domingo, 9 de dezembro de 2012

“SHARING ECONOMY”: DIVIDIR EM VEZ DE CONSUMIR

 

 
A prática já é adotada por agricultores, turistas e motoristas: compartilhar máquinas, casas ou carros é uma boa opção quando eles não são utilizados toda hora. Uma tendência que traz economia e ajuda o meio ambiente.
 
"A gente tinha até vista para o mar", lembra Thomas Kohlmann com prazer. O jornalista que trabalha para a Deutsche Welle já trocou diversas vezes seu apartamento em Colônia por um no exterior. Por exemplo: quatro semanas no sul da Itália numa casa particular autêntica, em vez de um impessoal quarto de hotel.
 
E tudo isso por parcos 140 euros de anuidade pelo site Homelink.de, uma bolsa comercial de intercâmbio de casas. A família Kohlmann já esteve também na Califórnia e na França, através do mesmo site. "E nossos hóspedes também sempre se sentiram bem na nossa casa."
 
Já Britta Majer e seu marido compartilham um carro com uma amiga. "É simplesmente fantástico", comenta. Ela ainda está inscrita na rede comercial de car-sharing Cambio, mas "isso só vale a pena para viagens breves, dentro da cidade, senão fica caro demais".
 
De resto, a amiga usa o carro durante a semana, e Britta nos fins de semana. "Especialmente numa cidade como Colônia, onde é muito difícil achar estacionamento, esse compartilhamento é bom para os dois lados", conta a consultora de marketing online.
 
Mais utilidade para a furadeira
 
Thomas Kohlmann e Britta Majer não são casos isolados. A tendência de compartilhar bens está em alta. "Entre empresas isso fica ainda mais interessante", diz Michael Kuhndt, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Consumo (CSCP, na sigla original), sediado em Wuppertal. "Os empresários dizem: temos um equipamento parado na fábrica ou até mesmo toda uma unidade que não usamos permanentemente. Por que não dividir com outros e reduzir desta forma os custos?", relata Kuhndt.
 
Comprar uma ceifeira-debulhadora, também conhecida como colheitadeira, pode estar acima das posses de um agricultor, mas quando diversas fazendas se unem, fica possível financiar a máquina de grande porte. Até porque, como no caso de outros equipamentos, a máquina fica a maior parte do tempo sem uso.
 
Segundo uma reportagem recente do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, em termos estatísticos, uma furadeira é usada apenas 13 minutos em toda sua vida útil. Então, quem precisa ter a sua própria guardada no porão? E também a maioria dos carros permanece parada na rua 23 horas por dia.
 
Internet facilita compartilhamento
 
Como tantas outras, a moda de compartilhamento veio dos EUA e da Austrália para a Europa. No momento, a Grécia é um dos países que mais adotam a prática, por causa das dificuldades econômicas.
 
Os jovens das grandes cidades, com pouco dinheiro e com necessidade de espaço para morar, são os que mais adotam os modelos de sharing. Segundo uma estimativa de Michael Kuhndt, há somente na Alemanha em torno de 200 empresas especializadas em serviços de trocas. O fenômeno só alcançou tais proporções graças à internet.
 
"Os custos para cada um diminuem", contabiliza o pesquisador Kuhndt. "Um aplicativo no smartphone ou na internet pode ajudar a descobrir se algum vizinho, com que você nunca conversou a respeito, não está oferecendo o carro para ser partilhado." As chances aumentam a cada ano: no início de 2011, havia 190 mil adeptos de car sharing registrados na Alemanha.
 
Nova concorrência para antigos setores da economia
 
A Old Economy, a economia clássica, não tem por que se abalar com a tendência. "Fica justamente interessante para eles, para conquistar grupos de renda mais baixa, que nunca alcançariam. Por exemplo: car sharing de um BMW entre a vizinhança. E as grandes empresas já estão mesmo fazendo isso", conta Kuhndt. E algum desses usuários podem melhorar de situação financeira e aí, quem sabe, comprar exatamente o modelo de carro compartilhado.
 
A Federação dos Hotéis da Alemanha (IHA, na sigla original), pelo contrário, registra que o setor de turismo está alarmado com a tendência de aluguel de apartamentos particulares. Embora alojamentos particulares com menos de nove camas não sejam incluídos nas estatísticas oficiais do país, com "87 milhões de pernoites por ano, eles representam um segmento do mercado do turismo na Alemanha que não deve ser subestimado".
 
O diretor do IHA, Markus Luthe, lembra que a troca de casas implica riscos para os inquilinos e locadores, ou para as duas partes envolvidas no negócio. "Na maioria das ofertas de pernoite não são respeitados os padrões vigentes de segurança e higiene. Muitas vezes faltam extintores de incêndio e saídas de emergência nos prédios." Além disso, não se sabe se os impostos cabíveis são corretamente pagos.
 
Tema na CeBIT 2013
 
Seja como for, a share economy será o principal tema da próxima feira de computadores CeBIT, a ser realizada em Hannover no próximo ano. A ideia é: o que já funciona com bens reais irá encontrar ainda menor resistência no mundo virtual. "Para a economia e também para a sociedade em geral, a share economy é 'o' tema do momento. Blogs, wikis, colaboração, votações online e outras soluções de software irão transformar o universo do trabalho nos próximos anos de forma bem dinâmica", consta do site da organização da CeBIT.
 
Tobias Arns, da Bitkom, a associação alemã de empresas de TI, chama isso de crowd sourcing, ou seja, a retomada do saber coletivo. "A ideia subjacente é o que se chama de open innovation: processos de inovação que até agora se davam a portas fechadas tornam-se públicos logo no início do processo de criação do produto. O saber do público é consultado desde cedo, e ele pode participar do planejamento."
 
Em entrevista à Deutsche Welle, Arns cita a montadora Ford, que, em cooperação com um portal de crowd sourcing, convocou os usuários em potencial a participar do desenvolvimento de um interior mais apropriado aos idosos. "Aí cabe aos fabricantes decidir o que fazer com as informações."
 
O universo do compartilhamento e troca é imensamente rico, e ainda está em seus primórdios. Embora a prática não seja tão inédita assim: na Alemanha, as estantes para trocas de livros – em edifícios públicos como os hospitais – já existiam muito antes da invenção da internet.
 
Autor: Tobias Oelmaier (sv) - Revisão: Augusto Valente
 

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