sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Cabo Verde: GOVERNANTES SONÂMBULOS TATEANDO NO ESCURO

 

Altino Ferreira – Liberal (cv), opinião
 
Continuamos a ter um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e amigos desempregos
 
Continuamos a ter um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e amigos desempregos.
 
“Das pessoas que atingem posições elevadas, cerimónias, riqueza, erudição, e similares: para mim tudo isso a que chegam tais pessoas afunda diante delas - a não ser quando acrescenta um resultado qualquer para seus corpos e almas – de modo que elas muitas vezes me parecem desajeitadas e nuas, e para mim uma está sempre zombando das outras e a zombar dele mesmo ou dela mesma, e o cerne da vida de cada qual (a que se dá o nome de felicidade) está cheio de pútrido excremento de larvas, e para mim muitas vezes esses homens e mulheres passam sem testemunhar as verdades da vida e andam correndo atrás de coisas falsas, e para mim são muitas vezes pessoas que pautam as suas vidas por um hábito que a elas foi imposto, e nada mais, e para mim é gente triste muitas vezes, gente afobada, estremunhados sonâmbulos tacteando no escuro”.- Walt Whitman, em Leaves of Grass.
 
Ontem de madrugada acordei num escuro absurdo e o ébrio provocado pelo sono fez-me pensar, por um segundo, que estava cego. Bastou um segundo para chegar a razão e me aperceber que era apenas mais um corte de energia provocado pela nossa doce e amada Electra.
 
Quando perdemos as eleições legislativa de 6 de fevereiro de 2011, prometi a mim mesmo que não iria criticar nada que dissesse respeito à energia, na medida em que, mesmo sendo esta o iceberg ou a parte mais visível da má governação a maioria decidiu legitimá-la.
Este artigo não será uma crítica à Electra e muito menos à política energética, até mesmo porque, nunca acreditei que os problemas da empresa seriam resolvidos por aqueles que por 10 anos apenas souberam agravar a situação. Também não tomarei como base as produções estatísticas, mas antes as frustrações dos cabo-verdianos.
 
Continuarei com a minha promessa, mas não devemos deixar que esse desdém da parte do governo nos asfixie e nos mate. O que me choca não é a incompetência, mas sim a falta de respeito.
 
Continuamos a ter um governo de festas e cerimónias, viajador, enganador, pouco ou nada motivador, numa altura em que a crise já se instalou no país e nas mesas dos cabo-verdianos. Os membros do governo certamente não estão a empobrecer, não são testemunhas da falta de energia e água e de certeza não têm familiares e amigos desempregos.
 
Ontem de madrugada tateei feito um zombie procurando fósforo, mas a semelhança de muitos cabo-verdianos que acrescentam todos os dias um ou mais resultados na alma, voltei para a cama e dormi tranquilamente. Não sei se aqueles que aproveitam do povo para atingirem posições de relevo, pessoas que diferente de mim e da maioria têm energia 24 horas por dia, tiveram a mesma facilidade em dormir.
 
Walt Whitman faleceu no ano de 1892, mas demonstra claramente que cada geração tem os seus gananciosos. Escolhi iniciar este artigo precisamente com o poema de Walt Whitman, porque espelha com exatidão a estirpe de pessoas que temos no governo. Somos governados por aqueles que fazem de tudo para chegar ao poder (prometendo 13º mês, mais água, mais luz, mais emprego, etc.) para depois mostrarem incapazes de realizar aquilo que prometeram e sem motivação para resolver os problemas imediatos dos cabo-verdianos.
 
Este governo tem deixado muito a desejar nos capítulos competência e caráter. Temos um governo pouco competente, porque ser incapaz de cumprir as promessas de fácil resolução é simplesmente incompetência. Não é um governo sério, porque tem insistido sistematicamente em promessas impossíveis como o caricato 13º mês, prometida numa altura de profunda crise interna. É também um governo sem o mínimo de dignidade, por estar sempre a esconder a realidade aos cabo-verdianos e, porque tem o hábito de se desculpabilizar de todas as trafulhices que comete.
 
O nosso primeiro-ministro é um exemplo a não seguir. As suas declarações quase sempre mostrando estar se esborrifando por aquilo que acontece aos cabo-verdianos, mostrando muitas vezes até desprezo, têm me dado náuseas.
 
O problema de energia continua a ser o iceberg da má governação. Não se avista uma solução nesta legislatura. Falou-se até em estabilização quando todos sabemos que a situação energética estável em Cabo-Verde significa ter mais tempo sem energia do que com ela. Cabo Verde precisa resolver a questão energética, não melhorá-la ou estabilizá-la.
 
Acredito que este governo perdeu legitimidade mesmo antes da tomada de posse, mas como estamos num Estado de Direito, devemos aguardar pelo tempo em que a mesma mão que amou, apoiou, confiou, também castigue.
 

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