Se o primeiro problema desafia a capacidade angolana de lhe pôr cobro, já o segundo – as revoltas armadas – apelam a um envolvimento multilateral na sua solução, por estar muito longe de se constituir num diferendo puramente interno.
 
O Governo de Angola emitiu uma declaração na quarta-feira a manifestar profunda preocupação pelo evoluir do conflito na região do Kivu Norte. Os guerrilheiros do chamado M23 ocuparam a cidade de Goma e escalada do conflito é visível. Daí apelo ao Conselho de Segurança e Paz da União Africana e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que “tomem as medidas apropriadas para pôr termo à investida belicista das forças rebeldes”. Está mais do que na hora de desencorajar àqueles que, de fora, promovem a instabilidade no interior da RDC.
 
O “empurrão” que os rebeldes recebem de vizinhos hostis precisa de ser tratado com a seriedade e urgência que o clima incendiário sugere, muito longe dos eufemismos da diplomacia. E o "laissez faire, laissez passer" da ONU também, que com 17 mil "capacetes azuis" no terreno olha para o avanço daquele bando de aventureiros como se andassem num desfile de carnaval, cantando e rindo!
 
Como bem o refere Angola, na sua reacção à escalada de violência, “tais acções de natureza militar são incompatíveis com o princípio da resolução pacífica dos conflitos, tendo principalmente em conta que a RDC realizou recentemente eleições democráticas, cujos resultados foram reconhecidos por toda a comunidade internacional”.
 
É premente que a região dos Grandes Lagos encontre o caminho da pacificação, sob pena de os seus povos e Estados se converterem em reféns eternos da instabilidade que inviabiliza o desenvolvimento, promove o movimento forçado de amplas massas humanas e desestrutura as sociedades, negando aos povos o direito às bondades da Democracia. Que se virem agora todos os olhares para a acção das organizações regionais e mundiais criadas, ao que se diz, para promover a paz no mundo. Angola pediu-lhes, abertamente, que façam alguma coisa.
 
Com Goma subjugada pela vontade da rebelião, veremos então o que vem depois…
 

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