segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – IV

 
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Martinho Júnior, Luanda
 
OS ASPECTOS FÍSICOS (OROGRÁFICOS E HIDROGRÁFICOS) DE ANGOLA
 
Relativamente aos aspectos físico-ambientais, há questões básicas a avaliar, que se prendem com as características orográficas e hidrográficas do espaço nacional.
 
Sob o ponto de vista orográfico, animando um corte transversal do território seguindo a linha dos paralelos verifica-se:
 
- A oeste e ao longo de toda a costa atlântica, uma planície costeira com uma largura entre 20 a 200 km; a planície é mais larga entre Luanda e o Dondo, na fase terminal do curso do rio Quanza; torna-se mais estreita na Canjala (monte Ulombe);
 
- Imediatamente a leste da planície do litoral ocorre uma cadeia montanhosa em paralelo à costa, que vai desde a serra da Canda e de Mucaba, a norte, até à serra da Chela, a sul; essa cadeia alarga-se entre Monte Belo (Província de Benguela) e o Huambo, tendo como maior montanha junto do litoral e próximo da Canjala, a 50km em linha recta da praia, o monte Ulombe, com uma altitude acima dos 2.000m; é nessa região que existe a maior montanha de Angola, na área de Luimbale, o monte Moco (2.620m); a maior largura da cadeia montanhosa ocupa precisamente uma parte substancial a leste, no triângulo de maior ocupação populacional;
 
- Para leste dessa cadeia montanhosa e até à fronteira leste, um planalto que a oeste tem uma altitude média de 1.400m, que desce suavemente até aos 1.100m junto às fronteiras do leste; nesse planalto há cortes que chegam aos 900m de altitude, provocados pela erosão das correntes dos rios; no saliente do Cazombo há uma pequena cadeia montanhosa que rompe com o planalto, elevando-se a cerca de 1.400m de altitude;
 
- O triângulo ocidental, onde existe a maior densidade populacional e uma rede político-adminitrativa de malha mais apertada, tem por vezes um habitat disperso nas áreas montanhosas: isso deve-se ao facto de haver possibilidades de produção agrícola e pecuária sem ser necessário o regadio, uma vez que há precipitações elevadas de chuva.
 
As condições orográficas, influindo nas condições ambientais, no regime de chuvas e na qualidade dos solos, estão na base da atracção da população para as áreas rurais ao longo dos séculos.
 
Foi também nesse triângulo que ocorreram alguns dos maiores focos de resistência à penetração colonial a partir do litoral, entre eles os Dembos, a menos de 100km em linha recta a leste de Luanda; de salientar que a resistência dos Dembos perdurou até finais de 1919!
 
Sob o ponto de vista hidrográfico e tendo em conta os aspectos geográficos e orográficos, verifica-se:
 
- Que é na vasta região central do país (planalto do Bié) onde se verificam as nascentes dos principais rios, tanto os de curso independente que fluem para oeste, quanto os tributários de longo curso que fluem para todos os pontos cardeais e colaterais;
 
- Que desse modo se podem formular as cinco vertentes hidrográficas já antes referenciadas, que quase coincidem com os quatro triângulos que ocorrem no espaço do quadrado nacional (com a excepção de Cabinda).
 
- Que desse modo ainda se devem planificar as geo-estratégias ambientais, um dos fundamentos para a planificação geo estratégica integrada nos termos da economia real com base nos recursos.
 
Para a planificação ambiental é necessário uma revisão dos critérios de formação de Parques Nacionais, Reservas e Coutadas.
 
A planificação ambiental, tendo em conta a vitalidade que é a água e os fenómenos que a ela se prendem, deve no território continental obedecer ao seguinte critério:
 
- Parques, Reservas e Coutadas a criar na Região Central das Grandes Nascentes, protegendo os eco-sistemas e a biodiversidade que ocorrem em cada uma das nascentes dos rios principais (não há área de protecção e controlo algum nas nascentes dos rios principais); entre os rios principais cujas nascentes devem ser protegidas estão o Cuanza, o Cunene, o Cubango, o Cuando, o Lungué-Bungo, o Cassai e o Cuango; área fulcral A;
 
- Parques Nacionais, Reservas e Coutadas a distribuir ao longo do curso intermédio dos rios; existem algumas medidas de longa data nesta área, entre elas a Reserva Integral do Luando e o Parque Nacional de Cangandala, como exemplos; área periférica B;
 
- Parques Nacionais, Reservas e Coutadas a distribuir nos pontos terminais dos rios e território; existem iniciativas correntes em fase de implementação, como a Iniciativa Maiombe e os Parques Nacionais do Luengue-Mavinga e Luiana, ou ainda o Parque Nacional da Quiçama, entre outros exemplos; área de periferia C.
 
A questão que se coloca neste momento com toda a lógica, dez anos depois do início de ausência de tiros em todo o espaço nacional, é: como se está a assumir o controlo ambiental transfronteiriço, que envolve cursos de água essenciais para a vida (caso do sudeste angolano), quando não se controlam os ambientes nas grandes nascentes, raízes da água e fontes da vida?
 
Outra questão importante a não perder é que a planificação ambiental estimulará as medidas de protecção tirando partido dos recursos vitais no território continental (a água interior).
 
A planificação nesses termos será essencial para que o Ministério do Ambiente possa estimular as Universidades e os Institutos Superiores de Investigação, atraindo-os através de Protocolos e Acordos para a investigação multi disciplinar científica, para prover o conhecimento e a inteligência dos recursos em todo o espaço nacional seguindo os percursos hidrográficos desde as grandes nascentes (A), passando pelos percursos intermédios (B) e chegando por fim à grande periferia (C).
 
Esse esforço deverá englobar conhecimentos que existem desde o passado em Portugal, mas também atrair as escolas superiores latino-americanas, entre elas as de Cuba e Venezuela, levando em consideração os seus avanços em relação às questões de investigação ambiental, sobre a biodiversidade e sobre os estudos dos rios e de águas interiores.
 
Voltando ao triângulo oeste que comporta todos os principais rios independentes (que desembocam no Atlântico), o maior deles de curso inteiramente nacional, o Cuanza, rios que sofrem os efeitos do acidentado do terreno, entre as suas nascentes e a planície costeira, salientem-se as enormes potenciais hidroeléctricos e de irrigação.
 
Em muitos deles há corredeiras e gargantas rochosas, que possibilitam a construção de barragens hidroeléctricas; destaque-se a corredeira do Salto do Cavalo no Cuanza, um rio onde há a possibilidade de, no seu curso médio, se construírem sete barragens (daí a existência do Gabinete do Médio Kwanza); apenas duas estão construídas: a de Capanda (a mais recente) e a de Cambambe.
 
Além do Cuanza, outros rios oferecem essas possibilidades havendo barragens hidroeléctricas no Dande (Mabubas), Catumbela (Biópio) e Cunene (Gove e Matala).
 
Praticamente essa engenharia está no espaço do triângulo oeste do litoral, ou na sua periferia próxima, pelo que a implantação de pólos de desenvolvimento nesse espaço ficou muito mais atractiva, constituindo um incentivo à construção da identidade nacional (essa engenharia está muito longe das fronteiras).
 
A definição dos triângulos não pretende fundamentar conceitos estruturalistas, pelo contrário: eles devem ser estudados não só em função dos recursos existentes em cada um deles, mas no seu inter-relacionamento, de forma a melhor definir os programas e cronogramas de acção a curto, médio, longo e muito longo prazos, sem esquecer o que constituem áreas de ocupação e o que constituem áreas de intervenção.
 
Nesse aspecto é evidente que o triângulo ocidental beneficia do facto da sua base coincidir com a linha da costa atlântica, ou seja, que os recursos existentes se estendam para oeste, mar adentro, no sentido das 12 milhas das águas territoriais, das 24 milhas da zona contígua e das 200 milhas da zona económica exclusiva.
 
A compreensão das potencialidades deste triângulo passa pelo inventário científico dos seus recursos no mar como no continente e em ambos os casos a água é dos elementos fundamentais o elemento vital.
 
Esse é o triângulo que possibilita:
 
- Os mais amplos fundamentos para a inter-acção entre os ambientes geo-estratégicos e o homem, de forma a que não seja apenas garantida a maior ocupação e a maior densidade de implantação humana, mas as bases da educação para que seja garantida também a inteligência da sustentabilidade, que começando por ser uma prova científica, de nada valerá se ela não for transmitida a toda a sociedade, geração pós geração;
 
- Uma visão alargada das possibilidades de integração, tanto no que diz respeito ao todo do espaço nacional, como ao espaço SADC, ao espaço da região central do Continente, bem como ainda aos espaços do Golfo da Guiné e do Atlântico Sul;
 
- A já referida maior potencialidade de unidade e identidade nacional.
De facto, sendo a água a vida, em Angola ela é tão relevante ainda sob os pontos de vista físico-geográficos, que possibilita a planificação geo-estratégica integrada nos termos de luta contra o subdesenvolvimento e na edificação duma economia real com programação de desenvolvimento sustentável!
 
A consultar:
- Recursos hídricos de Angola devem ser explorados em benefício da comunidade – http://angolasempre.blog.com/2006/03/22/recursos-hidricos-de-angola-devem-ser-explorados-em-beneficio-da-comunidade/
- The Congo river basin – http://www.fao.org/docrep/W4347E/w4347e0n.htm
- Bacia do Zambeze – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Zambeze
- Rio Cuando – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Cuando
- Okavango basin – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Okavango_Basin
- Cuvelai river basin – Wikipedia – http://www.icp-confluence-sadc.org/riverbasin/93
- Rio Cunene – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Cunene
- Rio Cuanza, o elo entre o sul e o norte, entre o passado e o futuro (I) – http://psitasideo.blogspot.com/2008/12/rio-cuanza-o-elo-entre-o-sul-e-o-norte_9138.html
- Rio Cuanza, o elo entre o sul e o norte, entre o passado e o futuro (II) – http://psitasideo.blogspot.com/2008/12/rio-cuanza-o-elo-entre-o-sul-e-o-norte_6665.html
 
 

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