Eduardo Oliveira
Silva - Jornal i, opinião
A lei e a malícia
A expressão é
basicamente usada na Itália para significar que sempre que se faz uma lei está
lá dentro uma forma de a tornear. Ora em Portugal, o país onde a colocação de
uma vírgula chegou a ser tema durante meses, há exemplos ilustrativos, como o
da limitação de mandatos para presidentes de câmara e de junta.
É tão notável
quanto absurdo o número de ilustres político-juristas que participaram na
feitura da lei e que a interpretam agora de forma diferente.
Proceder assim é
tomar os portugueses por patetas. Quem se envolveu na feitura de tal documento
houvera de ter tomado cautelas para evitar duplas interpretações… a menos,
claro, que… houvesse a conveniente malícia.
Método de redução
de deputados
Que se saiba, só um
português defende racionalmente a diminuição do número de deputados. O PS e
António José Seguro têm uma tese mas baseia-se em pressupostos mais políticos
do que técnicos. O povo em geral, esse, tem como referência o método radical:
bastavam uns três ou quatro tipos, porque os outros estão lá para votar como
lhes mandam e comer quase de borla num restaurante de luxo. Original mesmo é a
ideia de Campos e Cunha, o primeiro socrático arrependido que se conhece.
Advoga que os lugares vazios correspondam à proporção das abstenções que se
verifiquem no acto eleitoral. Isto sim, é eficaz. Não deixa de ser democrático.
Dá voz a quem a quer ter. Permite maiorias silenciosas e (atenção, Vítor
Gaspar) corresponde directamente a um corte na despesa. E esta hã?
Um país de
suspeitos
A justiça
portuguesa e as demais vivem da moda e de figuras que se vão criando à medida
da necessidade e do objectivo momentâneo pretendido. Uma das tendências do
Outono/Inverno que vamos vivendo reside na palavra “suspeito”. Agora sim, o
léxico está completo. Antes fulano era arguido, acusado, réu e mais uma série
de coisas. Agora fixou- -se o sobrenome “suspeito”, até aqui praticamente
apanágio da vox populi e não da cega Senhora. Agora há uma nova condição: o
suspeito oficial. Conhecendo o vasto rol de pecadilhos de que cada português
pode ser protagonista, é provável que a lista comece por um Arons Abílio
Abrantes e acabe num Zeferino Zuzarte Zósimo. Engraçado é que não chegando os
naturais do jardim à beira mar plantado se tente alargado o naipe ao exterior
do país.
Segurança Social e
soluções
Está moribunda a
Segurança Social. Os cofres estão em ruptura, pondo causa as reformas de
milhões de cidadãos que descontaram toda uma vida e dos não contributivos que
penduraram no sistema. O problema não é fácil de resolver, até porque depende
muito da perspectiva em que cada um o coloca conceptualmente. Há a tese de que
quem descontou aforrou e deve ter o retorno na reforma e há a teoria (hoje em
dia prevalecente) de que as gerações se sucedem na responsabilidade das
reformas das anteriores. Foi à conta desta ideia assente no crescimento que o
edifício caiu. Com a sua lucidez habitual, Mira Amaral alertou os jovens para a
necessidade de repensar o sistema que considerou uma aldrabice baseada num
esquema Ponzi. Feito o diagnóstico aguardam-se as soluções. Só uma parece
viável: deixar de taxar só o trabalho e abranger outras fontes de riqueza para
compensar quem já pagou e dar margem a que cada jovem prepare o seu próprio
futuro a partir de uma base mínima garantida.
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