quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ECONOMIA PORTUGUESA VAI CONTRAIR O DOBRO DO PREVISTO POR GASPAR




Bruno Faria Lopes – Jornal i

Para o Banco de Portugal a recessão na zona euro travará as exportações. Banco parece não acreditar na “espiral recessiva”, mas não arrisca

A economia portuguesa poderá contrair 1,9% este ano, cerca do dobro da previsão em que o governo e a troika basearam o Orçamento do Estado para 2013, indicou ontem o Banco de Portugal, no boletim económico de Inverno. A contracção agora prevista, que custará cerca de 88 mil postos de trabalho ao longo do ano, é três décimas maior do que o divulgado há três meses pelo banco central – a revisão é justificada pelas novas previsões sobre o impacto da recessão europeia, para onde Portugal escoa cerca de três quartos das suas exportações (cujo ritmo de crescimento é revisto para 2%, menos de metade dos 5% anteriormente previstos).

O aprofundamento da recessão, divulgado logo no arranque do ano, coloca pressão adicional sobre o governo e a troika, que poderão rever as suas perspectivas já na sexta avaliação regular do programa, em Fevereiro. O banco central salienta que os riscos continuam a estar enviesados no sentido negativo, com 55% de probabilidade do resultado final do PIB no final do ano ser mais negativo do que 1,9%. O impacto da revisão em baixa incide numa rubrica com pouco impacto directo na consolidação orçamental – comparativamente, por exemplo, ao consumo privado –, mas ataca o único ponto que ampara a economia portuguesa em queda, minando mais o emprego e, indirectamente, a execução orçamental.

As más notícias não contam com o impacto de eventuais medidas adicionais de austeridade para corrigir os desvios que apareçam este ano (o plano B de 800 milhões de cortes na despesa previsto pelo governo e pela troika), facto que constitui um risco adicional para o cenário económico, a juntar ao imposto pela conjuntura externa.

Apesar das maiores dificuldades o Banco de Portugal parece não comprar o discurso de “espiral recessiva” ventilado pelo Presidente da República, Cavaco Silva. A instituição liderada por Carlos Costa considera que o impacto negativo do ajustamento é “inevitável” e que se está dentro do “antecipado” pelas autoridades portuguesas, ou seja, mesmo com revisões negativas sucessivas o plano não se desviou radicalmente.

O banco central aponta ainda para uma previsão de crescimento de 1,3% em 2014, salientando que o mais importante é a trajectória de recuperação da economia – a actividade deverá dar sinais de voltar à vida no último trimestre do ano, um pouco mais tarde do que o previsto pelo governo de Passos Coelho.

A previsão para 2014 tem, contudo, um enorme risco associado, salientado pelo próprio Banco de Portugal no boletim: não conta com o efeito das medidas de austeridade que o governo ainda não detalhou, mas que já deu como certas. Portugal terá que cortar cerca de 3,2 mil milhões de euros em despesa no próximo ano para cumprir o compromisso assumido com a troika. As regras do Eurosistema levam o Banco de Portugal a contar apenas com as medidas de política orçamental que conhece – a previsão de retoma em 2014 assume, por isso, que a política orçamental se mantém igual, um pressuposto que será revisto.

“Com as políticas de austeridade que se anunciam de forma geral, que terão um efeito muito significativo, prevemos uma estagnação total da economia”, aponta Paula Carvalho, do Banco BPI. A economista – que reviu o valor de 2013 para -2,2% e não ficou surpreendida com a revisão do Banco de Portugal – salienta a incerteza acumulada por um processo interno de ajustamento violento sem precedentes e pela correcção de vários pontos de crise a nível global.

Para o Banco de Portugal o ritmo em 2014 dependerá da conjugação destes dois efeitos – a austeridade adicional é uma certeza (e o efeito de cortes de despesa na economia foi revisto em alta recentemente pelo FMI), sendo que um comportamento melhor da conjuntura externa, que poderia compensar o impacto negativo na frente doméstica, permanece no domínio da incerteza. A instituição atribui uma probabilidade de 60% à concretização de um cenário pior para o PIB e, consequentemente, para o emprego.

Ao todo, entre 2009 e 2013 a economia portuguesa encolherá mais de 7%, com os gastos das famílias a recuarem 17% – recordes negativos que fazem o país recuar ao início da década passada. O reverso da medalha está no ajustamento recorde das contas externas: tal como previsto a meio do ano passado, em 2012 a economia portuguesa registou o primeiro excedente comercial em cerca de seis décadas (devido ao recuo das importações e ao esforço nas exportações, que já valem 42% do PIB), um resultado que deverá manter este ano e no próximo, segundo o Banco de Portugal. O défice externo, que há três anos estava perto dos dois dígitos, deverá praticamente desaparecer no final do programa da troika – subsistem dúvidas entre vários economistas sobre a sustentabilidade deste resultado.

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