domingo, 2 de dezembro de 2012

Portugal: TÃO IGUAIS

 


João Marcelino – Diário de Notícias, opinião
 
1 Os números conhecidos sobre o desempenho da economia portuguesa não param de trazer más notícias. O Governo de Pedro Passos Coelho, neste momento, um ano e meio depois, está como o de José Sócrates no final da corrida: já só pode contar com os crentes, os que acreditam que no final deste caminho de sofrimento social estará a redenção de uma economia por fim a crescer e a gerar os empregos que hoje se extinguem a uma cadência alucinante.
 
Há muitas coisas em comum nos dois governos.
 
A primeira é que os dois têm, tiveram, bons ministros, pessoas empenhadas em mudar as suas áreas, em reformar, como é agora o caso de Paula Teixeira da Cruz, na Justiça, por exemplo. Mas a característica principal é que ambos os primeiros-ministros estabeleceram com os eleitores um contrato social que depois rasgaram. Pode dizer-se que Sócrates o fez com premeditação eleitoral, admitir-se em defesa de Passos Coelho que "apenas" foi assaltado pela falta de preparação, ou para o cargo ou para as condições que iria defrontar. Pode dizer-se muita coisa, mas o resultado é só um: fizeram promessas que não cumpriram. O cidadão dirá que mentiram - e é verdade.
 
2 Quando se mente ou se ganha as eleições com contratos que se revelam falsos, o Governo pode continuar em funções, o que formalmente é legítimo, mas perde a capacidade para levar a cabo grandes mudanças sociais.
 
O que está em causa no folhetim da "refundação do Estado", já se percebeu, nada mais é do que uma necessidade premente de cortar quatro mil milhões de euros a curto prazo. Podia ser uma reforma ideológica, no que o Governo até seria coerente, assim a Constituição o permitisse. Mas, infelizmente, é apenas mais um corte, com mais ou menos critério, a que só uma oposição ingénua se poderia associar.
 
3 Mexer no Estado social com profundidade, adequando-o às novas possibilidades do País, teria necessariamente de merecer um grande compromisso nacional que um governo tranquilo, mesmo de direita, poderia liderar se o convocasse com tempo e sem estar pressionado, como está, no imediato. O PCP e o Bloco diriam que não, mas o PS teria de se disponibilizar para essa discussão, em que entraria já de livre vontade ou um dia terá necessariamente de a liderar - e aí já sem álibis. O dinheiro não dá. Ponto.
 
O problema está em que Pedro Passos Coelho não deu qualquer espaço à oposição. Antes pelo contrário, forneceu-lhe toda a argumentação para se colar na posição que foi dele um dia perante Sócrates: "O governo que faça."
 
Parece que é neste círculo desgraçado que estamos condenados a sobreviver nos próximos anos enquanto se cava mais e mais o descrédito do regime. Quando a cegueira se junta ao logro eleitoral, só resta mesmo acreditar em algum milagre.
 
O Orçamento do Estado, toda a gente o sabe, não dará certo em 2013. O quadro macroeconómico é uma ilusão. A recessão vai situar-se, obviamente, acima do 1% do PIB. Virão mais cortes no rendimento do trabalho, mais desemprego, o caldo social vai agravar-se e os objetivos de redução do défice não serão alcançados. Até quando Passos Coelho resistirá na imitação do mais estafado dos defeitos políticos do se antecessor, a teimosia?
 

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