Paulo Baldaia* – Diário de Notícias, opinião
O optimismo da
senhora Angela Merkel e do senhor Pedro Passos Coelho é muito animador mas não
passa no teste do algodão. A senhora e o senhor podem estar muito convencidos
das virtudes do actual plano e muito certos da excelência da sua execução. A
senhora pode determinar que na economia 50% é psicologia e o senhor repetir à
exaustão que tudo é para manter como está, mas alguma coisa vai ter de ser
feita.
E é claro que
alguma coisa já está a ser feita. Antes da quinta avaliação, o Governo também
garantiu que não queria mais tempo, mas já andava a negociá-lo com a troika.
Agora, pode jurar que não precisa de mudar o rumo, mas já anda a negociar
alterações ao memorando. Mau era que não fosse assim.
Senão vejamos.
Porque as contas do País precisavam de uma limpeza geral, gerou-se em Portugal
um largo consenso social e político sobre a necessidade de aplicar um plano de
austeridade que permitisse um rápido ajustamento do défice orçamental para
poder diminuir a divida pública. O resgate a Portugal foi feito porque os juros
que os mercados nos estavam a cobrar eram incomportáveis. Os juros reflectiam a
escalada negativa dos ratings que nos estavam a ser atribuídos pelas agências
de notação.
Um ano e meio
depois de assinado o memorando, façamos então o teste do algodão para perceber
se a limpeza (execução do memorando) está a dar resultado.
O largo consenso
social foi diminuindo, como era de esperar, mas deteriorou-se de tal modo que é
hoje possível dizer que a maioria das pessoas está contra a austeridade por não
entender para que serve, nem para onde nos está a levar. O largo consenso
político está hoje reduzido à coligação com evidentes divergências entre PSD e
CDS. A dívida pública continua a aumentar. Os juros que tinham descido estão
hoje novamente com uma tendência altista. A Fitch, que, já com o memorando a
ser executado, tinha descido em Novembro de 2011 o rating de Portugal para a
categoria de lixo (BB+), não encontrou em Novembro de 2012 uma única razão para
melhorar a nossa classificação.
Como se vê, o
optimismo dos defensores desta austeridade não só não passa no teste do
algodão, como basta uma única passagem para o algodão ficar todo sujo. O lixo
continua a ser tanto que ainda nem debaixo do tapete se consegue esconder.
P.S. Na
manifestação de quarta-feira a polícia teve um comportamento notável. Aguentou
até onde foi possível, avisou como tinha de avisar e actuou quando tinha de
actuar. Procurar destacar pequenas falhas que possam ter existido na actuação
da polícia é fazer o jogo dos "calhaus" que apedrejaram quem nos
defende. O País precisa de se poder manifestar em liberdade, mas também em
segurança.
* Diretor da TSF
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