Expresso - Lusa
Nascido na Bélgica,
economista, antigo deputado, professor universitário em Londres, Paul de Grauwe
está em Lisboa e não resistiu a mandar um recado "ao seu amigo
Gaspar".
O economista belga
Paul de Grauwe aconselhou hoje o ministro das Finanças português a "não
exagerar" na austeridade, para evitar um "ciclo vicioso" de
recessão e endividamento.
"Diria ao meu
amigo [Vítor]Gaspar para não exagerar" na austeridade, disse De Grauwe,
antigo deputado no Parlamento belga e professor na London School of Economics,
durante a conferência "Portugal em Mudança", que assinala o 50.º
aniversário do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Ricardo Costa,
diretor do Expresso e moderador da conferência, fazia uma pergunta a Grauwe
sobre o ministro das Finanças português quando o economista o interrompeu.
"É um bom
amigo meu", disse Paul de Grauwe, que também é colunista do Expresso.
"Também
nosso", respondeu Ricardo Costa.
"Mas olhe que
não sou conselheiro dele!", exclamou o investigador belga, acabando,
contudo, por efetivamente dar conselhos ao ministro das Finanças.
"O que temo é
que o Governo português, no seu zelo de austeridade, vá longe demais, e crie o
risco de a economia portuguesa ser empurrada para um ciclo vicioso e não
conseguir reduzir a dívida", afirmou.
"Há uma
definição de inteligência que é: quando se vê que uma coisa não funciona, não
se insiste nela", acrescentou ainda Paul de Grauwe.
Países do norte não
fazem nada contra a crise
O economista já
tinha acusado, entretanto, os países do Norte da Europa de se portarem como
"vendedores de carros a crédito" antes da crise financeira no Sul da
Europa, e de agora "não fazerem nada" para a contrariar.
"Os países do
Norte acumularam grandes excedentes comerciais, o Sul tinha défices. Esses
défices foram financiados por crédito dos bancos do Norte", acrescentou.
"Por cada
devedor irresponsável, há um credor irresponsável. Mas, em grande parte da
Europa, [a crise é vista como] uma questão de moral, há bons que têm
excedentes, e os do Sul, que têm dívidas", prosseguiu, notando que em
holandês e em alemão a palavra para 'dívida' também pode significar 'culpa'.
Na audiência
encontrava-se o embaixador da Alemanha, Helmut Elfenkämper, que rejeitou a
ideia de moralismo, e falou na importância de os países do Sul fazerem reformas
estruturais.
Grauwe retorquiu:
"o Sul está a assumir um fardo excessivo" pela crise da dívida,
quando as responsabilidades "são partilhadas".
"O facto de o
Estado alemão poder endividar-se a baixas taxas de juro é sinal de que o
mercado diz à Alemanha que há muitas oportunidades de investimento. Não haverá
oportunidades que rendam mais de 1,8% em dez anos?", disse Grauwe.
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