domingo, 16 de dezembro de 2012

PORTUGAL ESTÁ A REGRESSAR AO PAÍS DOS COITADINHOS GRAÇAS A PASSOS E CAVACO

 

António Veríssimo
 
Por mais que queiramos considerar de enaltecer as palavras de dirigentes de instituições que se propõem aliviar a fome e as necessidades básicas dos portugueses não devemos permitir que esta prática traga o regresso a Portugal do país dos coitadinhos que levam para as luzes da ribalta “bondosas criaturas” do mesmo jaez da maioral do Banco Alimentar, Isabel Jonet, que se promovem à custa da miséria dos outros, exatamente provocada por políticos e outros que perseguem a senda de sociedades injustas, desumanas, deficitárias de democracia.
 
Algumas vezes, se não muitas vezes, são estas “bondosas criaturas” que afinal anseiam, exultam e experimentam o climax a praticar a caridadezinha e alimentando as sociedades injustas de que precisam para se sentirem enormes na sua pequenês. É evidente que estas considerações, este modo de pensar e de sentir, não deve nem quer incluir todos que atuam nos meandros de tais atividades, mas que existem demasiada gente em busca de um lugar ao sol a par da Supico Pinto salazarenta do Movimento Nacional Feminino disso não duvidemos. A senhora Jonet, por exemplo, revela isso mesmo nas suas verborreias. A estratégia de Passos-Gaspar de empobrecer os pobres e remediados deste país caiu às mil-maravilhas no alimento do seu ego. Assim se entende.
 
Portugal regressou ao país dos coitadinhos, dos pobrezinhos, dos sem-eira nem-beira e a máquina emperrada da caridadezinha ali estava à espera para se pôr a funcionar, bem oleada que vinha sendo ao longo destes anos de maior desafogo e decência proporcionados pela sociedade justa que se preconizava na sequência do 25 de Abril de 1974. Deixaram os portugueses que assim acontecesse, para mal deles próprios e dos seus filhos e netos. Todos à uma, os caridosos – com aspas e sem aspas - saltam sobre os coitadinhos e sossegam-nos garantindo-lhes que não vão passar fome porque podem sempre recorrer aos serviços caritativos das suas organizações. Decerto que eles falam da fome de comer, não da fome de trato condigno, cidadão, republicano e justo que já hoje em dia ataca cerca de três milhões de portugueses. Mas sobre isso sabem lá eles. O que sabem é fazer de Supicos Pintos a olhar para Passos e Cavaco com vislumbres salazaristas.
 
Temos assim que sobre a dignidade humana milhões de portugueses vêem-na atirada para a sarjeta. A começar pelos que têm sido e agora são governo, passando por um presidente da República que se acomoda pelos cantos escuros da cobardia política e de objetivos esconsos. A fome dos portugueses não é só resultado de lhes faltar a comida mas principalmente por existirem miriades de políticos, de banqueiros e de empresários sem escrúpulos que através de conluios, nepotismos e corrupções se têm apropriado e desbaratado o que pertence a um povo inteiro, a um país que se aproxima do milénio de existência com a perspetiva negra do seu futuro.
 
Mesmo que a existência de alguns destes pelotões ou exércitos assistencialistas não tenham por objetivo implantar novamente a república dos coitadinhos, da miséria e das carências – relegando a dignidade, a justiça e a democracia para as calendas gregas – é mais que certo que importa aos portugueses estarem atentos e atuantes, sabendo exigir a Justiça que falha, que ao longo de todos estes anos de inúmeros escândalos e autênticos roubos tem sistemáticamente falhado, previligiando uma súcia de envoltos em interesses mafiosos que delapidam o que aos portugueses pertence sem sombra de dúvida. Isso e o desrespeito e violação constante da Constituição são causas das fomes que existem. Várias fomes e não só aquela que se relaciona com as refeições que as caridadezinhas distribuem como se de dar milho aos pombos se trate. Espezinhando a dignidade e cidadania de milhões nas chamadas e amadas Cantinas Sociais do ministro Mota Soares ou noutras instituições que caridosamente ou solidariamente – com aspas e sem aspas – trocam um prato de lentilhas pela consentaneidade do regresso à miséria, à exploração selvagem, salazarista, num Portugal dos coitadinhos que estão e refundar. Esta, afinal, será a tal refundação tão falada por Passos Coelho e seu séquito de “criaturas caridosas”. A dignidade impõe que não se aceitem pratos de lentilhas por sua troca. A dignidade impõe que os direitos dos portugueses sejam repostos: o direito ao trabalho e justa remuneração, o direito à habitação, à saúde, à educação. Que regresse a democracia e que a justiça seja feita sobre os que ao longo de todos estes anos têm enriquecido inexplicavel e imoralmente. Tenham eles casas na Aldeia da Coelha, no BPN ou noutros lugares e circunstâncias. Se existem suspeitas que se indague e que os interessados expliquem transparentemente e sem lugar a dúvidas como o conseguiram. Que a Justiça seja Justiça e não um carrocel de diversão das máfias, dos grupos de interesses, dos lobies ou de quem quer que seja prejudicial ao interesse geral e comum dos portugueses.
 
A maior fome que os portugueses têm é que Portugal não regresse ao cenário de país dos coitadinhos. E essa só se combate exigindo respeito pela dignidade, direitos, liberdades, garantias e deveres dos cidadãos da República.
 
Sabendo-se da possibilidade de que nem a todos aqueles que se dispõem a ser solidários com seus semelhantes serve a carapuça deixemos aqui essa ressalva.
 
Saliente-se ainda que nos textos que se seguem, extraídos de publicações devidamente identificadas, nada é referido quanto aos que optam por apesar de estarem na miséria e a ter uma vivência com fome de alimentos não recorrem às Cantinas Sociais do tenebroso e caridoso ministro Mota Soares nem a outras instituições ditas de caridade ou de solidariedade. Não o fazem não só por vergonha mas principalmente por não quererem violar ou permitir que violem a sua dignidade, preferindo morrer de pé como as árvores. E a esses, de que serve as caridadezinhas apregoadas? Mas a justiça, os direitos constitucionais e humanos, a democracia serviria. Urge repor tais direitos, de modo a eliminar as fomes, incluindo a fome do direito à dignidade. (Redação PG-AV)
 
Estão a ser tomadas providências para que "ninguém passe fome" em 2013
 
 
O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse este domingo que 2013 deverá ser um ano "muito difícil" e que estão a ser tomadas providências para que "ninguém passe fome".
 
"É evidente que não podemos garantir que não haja situações muito difíceis, mas acredito que haja condições para ultrapassar as situações difíceis", disse à agência Lusa o padre Lino Maia.
 
As palavras do presidente da CNIS surgem após o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, ter alertado sábado, numa manifestação diante da Presidência da República, que "irá haver fome" com a eventual promulgação do Orçamento do Estado para 2013, o que levou hoje Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, a dizer que enquanto existirem misericórdias não há razão para haver fome em Portugal.
 
Em declarações à Lusa, o padre Lino Maia admitiu que no interior do país, por estar "mais desertificado", é "mais difícil o acesso e o acompanhamento das famílias e das pessoas carenciadas, mas que estão a ser tomadas medidas para que haja uma melhor distribuição das cantinas sociais de forma a fornecerem uma ou duas refeições por dia a quem precisa.
 
"Não estou eufórico, mas confiante que conseguiremos de facto responder aos desafios", afirmou o responsável da CNIS, que disse haver também condições para assegurar que nas escolas haja refeições para as crianças e jovens que tenham mais dificuldades sociais e económicas.
 
Quanto ao isolamento dos idosos, o padre Lino Maia mostrou-se preocupado, apelando às Conferências Vicentinas, à CARITAS e às instituições de solidariedade que procurem acudir a todas as situações, para que não haja "nenhum idoso abandonado ou esquecido em casa".
 
O presidente da CNIS observou que a "situação extremamente difícil" que o país atravessa deve gerar e motivar o envolvimento de toda a comunidade para que, com um "olhar de proximidade" e solidariedade, se possa minorar as dificuldades.
 
"Peço especial atenção para os idosos que merecem de todos um grande carinho, gratidão e um gesto de solidariedade", concluiu.
 
Presidente das Misericórdias: "Enquanto houver misericórdias não há razão para haver fome em Portugal"
 
Jornal i – Lusa
 
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, disse hoje que enquanto existirem misericórdias não há razão para haver fome em Portugal, criticando o "calor da luta política" que se tem gerado sobre o assunto.
 
"Quem quiser e estiver em condições e precisar (...) pode ir a uma misericórdia de Portugal e a muitas IPSS [instituições particulares de solidariedade social] onde de certeza terão o que comer", declarou Manuel Lemos à agência Lusa.
 
O responsável admite que possa haver casos de fome em Portugal mas atribui-os ao facto das pessoas não se dirigirem às instituições para receberem apoio e alimentos.
 
"É preciso dizer às pessoas: «vão buscar os alimentos! vão buscar a comida!»", sublinha.
 
Manuel Lemos diz também entender que o assunto tenha destaque pelo "calor da luta política", referindo-se por exemplo a declarações de sábado do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
 
Segundo o sindicalista, em discurso proferido em Lisboa, o Orçamento do Estado (OE) para 2013 irá "trazer mais fome a Portugal".
 
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas lembrou hoje também o estudo recente sobre desperdícios alimentares: em declarações no começo do mês à Lusa, Lemos referiu que os dados conhecidos, que indicam que Portugal perde um milhão de toneladas de alimentos por ano, revelam "problemas culturais" antigos.
 

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