terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Cabo Verde: A VERDADE COMO ARMA DA LIBERDADE

 


Alberto Nunes – Liberal, opinião em Colunistas
 
“Está instalada [em Cabo Verde] a ideia e a prática de que o acesso a bens e a benefícios sociais está baseado em relações de arbitrariedade em que alguém tem o poder de dar, não dar, retirar, ameaçar, chantagear, premiar e penalizar. A coberto de total impunidade”. José Ulisses Correia e Silva
 
Nos primeiros meses do ano 2011, Cabo Verde foi invadido por alguns acontecimentos de realce que, na óptica de alguns analistas e estudiosos, marcam início de uma nova página na história do país. Destes acontecimentos, destacam-se: a terceira vitória consecutiva do Dr. José Maria Neves e do seu partido nas legislativas do mês de Fevereiro. Acontecimento, até então, inédito; a candidatura de Joaquim Jaime Monteiro, “candidato do povo” nas últimas eleições presidenciais, que (de)mostrou aos partidos políticos e à sociedade civil cabo-verdiana, que é possível fazer campanha eleitoral sem esbanjamento, sem usar recursos públicos e, sobretudo, sem ofensas, intrigas, rancor e ódio. Alguém poderá dizer: “também não ganhou”. Deveras, não ganhou as eleições. Todavia, ganhou simpatia, honra, como também, construiu uma boa imagem, deu lição de ética e moral na política cabo-verdiana; a participação do Dr. Aristides Raimundo Lima nas eleições presidenciais como “candidato da cidadania”, que pode ter sido prejudicial para o seu partido, mas foi muito bom para Cabo Verde em vários aspectos: esse candidato tinha/tem mais e melhor traquejo para o cargo presidencial do que o outro escolhido pelo conselho nacional do partido; a sua entrada na corrida presidencial, exercendo livremente a sua cidadania, pode ter impedido, em certa medida, a eleição do Engenheiro Manuel Inocêncio Sousa - que desenhava ser um prolongamento do governo - e, ao mesmo tempo, contribuiria para a concentração do poder num só partido e numa só pessoa. Aristides Lima, Cabo Verde lhe agradece pela sua coragem, atitude e determinação. Ele e a sua equipa de campanha pisaram muito os conceitos da liberdade, ética, moral, transparência, lealdade, equidade, cidadania... Com estes conceitos mostraram, de certa forma, que dentro do partido esses valores não se aplicam no campo prático; todavia, a vitória do Dr. Jorge Carlos Fonseca nas eleições de 07 e 21 de agosto é um outro acontecimento que marcou o ano de 2011. Sua eleição como presidente da República de Cabo Verde deixou muitas pessoas boquiabertas. Pois, apesar de ser um cidadão com traquejo e que reúne todas as condições para ocupar, com dignidade, este tão alto cargo, muitos, de forma vergonhosa, tentaram atropelar esta vitória: “jogos sujos” - corrupção, mentira, calúnia, difamação, enfim, muitas outras práticas não abonatórias que todos sabemos que são praticadas nas pré e nas campanhas eleitorais, práticas essas cujo objectivo era levar ao mais alto poleiro nacional pessoa que, na verdade, não apresentava as condições para lá estar. Todavia, desta vez, a verdade e a competência falaram mais alto que todos os meios ilícitos usados. O povo de Cabo Verde mostrou, com o seu voto, a sua maturidade política e democrática. O povo cabo-verdiano está de parabéns.
 
Um outro acontecimento importantíssimo foi a notícia de que o Dr. Eugénio Miranda Veiga (presidente da Câmara Municipal de São Filipe) não vai se candidatar ao quinto mandato no concelho de São Filipe.
 
A entrevista do Dr. Felisberto Vieira é, na nossa opinião a entrevista de 2011. A entrevista foi esclarecedora, confirmadora de todos os actos ilícitos denunciados ao longo destes últimos anos por alguns homens de valores que ainda cultivam ética e moral. Esses homens referidos aqui foram apelidados, durante esses anos todos, pelos “ganhadores” de: contra, perdedores e sobretudo, frustrados. Pensamos e estamos convencidos que nenhum cabo-verdiano tem mais a dúvida sobre compra de votos, de viciação eleitoral, de perseguição, de uso de bens públicos na compra e manipulação de consciência; nenhum cabo-verdiano ignora que nestes últimos anos o cimento, verguinha, azulejos, moisaicos, sanitas e, nestas últimas eleições, entrou um novo produto – o litão (porquinho) na compra e manipulação de consciência. Nenhum cabo-verdiano ignora daqui, para frente, os autores destes actos tão vergonhosos, desonestos e, sobretudo criminosos. Pensamos e estamos convencidos de que não vale a pena gastar mais tempo e recursos para provar que estes últimos anos têm sido marcados por este tipo de prática que muito mexeu com a dignidade, honra, honestidade, valores, ética, moral, orgulho do homem cabo-verdiano. Ninguém precisa usar argumentos, discursos ou poesias para tentar escamotear esta realidade provada e comprovada. Trata-se de uma realidade que, tristemente marca e mancha a nossa história recente.
 
Aqui na terra de Pedro Monteiro Cardoso, Henrique Teixeira de Sousa e António Carreira, após o anúncio feito pelo Dr. Eugénio Veiga de que o mesmo não irá se candidatar ao quinto mandato houve uma proliferação de candidatos nas fileiras do partido que ele representa nesta região. Segundo as informações que tivemos acesso Luís Pires, Nuías Silva, Alindo Brandão, Filipe Pereira e Ernesto Silva são possíveis candidatos a candidato dentro do partido. Do outro lado (MPD), ventila-se por aí que Júlio Andrade (médico – oftalmologista) é o candidato indicado por este partido. Tudo isso no nosso entender enriquece a democracia. Todavia, esperamos que:
 
Todas as instituições envolvidas no processo das futuras eleições trabalhem em conformidade com o que está legislado e obedecem estritamente o critério legal, moral e ético pré-estabelecido;
 
O povo venha ter a liberdade de escolher o melhor. Que não apareça alguém que tente viciar os resultados com meios ilícitos para pôr no poder o candidato que a maioria rejeita;
 
O futuro presidente eleito venha ser presidente de todos, mas de todos, na prática, independentemente da ideologia político/partidária, religião, cor, origem…;
 
O futuro presidente seja capaz de dialogar na verdade com a sociedade civil, com partidos políticos, com outras instituições públicas e privadas e que evite sempre interferir nas competências de outras instituições;
 
O futuro presidente saiba interpretar a crítica e os críticos. Que entenda que a crítica visa, entre outros objectivos, melhorar o que está mal e propor soluções justas para todos os cidadãos. Que entenda que quem critica não é uma pessoa má ou é contra quem quer que seja, mas sim que é um individuo activo que pense e age diferente de quem está no poder e que para isso deve ser ouvido;
 
O futuro presidente cumprimenta todos os munícipes independentemente de estar de acordo com seu trabalho ou não;
 
O futuro presidente não transforme praças na maquete original da cidade em lote para amigos e correligionários políticos;
 
O futuro presidente preserve o património histórico e respeite opinião contrária;
 
O futuro presidente prima pelo diálogo e nunca pelo autoritarismo e totalitarismo;
 
O futuro presidente faça de Paços do concelho um espaço onde todos se sintam tratados de igual para igual assim como regem as leis da República;
 
O futuro presidente faça concurso público para ocupação de cargos públicos, com critérios bem definidos, júri capacitado e com publicação dos seleccionados…
 
OBS: Como se pode ver o artigo foi escrito logo após as eleições legislativas e presidenciais de 2011
 

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