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Roberto Cívita
(dono da Abril) e Policarpo Jr. (diretor de Veja)
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Indiciamentos do
jornalista Policarpo Júnior e de Roberto Cívita (diretor e proprietário de
Veja, respectivamente) por formação de quadrilha provoca reação inédita na
imprensa brasileira
Em menos de 24
horas, relatório de Odair Cunha (PT-MG) conseguiu provocar uma reação inédita
dos grandes meios comunicação brasileiros: editoriais do Estado, de Francisco
Mesquita Neto, e da Folha, de Otávio Frias, uma capa do Globo, de João Roberto
Marinho, além de artigos de Merval Pereira e Ricardo Noblat. Tudo por conta da
proposta de indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, de Veja, de Roberto
Civita, por formação de quadrilha, em razão de seu estreito vínculo com o
bicheiro Carlos Cachoeira
O relatório do
deputado Odair Cunha (PT-MG) conseguiu demonstrar o poder de fogo dos grandes
meios de comunicação brasileiros. Os principais jornais do País enfileiraram
suas tropas e apontaram os canhões na direção do relator da CPI. O deputado
Odair, como se sabe, ultrapassou uma linha perigosa, ao propor o indiciamento
de cinco jornalistas e investigações a respeito da conduta de outros seis
profissionais de imprensa.
O caso emblemático
é o do jornalista Policarpo Júnior. Odair demonstra que o diretor de Veja tinha
ciência de estar servindo a interesses privados de Cachoeira (que apenas
eventualmente coincidiam com interesses públicos), valendo-se muitas vezes de
munição para suas denúncias obtida por meio de gravações clandestinas ou
compradas ilegalmente (como no caso do Hotel Naoum, em Brasília).
O relator também
cita exemplos de profissionais que receberam dinheiro, champanhes e outros
presentes de Cachoeira para produzir reportagens. Mas, na visão dos grandes
grupos privados de comunicação, investigá-los representa uma ameaça à liberdade
de expressão. Tanto a Folha como o Estado produziram editoriais a respeito,
como colunistas de renome, vide Ricardo Noblat, também condenaram o relatório
de Odair Cunha. Foi como se proclamassem, em uníssono: “Somos todos
Policarpos”. Ou, de outra maneira, “mexeu com ele, mexeu comigo”.
Leia abaixo parte
da introdução do relatório de Odair Cunha
Conforme vimos
afirmando ao longo do presente Relatório, a Organização Criminosa (ORGCRIM)
chefiada por Carlos Cachoeira e estruturada para assacar o Estado Brasileiro
havia fincado raízes em diversos pontos da estrutura democrática estatal
(Administração Pública em geral, principalmente no Estado de Goiás) e contava,
como órgão de apoio de suas empreitadas criminosas, com um forte e atuante
braço midiático, a ser utilizado para atender aos desígnios diversos da
quadrilha.
Assim, as linhas
seguintes longe de significarem quaisquer afrontas ou ataques à imprensa, aos
meios de comunicação ou a seus profissionais, e mesmo ao seus imprescindíveis
direitos de expressar e informar, significam, na verdade, em sintonia com a
Constituição da República, a própria defesa da liberdade de imprensa e da
comunicação.
(…)
O que estamos a
afirmar é que a imprensa e os profissionais que a dignificam, independentemente
de posições ideológicas ou visões de mundo que conduzem sua linha editorial,
devem estar a serviço da verdade e em sintonia com os postulados éticos e
legais.
Quando tais
profissionais se divorciam desses princípios éticos e das altas responsabilidades
que balizam o exercício dos próprios direitos e garantias constitucionais,
perdem a sociedade, suas instituições e seus cidadãos.
Foi o que se viu
durante as investigações realizadas pela Polícia Federal e por esta Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito. Com efeito, profissionais da imprensa
exorbitaram e vilipendiaram de forma gravosa os mais basilares princípios
éticos que orientam o exercício da profissão e, de modo indigno, deixaram de
servir a sociedade e ao Estado Democrático de Direito e passaram a contribuir
de alguma maneira com os interesses da Organização Criminosa.
(…)
Verificar-se-á ao
longo do presente capítulo, que alguns profissionais da imprensa aderiram de
modo criminoso aos desígnios da ORGCRIM chefiada por Carlos Cachoeira.
Menoscabaram e assacaram ferozmente contra a ética no jornalismo em todas as
suas dimensões, induziram decisões e juízos de valores, enganaram a sociedade,
desvirtuaram verdades, criaram factoides, tudo sob o pressuposto de que estavam
protegidos pela liberdade de imprensa.
Ocorre que, como já
afirmamos alhures, a liberdade de imprensa não alberga crimes e criminosos, não
compactua com a falta de ética, não abarca a manipulação da verdade, não
socorre aqueles que maculam a boa-fé dos cidadãos e cidadãs, enfim, não protege
os estultos que empulham a sociedade.
(…)
Mas, ao jornalista
caberá, sempre, saber quem é a fonte, quais os caminhos que ela trilha, quais
os interesses que ela defende, rechaçando as possibilidades de conivência com
fontes que eventualmente estejam mergulhadas no crime, porque, afinal, a
principal missão do jornalista é a defesa do interesse da sociedade, e nunca a
notícia a qualquer preço, especialmente se a notícia visa atender a interesses
criminosos. Isso é da deontologia da profissão, constitui uma obviedade.
Aprende-se isso nas escolas de jornalismo, nos muitos manuais de redação, no
exercício cotidiano da profissão. A ética do jornalismo não admite conivência
com o crime, até porque essa conivência, especialmente quando continuada,
prejudica profundamente a sociedade.
Brasil 247
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