Mário Augusto
Jakobskind* - Direto da Redação
É muito justo
destinar 100% dos royalties do petróleo do pré-sal para a educação, como
anunciou o governo através do Ministro Aloizio Mercadante, confirmado pela
Presidenta Dilma Rousseff.
A área de saúde
poderia também ser contemplada, mas até agora nada foi dito nesse sentido.
Merece aplausos o
anúncio de Mercadante, mas antes é preciso conhecer o modelo de educação que o
governo federal quer para o país. Se for o esquema do Banco Mundial, que a
secretária de Educação do município do Rio, Claudia Costin, implanta por aqui,
os 100% serão destinados para um esquema de mercado.
Vale lembrar que o
Ministro da Educação recentemente tinha jogado um balão de ensaio convidando a
secretária Costin para o cargo de Secretária de Educação Básica da Pasta. Professores
de todo o Brasil se mobilizaram com abaixo assinado de repúdio. A nomeação não
saiu, mas só o fato de anunciar o convite à secretária municipal do Rio, a
mesma que serviu ao governo Fernando Henrique Cardoso como Ministra da
Administração, é sintomático.
Costin adora falar
em resultados, da mesma forma que os defensores da diminuição do Estado e do
modelo de gestão colocado em prática por FHC.
É necessário
aprofundar a questão para que os brasileiros não se deixem levar por projetos
que no fundo não servem ao país, como o modelo educacional propugnado pelo
Banco Mundial, voltado para o mercado e com índices de produtividade
semelhantes ao de uma empresa privada. Como se a educação fosse um negócio.
Como existe um
sindicalismo de resultados e que apoiou políticas econômicas neoliberais, é
necessário estar atento, porque o Banco Mundial propugna uma pedagogia também
de resultados. Aí cabe a pergunta: que resultados e para quem?
Por estas e muitas
outras, antes de destinar os 100% das verbas do petróleo do pré sal para a
educação, é necessário questionar o modelo que está sendo implantado não só no
Rio, como em São Paulo, onde o PSDB tem o controle do Estado desde a década de
80, e em outros municípios.
Os brasileiros não
podem aceitar um esquema educacional que tenha por objetivo apenas preparar mão
de obra para as empresas. Educação em países como o Brasil e demais na América
Latina tem de estar voltada para a cidadania, ou seja, a formação de cidadãos
críticos.
É tudo que o
esquema neoliberal abomina e por isso só aceita educar para satisfazer o
mercado. E também é necessário que o projeto de educação para a formação de
cidadãos esteja inserido em um projeto de nação. Até porque educação e
soberania estão interligados. É tudo o que o esquema neoliberal defendido com
unhas e dentes pelo PSDB abomina.
Não é à toa que na
edição de domingo de O Globo, economistas defensores do esquema neoliberal de
FHC, um deles Armínio Fraga, defenderam com unhas e dentes o modelo do PSDB e
de quebra alertaram para a importância da educação. Eles querem que a educação
se destine à formação de mão de obra, de preferência barata, para empresas,
jamais uma educação voltada para a cidadania.
No mais, a
Prefeitura de Petrópolis neste final de 2012 anunciou a desapropriação da “casa
da morte”, no bairro de Caxambu, onde as autoridades que mandavam no país na
época da ditadura matavam opositores do regime e alguns deles, conforme
denúncias do ex-policial Cláudio Guerra, acabaram no forno de uma usina de
açúcar no município de Campos.
O local deverá ser
transformado em um museu da memória, para que as novas gerações sejam
informadas sobre os acontecimentos em um período da história brasileira que
pouco a pouco está sendo conhecida.
E no Rio, o
governador Sérgio Cabral quer transformar o antigo prédio do DOPS, na rua da
Relação, um local de bares e lojas comerciais, junto com um Museu da Polícia.
Se a ideia vingar,
o povo brasileiro perderá a referência de um local histórico que deveria ter
como destino final a criação de um museu para preservação da memória. Na
prática, Cabral quer mesmo apagar um período da história brasileira, tenebroso,
diga-se de passagem, que não se pode esquecer, para que não se repita.
Que o Brasil tenha
um feliz 2013, mas com atenção, porque o conservadorismo, mesmo que disfarçado,
e que não tem voto tentará de todas as formas se fazer presente. E a história
brasileira mostra que quando isso acontece, todo cuidado é pouco.
*É correspondente
no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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