José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião – em
A Palavra ao Diretor - hoje
As reacções desencontradas em Portugal a um simples editorial deste jornal são prova da hipersensibilidade que atravessa hoje as elites portuguesas e mostram que há muita gente desactualizada em relação à nova realidade angolana. Isso acontece por culpa da imprensa portuguesa, que é refractária ao contraditório e à igualdade de tratamento em tudo o que diz respeito a Angola e aos outros países africanos de língua portuguesa, porque pensa que é uma ex-potência colonial igual à França e se pode portar como tal, criando agora os “Angolagate à Portuguesa”, depois do grande fracasso do processo de Paris.
Alguns jornalistas portugueses foram culpados do prolongamento da guerra em Angola e são hoje responsáveis da profunda crise que se verifica na sociedade portuguesa. Em Portugal a liberdade de imprensa é ditada por uma intrincada teia de grupos de poder ligados a grandes meios financeiros ilegítimos. E essa é a razão por que a guerra pelo assalto aos únicos órgãos públicos de imprensa que ainda resistem, a Lusa e a RTP, é tão acirrada. Em todos os grupos privados, a começar pelo “Impresa”, de Pinto Balsemão, a liberdade de imprensa apenas existe na medida dos interesses políticos ou comerciais.
É neste quadro de tragédia que se deve entender a dificuldade da imprensa portuguesa em informar com verdade a situação
Mas o mais grave é que a imprensa portuguesa faz o mesmo com o seu próprio país. Se a comunicação social portuguesa foi largamente responsável pela prolongada guerra que vivemos em Angola depois da Independência Nacional, a grave crise económica e social que hoje se vive em Portugal é igualmente da responsabilidade de jornalistas sem ética e das elites que os instrumentalizam. Todos juntos esconderam o que se estava a passar. Por isso não é de admirar que juízes de instrução façam dos jornalistas agentes provocadores ou que os órgãos de comunicação social se transformem em tribunais de última instância.
Não é de espantar que qualquer Primeiro-Ministro anuncie medidas para a saída do país da crise e no minuto seguinte lhe caia em cima um exército de jornalistas, comentadores e analistas, em canais sustentados com dinheiro dos contribuintes portugueses e europeus, com novos fatos e diferentes penteados, a rebentar com as medidas propostas, sem deixar pedra sobre pedra, e transmitindo para o exterior a ideia de que Portugal se tornou, tal como a Guiné-Bissau agora e Angola durante a guerra, num país ingovernável.
Enquanto não se libertar dos poderosos grupos ilegítimos que o querem sufocar, o jornalismo português está condenado a ser uma arma de arremesso contra a democracia. Mas não apenas
O império mediático de Murdoch, sabemos agora, foi construído em cima de crimes graves. Os impérios mediáticos portugueses não precisam de fazer escutas ilegais. Têm no Ministério Público e na Polícia Judiciária alguém a trabalhar para eles, numa aliança que torna sectores do jornalismo português armas contra os valores da democracia e as liberdades individuais. Desta vez usaram essa arma contra governantes angolanos, e foi apenas contra isso que este jornal se insurgiu.
Ninguém pode aceitar que os titulares da investigação e acção penal em Portugal alimentem a comunicação social com “notícias” destinadas unicamente a pôr em causa a honra e o bom-nome de cidadãos, sejam eles quem forem. Os governantes angolanos foram vítimas, novamente, dessa prática. E a violação do segredo de justiça foi confirmada exactamente por quem tinha o dever de impedi-la. Nós não aceitamos este comportamento, ditado pela inveja e a vingança.
As elites portuguesas estão muito mal informadas sobre Angola, e isso é culpa da sua imprensa. O Jornal de Angola deixou há muito de ser o único diário angolano. Há outros, inclusive gratuitos. Este jornal é independente e a opinião nele expressa é livre. Não estamos prisioneiros de redes mafiosas nem somos instrumentalizados por ninguém. O poder político legitimado pelo voto popular respeita a nossa independência. Convido até os senhores Luís Fazenda e Pacheco Pereira a virem a Luanda ver como se faz cada edição do Jornal de Angola. Até lhes dou o privilégio de elaborarem o plano de edição. Vão perceber que este é um espaço de liberdade como já poucos existem no mundo.
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