sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

INEQUIDADE E FOME PARA MILHÕES DE LATINO-AMERICANOS

 

Prensa Latina
 
Havana (Prensa Latina) O auge econômico e a capacidade de resistência demonstrada pela América Latina e o Caribe são insuficientes para reduzir significativamente os milhões de famintos da região, uma das consequências da inequidade na distribuição de suas riquezas.
 
Recentemente a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) informou que a fome afeta 868 milhões de pessoas no mundo, dos quais 49 milhões só na América Latina entre 2010 e 2012.

O ritmo ao qual estão reduzindo os indicadores de fome e pobreza é menor que o crescimento econômico da região, que atingiu seis porcento em 2010 e 4,3% em 2011. Para este ano está projetada uma expansão de 3,2%.

Mesmo assim a região conseguiu diminuir em 16 milhões o número de pessoas que sofrem de fome com respeito a 1990-1992, quando haviam 65 milhões de pessoas em tal situação,

A cifra atual de 49 milhões representa uma redução de apenas um milhão de famintos em relação ao triênio anterior, cujos efeitos se diluem pela má distribuição da riqueza, que traz como consequênia que 8,3% da população da região não ingere as calorías diárias necessárias para levar uma vida saudável.

A FAO assegurou, também, que nove dos 33 países da região contam com uma taxa de prevalência da fome inferior a cinco porcento, enquanto que em 16 países, a taxa é superior aos 10%.

Em seu relatório Panorama da Segurança Alimentária e Nutricional na América Latina e Caribe 2012, aparecem como as nações mais afetadas por esse flagelo o Haiti, com uma prevalência de 44,5%, Guatemala (30,4), Paraguai (25,5), Bolívia (24,1) e Nicarágua (20,1).

Enquanto que a Argentina, o Chile, Cuba, México, Uruguai e Venezuela conseguiram erradicar a fome.

Durante a apresentação do relatório, o oficial de Políticas do Escritório Regional da FAO, Adomiram Sánchez, assegurou que a região se aproxima da primeira Meta do Milênio, a de reduzir à metade, entre 1990 e 2015, o número de pessoas com insegurança alimentária.

O relatório indica também que entre 2004 e 2006 a quantidade de famintos na América Latina atingia 54 milhões de pessoas, e os registrados entre 2007 e 2009 chegaram a 50 milhões.

Tais cifras mostram que ainda que se mantenha uma tendência à diminuição das pessoas afetadas pela fome, é notório o ritmo lento devido à falta de acesso aos alimentos por parte de um setor importante da população, que não conta com renda suficiente.

Há que recordar que sobre este fenômeno incide o aumento da demanda de alimentos, a produção de biocombustíveis, que competem com a produção desses bens primários, e a mudança climática, motivos pelo quais ainda um de cada 10 latinos está em situação de extrema pobreza.

Para a Associação Latino-americana de Integração, o principal problema que a América Latina tem que enfrentar é a impossibilidade de acesso aos alimentos, por seus altos preços no mercado internacional.

Perante esse desafio, o assessor principal dessa organização, Álvaro Ramos, recomenda "criar políticas conjuntas, de caráter regional, e converter as estratégias nacionais em outras regionais".

Em tal sentido se destaca a acolhida e ampliação da iniciativa global Zero Hunger Challenge (Desafio Fome Zero), para acabar com esse mau e garantir que todas as pessoas tenham o suficiente para comer, respeitando os limites próprios do planeta Terra.

Cabe ao Brasil o mérito de ser a inspiração desse chamado da ONU, com sua estratégia Fome Zero, que conseguiu reduzir a subnutrição infantil e tirou milhões de pessoas da pobreza.

O gigante sul-americano demonstra o que é possível quando um Governo tem uma visão e um compromisso de fazer da luta contra a pobreza sua prioridade.

Fome Zero transformou as vidas de milhões de pessoas, reduziu espetacularmente os níveis de subnutrição infantil em quase dois terços, e contribuiu para tirar da pobreza 28 milhões de pessoas.

Com 49 iniciativas, dito programa vai desde a ajuda direta às famílias mais pobres (através do Bolsa Família) até diversas estratégias como a criação de reservatórios de água nas áreas semi-áridas do Brasil.

Também a criação de restaurantes populares, a educação e sensibilização sobre hábitos alimentícios saudáveis, a distribuição de suplementos vitamínicos e minerais e o apoio à agricultura familiar de subsistência facilitando o acesso ao microcrédito.

Por sua eficácia, versões do projeto brasileiro estão hoje presente na Guatemala, Honduras, Nicarágua, e outras nações latino-americanas, sobre a base de que o programa é responsável por cerca de 20% da queda na desigualdade do Brasil desde 2011.

Outro exemplo digno de ser imitado é o da Venezuela, onde 98% da população venezuelana pode comer três vezes ao dia graças ao amplo acesso aos produtos alimentícios, segundo dados do Ministério para a Alimentação.

Desde 1999, esse país conseguiu incrementar em 80% o acesso aos alimentos e em 74% aos produtos da cesta básica, somado ao crescimento exponencial da produção.

Tais avanços têm sido possível devido a todas as políticas públicas do Estado venezuelano, como a ampliação das redes de distribuição: Mercados de Alimentos (Mercal), Produtora e Distribuidora de Alimentos S.A. (Pdval) e os Abastos Bicentenario, assim como o programa de alimentação escolar.

Outro esforço digno de reconhecimento é o realizado por Cuba, que como parte das estratégias para conseguir a soberania alimentária, desenvolve um processo de entrega de terras para a produção de alimentos.

Ao valorizar tais ações, a FAO considera que, enquanto em pleno século XXI se discute sobre como solucionar a pobreza extrema, a subnutrição e a desnutrición; Cuba já venceu esses males.

Em tal sentido destaca que há muito tempo, entre os 33 países da região, essa ilha caribenha erradicou a subnutrição, com indicadores impressionantes, já que o problema foi tratado e priorizado apesar do bloqueio econômico, comercial e financeiro decretado pelos Estados Unidos desde há mais de meio século.

Tais exemplos demonstram que ainda em tempos de crise e com vontade política, problemas como a fome podem ser reduzidos a limites extremos para salvar, pelo menos uma parte da humanidade, da morte por falta de alimentos.

*Chefa da redação de Economia da Prensa Latina.
 

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