Altino Ferreira – Liberal (cv), opinião
Continuamos a ter
um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada
motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos
cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não
são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e
amigos desempregos
Continuamos a ter
um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada
motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos
cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não
são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e
amigos desempregos.
“Das pessoas que
atingem posições elevadas, cerimónias, riqueza, erudição, e similares: para mim
tudo isso a que chegam tais pessoas afunda diante delas - a não ser quando
acrescenta um resultado qualquer para seus corpos e almas – de modo que elas
muitas vezes me parecem desajeitadas e nuas, e para mim uma está sempre
zombando das outras e a zombar dele mesmo ou dela mesma, e o cerne da vida de
cada qual (a que se dá o nome de felicidade) está cheio de pútrido excremento
de larvas, e para mim muitas vezes esses homens e mulheres passam sem
testemunhar as verdades da vida e andam correndo atrás de coisas falsas, e para
mim são muitas vezes pessoas que pautam as suas vidas por um hábito que a elas
foi imposto, e nada mais, e para mim é gente triste muitas vezes, gente
afobada, estremunhados sonâmbulos tacteando no escuro”.- Walt Whitman, em
Leaves of Grass.
Ontem de madrugada
acordei num escuro absurdo e o ébrio provocado pelo sono fez-me pensar, por um
segundo, que estava cego. Bastou um segundo para chegar a razão e me aperceber
que era apenas mais um corte de energia provocado pela nossa doce e amada
Electra.
Quando perdemos as
eleições legislativa de 6 de fevereiro de 2011, prometi a mim mesmo que não
iria criticar nada que dissesse respeito à energia, na medida em que, mesmo
sendo esta o iceberg ou a parte mais visível da má governação a maioria decidiu
legitimá-la.
Este artigo não
será uma crítica à Electra e muito menos à política energética, até mesmo
porque, nunca acreditei que os problemas da empresa seriam resolvidos por
aqueles que por 10 anos apenas souberam agravar a situação. Também não tomarei
como base as produções estatísticas, mas antes as frustrações dos
cabo-verdianos.
Continuarei com a
minha promessa, mas não devemos deixar que esse desdém da parte do governo nos
asfixie e nos mate. O que me choca não é a incompetência, mas sim a falta de
respeito.
Continuamos a ter
um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada
motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos
cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não
são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e
amigos desempregos.
Ontem de madrugada
tateei feito um zombie procurando fósforo, mas a semelhança de muitos
cabo-verdianos que acrescentam todos os dias um ou mais resultados na alma,
voltei para a cama e dormi tranquilamente. Não sei se aqueles que aproveitam do
povo para atingirem posições de relevo, pessoas que diferente de mim e da
maioria têm energia 24 horas por dia, tiveram a mesma facilidade em dormir.
Walt Whitman
faleceu no ano de 1892, mas demonstra claramente que cada geração tem os seus
gananciosos. Escolhi iniciar este artigo precisamente com o poema de Walt
Whitman, porque espelha com exatidão a estirpe de pessoas que temos no governo.
Somos governados por aqueles que fazem de tudo para chegar ao poder (prometendo
13º mês, mais água, mais luz, mais emprego, etc.) para depois mostrarem
incapazes de realizar aquilo que prometeram e sem motivação para resolver os
problemas imediatos dos cabo-verdianos.
Este governo tem
deixado muito a desejar nos capítulos competência e caráter. Temos um governo
pouco competente, porque ser incapaz de cumprir as promessas de fácil resolução
é simplesmente incompetência. Não é um governo sério, porque tem insistido
sistematicamente em promessas impossíveis como o caricato 13º mês, prometida
numa altura de profunda crise interna. É também um governo sem o mínimo de
dignidade, por estar sempre a esconder a realidade aos cabo-verdianos e, porque
tem o hábito de se desculpabilizar de todas as trafulhices que comete.
O nosso
primeiro-ministro é um exemplo a não seguir. As suas declarações quase sempre
mostrando estar se esborrifando por aquilo que acontece aos cabo-verdianos,
mostrando muitas vezes até desprezo, têm me dado náuseas.
O problema de
energia continua a ser o iceberg da má governação. Não se avista uma solução
nesta legislatura. Falou-se até em estabilização quando todos sabemos que a situação
energética estável em Cabo-Verde significa ter mais tempo sem energia do que
com ela. Cabo Verde precisa resolver a questão energética, não melhorá-la ou
estabilizá-la.
Acredito que este
governo perdeu legitimidade mesmo antes da tomada de posse, mas como estamos
num Estado de Direito, devemos aguardar pelo tempo em que a mesma mão que amou,
apoiou, confiou, também castigue.
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