A prática já é
adotada por agricultores, turistas e motoristas: compartilhar máquinas, casas
ou carros é uma boa opção quando eles não são utilizados toda hora. Uma
tendência que traz economia e ajuda o meio ambiente.
"A gente tinha
até vista para o mar", lembra Thomas Kohlmann com prazer. O jornalista que
trabalha para a Deutsche Welle já trocou diversas vezes seu apartamento em
Colônia por um no exterior. Por exemplo: quatro semanas no sul da Itália numa
casa particular autêntica, em vez de um impessoal quarto de hotel.
E tudo isso por
parcos 140 euros de anuidade pelo site Homelink.de, uma bolsa comercial de
intercâmbio de casas. A família Kohlmann já esteve também na Califórnia e na
França, através do mesmo site. "E nossos hóspedes também sempre se
sentiram bem na nossa casa."
Já Britta Majer e
seu marido compartilham um carro com uma amiga. "É simplesmente
fantástico", comenta. Ela ainda está inscrita na rede comercial de
car-sharing Cambio, mas "isso só vale a pena para viagens breves, dentro
da cidade, senão fica caro demais".
De resto, a amiga
usa o carro durante a semana, e Britta nos fins de semana. "Especialmente
numa cidade como Colônia, onde é muito difícil achar estacionamento, esse
compartilhamento é bom para os dois lados", conta a consultora de
marketing online.
Mais utilidade para
a furadeira
Thomas Kohlmann e
Britta Majer não são casos isolados. A tendência de compartilhar bens está em
alta. "Entre empresas isso fica ainda mais interessante", diz Michael
Kuhndt, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Consumo (CSCP, na sigla
original), sediado em Wuppertal. "Os empresários dizem: temos um
equipamento parado na fábrica ou até mesmo toda uma unidade que não usamos
permanentemente. Por que não dividir com outros e reduzir desta forma os
custos?", relata Kuhndt.
Comprar uma
ceifeira-debulhadora, também conhecida como colheitadeira, pode estar acima das
posses de um agricultor, mas quando diversas fazendas se unem, fica possível
financiar a máquina de grande porte. Até porque, como no caso de outros
equipamentos, a máquina fica a maior parte do tempo sem uso.
Segundo uma reportagem
recente do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, em termos estatísticos, uma
furadeira é usada apenas 13 minutos em toda sua vida útil. Então, quem precisa
ter a sua própria guardada no porão? E também a maioria dos carros permanece
parada na rua 23 horas por dia.
Internet facilita
compartilhamento
Como tantas outras,
a moda de compartilhamento veio dos EUA e da Austrália para a Europa. No
momento, a Grécia é um dos países que mais adotam a prática, por causa das
dificuldades econômicas.
Os jovens das
grandes cidades, com pouco dinheiro e com necessidade de espaço para morar, são
os que mais adotam os modelos de sharing. Segundo uma estimativa de Michael
Kuhndt, há somente na Alemanha em torno de 200 empresas especializadas em
serviços de trocas. O fenômeno só alcançou tais proporções graças à internet.
"Os custos
para cada um diminuem", contabiliza o pesquisador Kuhndt. "Um
aplicativo no smartphone ou na internet pode ajudar a descobrir se algum
vizinho, com que você nunca conversou a respeito, não está oferecendo o carro
para ser partilhado." As chances aumentam a cada ano: no início de 2011,
havia 190 mil adeptos de car sharing registrados na Alemanha.
Nova concorrência
para antigos setores da economia
A Old Economy, a
economia clássica, não tem por que se abalar com a tendência. "Fica
justamente interessante para eles, para conquistar grupos de renda mais baixa,
que nunca alcançariam. Por exemplo: car sharing de um BMW entre a vizinhança. E
as grandes empresas já estão mesmo fazendo isso", conta Kuhndt. E algum
desses usuários podem melhorar de situação financeira e aí, quem sabe, comprar
exatamente o modelo de carro compartilhado.
A Federação dos
Hotéis da Alemanha (IHA, na sigla original), pelo contrário, registra que o
setor de turismo está alarmado com a tendência de aluguel de apartamentos
particulares. Embora alojamentos particulares com menos de nove camas não sejam
incluídos nas estatísticas oficiais do país, com "87 milhões de pernoites
por ano, eles representam um segmento do mercado do turismo na Alemanha que não
deve ser subestimado".
O diretor do IHA,
Markus Luthe, lembra que a troca de casas implica riscos para os inquilinos e
locadores, ou para as duas partes envolvidas no negócio. "Na maioria das
ofertas de pernoite não são respeitados os padrões vigentes de segurança e
higiene. Muitas vezes faltam extintores de incêndio e saídas de emergência nos
prédios." Além disso, não se sabe se os impostos cabíveis são corretamente
pagos.
Tema na CeBIT 2013
Seja como for, a
share economy será o principal tema da próxima feira de computadores CeBIT, a
ser realizada em Hannover no próximo ano. A ideia é: o que já funciona com bens
reais irá encontrar ainda menor resistência no mundo virtual. "Para a
economia e também para a sociedade em geral, a share economy é 'o' tema do
momento. Blogs, wikis, colaboração, votações online e outras soluções de
software irão transformar o universo do trabalho nos próximos anos de forma bem
dinâmica", consta do site da organização da CeBIT.
Tobias Arns, da
Bitkom, a associação alemã de empresas de TI, chama isso de crowd sourcing, ou
seja, a retomada do saber coletivo. "A ideia subjacente é o que se chama
de open innovation: processos de inovação que até agora se davam a portas
fechadas tornam-se públicos logo no início do processo de criação do produto. O
saber do público é consultado desde cedo, e ele pode participar do
planejamento."
Em entrevista à
Deutsche Welle, Arns cita a montadora Ford, que, em cooperação com um portal de
crowd sourcing, convocou os usuários em potencial a participar do
desenvolvimento de um interior mais apropriado aos idosos. "Aí cabe aos
fabricantes decidir o que fazer com as informações."
O universo do
compartilhamento e troca é imensamente rico, e ainda está em seus primórdios.
Embora a prática não seja tão inédita assim: na Alemanha, as estantes para
trocas de livros – em edifícios públicos como os hospitais – já existiam muito
antes da invenção da internet.
Autor: Tobias
Oelmaier (sv) - Revisão: Augusto Valente
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