terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Portugal - Cortes nas reformas: CAVACO SILVA PERDE 5 MIL EUROS EM 2013

 
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Sandra Almeida Simões e Ana Suspiro – Jornal i
 
Simulações de fiscalistas calculam um recuo no rendimento líquido do chefe de Estado de 69 mil euros este ano para 64 mil euros em 2013
 
O alargamento da contribuição extraordinária de solidariedade aos fundos de pensões privados afecta o Presidente da República. O chefe de Estado, que segundo as notícias recentes terá dúvidas sobre as taxas e impostos que recaem sobre as pensões, vai ser penalizado em cerca de cinco mil euros em 2013.
Cavaco Si
lva recebe duas pensões: uma por ter sido professor universitário no valor de 1300 euros brutos mensais e a outra do Banco de Portugal no montante de 8700 euros. Em 2011, Cavaco abdicou do seu salário enquanto presidente, optando por receber as suas reformas. No final deste ano, o seu rendimento líquido deverá ultrapassar ligeiramente os 69 mil euros, enquanto no próximo ano deverá fixar-se em cerca de 64 300 euros, já depois de aplicadas todas as penalizações e impostos previstos para 2013. De acordo com as simulações realizadas por fiscalistas para o i, Cavaco Silva deverá perder mais de 4700 euros no próximo ano. A carga fiscal em 2013 rondará os 36 mil euros, enquanto este ano ficará abaixo de 29 mil euros.
 
Todas as pensões acima dos 5000 euros vão pagar mais, entre impostos e contribuição extraordinária, do que os rendimentos de trabalho de valor correspondente. A medida pode ser inconstitcional, sobretudo se não tiver carácter temporário. O maior golpe nos rendimentos é dado nos reformados que recebem de fundos de pensões e outras prestações equiparadas financiadas pelos próprio em regimes privados e que até agora estavam isentos da contribuição extraordinária de solidariedade. Esta taxa já se aplica às pensões mais altas do regime geral e da Caixa Geral de Aposentações (CGA) e a sua receita serve para financiar estes dois organismos.
 
A alteração proposta pela maioria ao Orçamento do 2013 estende a contribuição extraordinária aos beneficiários de fundos de pensões, apanhando os rendimentos mais altos em Portugal, recebidos a título de reforma. Nesta situação estão o Presidente da República e outros pensionistas famosos do Banco de Portugal, já que o artigo 78 refere entidades de supervisão, mas também banqueiros, altos quadros da banca e reformados de grandes empresas que asseguram complementos de reforma aos seus quadros.
 
Estes pensionistas estavam de fora porque não eram pagos pela Segurança Social, nem pela CGA, mas sim por fundos geridos por entidades privadas para os quais contribuiram na sua totalidade. O regime que entra em vigor agora, e cuja constitucionalidade levanta muitas reservas, vai retirar uma fatia substancial, que acima dos cerca de 7550 euros mensais chega a 40% destas reformas. A receita serve para financiar a CGA, entidade que paga as pensões do Estado.
 
A contribuição extraordinária para a Segurança Social vai apanhar muito mais reformados em 2013 porque começa ser cobrada a partir dos 1350 euros. Inicialmente penalizava pensões acima dos cinco mil euros. Os PPR do Estado ficam abrangidos e os PPR individuais deverão pagar a contribuição na fatia que corresponde aos juros.
 
Quem recebe mais do que pagou “Descontaram para ter reformas, mas não aquelas reformas”. Multiplicaram-se ontem as críticas à afirmação proferida por Passos Coelho no domingo. “Uma canelada” a Cavaco Silva nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro-ministro defende que os reformados com pensões mais elevadas devem ter um “contributo maior”, o que na sua opinião não viola a Constituição da República. O argumento de Passos para justificar a constitucionalidade dos cortes nas reforma é o de que há pensionistas, sobretudo no regime público, que recebem mais do que contribuiram.
 
Será o caso de quem se reformou até 2007, já que a sua pensão foi calculada a partir da média dos dez melhores anos de salário dos últimos quinze, que é quando se atinge o topo da carreira no Estado. Com a reforma de Vieira da Silva, em 2007, a pensão passa a reflectir a média de toda a carreira contributiva, mas esta alteração tem um período de transição longo, pelo que quanto mais tarde uma pessoa se reforma menos receberá.
 
Cavaco deverá estar munido de pareceres que poderão ter um entendimento contrário sobre a constitucionalidade destas medidas. De tal forma que o chefe de Estado pretende enviar o OE 2013 para o fiscalização sucessiva no Tribunal Constitucional.
 
Ontem, Cavaco Silva rejeitou comentar as declarações de Passos Coelho em relação às pensões, recusando também comentar a sua própria reforma. “Eu já uma vez, ou mais, tentei corrigir a informação que os srs. [jornalistas] publicaram”, sem sucesso. “Decidi nunca mais me pronunciar sobre o assunto”, acrescentou.
 

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