Alberto Nunes –
Liberal, opinião em Colunistas
“Está instalada [em
Cabo Verde] a ideia e a prática de que o acesso a bens e a benefícios sociais
está baseado em relações de arbitrariedade em que alguém tem o poder de dar,
não dar, retirar, ameaçar, chantagear, premiar e penalizar. A coberto de total impunidade”.
José Ulisses Correia e Silva
Nos primeiros meses
do ano 2011, Cabo Verde foi invadido por alguns acontecimentos de realce que,
na óptica de alguns analistas e estudiosos, marcam início de uma nova página na
história do país. Destes acontecimentos, destacam-se: a terceira vitória
consecutiva do Dr. José Maria Neves e do seu partido nas legislativas do mês de
Fevereiro. Acontecimento, até então, inédito; a candidatura de Joaquim Jaime
Monteiro, “candidato do povo” nas últimas eleições presidenciais, que
(de)mostrou aos partidos políticos e à sociedade civil cabo-verdiana, que é
possível fazer campanha eleitoral sem esbanjamento, sem usar recursos públicos
e, sobretudo, sem ofensas, intrigas, rancor e ódio. Alguém poderá dizer:
“também não ganhou”. Deveras, não ganhou as eleições. Todavia, ganhou simpatia,
honra, como também, construiu uma boa imagem, deu lição de ética e moral na
política cabo-verdiana; a participação do Dr. Aristides Raimundo Lima nas
eleições presidenciais como “candidato da cidadania”, que pode ter sido
prejudicial para o seu partido, mas foi muito bom para Cabo Verde em vários
aspectos: esse candidato tinha/tem mais e melhor traquejo para o cargo
presidencial do que o outro escolhido pelo conselho nacional do partido; a sua
entrada na corrida presidencial, exercendo livremente a sua cidadania, pode ter
impedido, em certa medida, a eleição do Engenheiro Manuel Inocêncio Sousa - que
desenhava ser um prolongamento do governo - e, ao mesmo tempo, contribuiria
para a concentração do poder num só partido e numa só pessoa. Aristides Lima,
Cabo Verde lhe agradece pela sua coragem, atitude e determinação. Ele e a sua
equipa de campanha pisaram muito os conceitos da liberdade, ética, moral,
transparência, lealdade, equidade, cidadania... Com estes conceitos mostraram,
de certa forma, que dentro do partido esses valores não se aplicam no campo
prático; todavia, a vitória do Dr. Jorge Carlos Fonseca nas eleições de 07 e 21
de agosto é um outro acontecimento que marcou o ano de 2011. Sua eleição como
presidente da República de Cabo Verde deixou muitas pessoas boquiabertas. Pois,
apesar de ser um cidadão com traquejo e que reúne todas as condições para
ocupar, com dignidade, este tão alto cargo, muitos, de forma vergonhosa,
tentaram atropelar esta vitória: “jogos sujos” - corrupção, mentira, calúnia,
difamação, enfim, muitas outras práticas não abonatórias que todos sabemos que
são praticadas nas pré e nas campanhas eleitorais, práticas essas cujo
objectivo era levar ao mais alto poleiro nacional pessoa que, na verdade, não
apresentava as condições para lá estar. Todavia, desta vez, a verdade e a
competência falaram mais alto que todos os meios ilícitos usados. O povo de
Cabo Verde mostrou, com o seu voto, a sua maturidade política e democrática. O
povo cabo-verdiano está de parabéns.
Um outro
acontecimento importantíssimo foi a notícia de que o Dr. Eugénio Miranda Veiga
(presidente da Câmara Municipal de São Filipe) não vai se candidatar ao quinto
mandato no concelho de São Filipe.
A entrevista do Dr.
Felisberto Vieira é, na nossa opinião a entrevista de 2011. A entrevista foi
esclarecedora, confirmadora de todos os actos ilícitos denunciados ao longo
destes últimos anos por alguns homens de valores que ainda cultivam ética e
moral. Esses homens referidos aqui foram apelidados, durante esses anos todos,
pelos “ganhadores” de: contra, perdedores e sobretudo, frustrados. Pensamos e
estamos convencidos que nenhum cabo-verdiano tem mais a dúvida sobre compra de
votos, de viciação eleitoral, de perseguição, de uso de bens públicos na compra
e manipulação de consciência; nenhum cabo-verdiano ignora que nestes últimos
anos o cimento, verguinha, azulejos, moisaicos, sanitas e, nestas últimas
eleições, entrou um novo produto – o litão (porquinho) na compra e manipulação
de consciência. Nenhum cabo-verdiano ignora daqui, para frente, os autores
destes actos tão vergonhosos, desonestos e, sobretudo criminosos. Pensamos e
estamos convencidos de que não vale a pena gastar mais tempo e recursos para
provar que estes últimos anos têm sido marcados por este tipo de prática que
muito mexeu com a dignidade, honra, honestidade, valores, ética, moral, orgulho
do homem cabo-verdiano. Ninguém precisa usar argumentos, discursos ou poesias
para tentar escamotear esta realidade provada e comprovada. Trata-se de uma
realidade que, tristemente marca e mancha a nossa história recente.
Aqui na terra de
Pedro Monteiro Cardoso, Henrique Teixeira de Sousa e António Carreira, após o
anúncio feito pelo Dr. Eugénio Veiga de que o mesmo não irá se candidatar ao
quinto mandato houve uma proliferação de candidatos nas fileiras do partido que
ele representa nesta região. Segundo as informações que tivemos acesso Luís
Pires, Nuías Silva, Alindo Brandão, Filipe Pereira e Ernesto Silva são possíveis
candidatos a candidato dentro do partido. Do outro lado (MPD), ventila-se por
aí que Júlio Andrade (médico – oftalmologista) é o candidato indicado por este
partido. Tudo isso no nosso entender enriquece a democracia. Todavia, esperamos
que:
Todas as instituições
envolvidas no processo das futuras eleições trabalhem em conformidade com o que
está legislado e obedecem estritamente o critério legal, moral e ético
pré-estabelecido;
O povo venha ter a
liberdade de escolher o melhor. Que não apareça alguém que tente viciar os
resultados com meios ilícitos para pôr no poder o candidato que a maioria
rejeita;
O futuro presidente
eleito venha ser presidente de todos, mas de todos, na prática,
independentemente da ideologia político/partidária, religião, cor, origem…;
O futuro presidente
seja capaz de dialogar na verdade com a sociedade civil, com partidos
políticos, com outras instituições públicas e privadas e que evite sempre
interferir nas competências de outras instituições;
O futuro presidente
saiba interpretar a crítica e os críticos. Que entenda que a crítica visa,
entre outros objectivos, melhorar o que está mal e propor soluções justas para
todos os cidadãos. Que entenda que quem critica não é uma pessoa má ou é contra
quem quer que seja, mas sim que é um individuo activo que pense e age diferente
de quem está no poder e que para isso deve ser ouvido;
O futuro presidente
cumprimenta todos os munícipes independentemente de estar de acordo com seu
trabalho ou não;
O futuro presidente
não transforme praças na maquete original da cidade em lote para amigos e
correligionários políticos;
O futuro presidente
preserve o património histórico e respeite opinião contrária;
O futuro presidente
prima pelo diálogo e nunca pelo autoritarismo e totalitarismo;
O futuro presidente
faça de Paços do concelho um espaço onde todos se sintam tratados de igual para
igual assim como regem as leis da República;
O futuro presidente
faça concurso público para ocupação de cargos públicos, com critérios bem
definidos, júri capacitado e com publicação dos seleccionados…
OBS: Como se pode
ver o artigo foi escrito logo após as eleições legislativas e presidenciais de
2011
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