Patrícia Viegas -
Diário de Notícias, com foto
O ex-presidente e
ex-primeiro-ministro português Mário Soares diz que o primeiro-ministro
espanhol, Mariano Rajoy, apesar de pertencer à mesma família política do que o
seu homólogo português, Pedro Passos Coelho, está a fazer muito bem em resistir
a um resgate da 'troika' (FMI, BCE e Comissão Europeia) e que por isso o
felicita.
Numa entrevista
hoje publicada pelo jornal galego 'El Correo Gallego', Soares diz que Passos e
Rajoy não estão em sintonia "porque enquanto Rajoy apostou em resistir
firmemente ao resgate, Passos está submetido à Alemanha e é o melhor aluno da
senhora Merkel". O ex-chefe do Estado português, que no próximo dia 7 de
dezembro celebrará 88 anos de idade, afirma à jornalista Begoña Íñiguez:
"Acredito que Rajoy deu o exemplo, apesar de ter muitos problemas, não
aceitando a 'troika' e tentando ganhar tempo para resolver a situação. Nesse
aspeto, está a fazer muito bem. Caso contrário, a Espanha converter-se-ia numa
espécie de protetorado e estaria pior".
Admitindo não saber
até que ponto os portugueses vão aguentar tanta austeridade por causa da
'troika', Soares renova nesta entrevista as suas críticas ao atual Governo
português. "O primeiro-ministro, Passos Coelho, e o seu ministro das
Finanças, Vítor Gaspar, não percebem nada do que se está a passar em Portugal e
no mundo. Só têm olhos para a austeridade de Merkel. Estão cegos, não veem que
Portugal está numa situação complicadíssima, A cada exame da 'troika' sobre
Portugal, e já lá vão seis, ficamos mais vulneráveis. 2013 vai ser pior do que
2012 e 2011. Não se vê nenhuma melhoria. Se em 2014 continuarem a governar
estaremos ainda pior", declarou, dizendo que a única solução para Portugal
é "mudar de Governo e mudar de política".
Soares dá o exemplo
da Argentina e do Brasil, como países que saíram da crise. O político
socialista, primeiro subscritor de uma carta que 78 personalidades portuguesas
enviaram ao Presidente Cavaco Silva a pedir a demissão de Passos Coelho, elogia
nesta entrevista o discurso que fez a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, na
última Cimeira Ibero-Americana, em Cádis, Espanha, a explicar que a austeridade
não leva a lado nenhum e que o caminho certo é o do crescimento da economia.
"O primeiro-ministro Passos Coelho e o Presidente Cavaco Silva estavam ali
e nenhum disse nada porque sabem que estão a fazer o contrário", constata
Soares.
Soares diz que não
pretende tirar culpas pela crise aos europeus, admitindo que todos são
responsáveis. Mas destaca o nome da chanceler alemã, Angela Merkel, a qual, em
seu entender, aproveitou a austeridade "para se transformar numa espécie
de presidente da Europa". O ex-presidente avisa que a crise acabará por
chegar, mais tarde ou mais cedo, também à Alemanha e afirma: "Fazia falta
era ter uma 'troika' na Alemanha".
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