Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
São eles que geram
a espiral recessiva que é a verdadeira peste negra dos dias de hoje
Costuma dizer-se
que os números não mentem, o que é porventura a maior das mentiras inventadas
desde que a economia deixou de ser contas de somar, subtrair, multiplicar e
dividir e passou a integrar um conjunto de factores e elementos tão estranhos
como abstractos para o comum dos mortais.
É por isso que
muitos “expertos” respondem com desdém quando são confrontados com questões
simples e objectivas, que logo classificam como contas de donas de casa.
O facto é que as
donas(os) de casa não se enganam porque não podem. Só não acertam quando falha
uma entrada de dinheiro que davam por adquirida, enquanto os “expertos”
fracassam em toda a linha porque os seus métodos quantitativos, as suas
variáveis estatísticas e os seus “benchmarks” (em português copianços) foram
transpostos para cenários imaginários.
É isso que está a
suceder com o governo e mais concretamente com Vítor Gaspar. Tirando os juros
da dívida externa nos mercados secundários, que têm vindo a descer, nada dá
certo.
O relatório de
Inverno do Banco de Portugal foi o mais recente entalão nas estimativas
governamentais. Onde Gaspar consentia uma recessão de 1%, o Banco de Portugal
atira com 1,9%, o que é praticamente o dobro.
É preciso, todavia,
considerar que esses números são meras projecções e que a recessão em 2012
ultrapassou os 3%, o que pode levar à afirmação de senso comum de que as coisas
não irão certamente melhorar e ambas as instituições estão erradas. Apostar
noutros 3% é capaz de dar dinheiro.
Agora que são já
mais ou menos conhecidos os valores astronómicos dos impostos entrados em vigor
com o Orçamento de 2013, é de considerar ainda mais fortemente a possibilidade
de nada bater certo.
Talvez nem mesmo as
expectativas em relação às exportações, que manifestamente não têm em conta a
retracção dos mercados que maioritariamente recebem os nossos produtos.
Todos os dias
assistimos de resto a elucubrações simplistas a respeito dos temas mais
diversos. A mais recente prende-se com a ideia peregrina de que o regime da
ADSE ou certas comparticipações do SNS dentro do sistema geral são excessivas e
deveriam ser reduzidas.
Muito bem.
Abstraindo do que seria a calamidade de todos irem a correr para os hospitais
públicos, dê-se de barato o raciocínio e aplique-se. Mais tarde se verificará
que o dinheiro que as pessoas são obrigadas a desviar para tratamentos e
consultas que deixam de ser apoiados são logo retirados a pequenas coisas do
quotidiano que faz a economia real.
Quais? Muito
simples. Tomar café. Petiscar qualquer coisa. Comprar um jornal ou uma revista.
Pagar a quota num clube. Oferecer um jantar no S. Valentim, um brinquedo aos
filhos ou mesmo dar um contributo para a caridade ou a solidariedade.
É disto que parece
não ser nada que se esquecem os “expertos” que tão espertos se consideram. Mas
é por eles e pelas suas contas que nos chega esta espiral recessiva, a
verdadeira peste negra dos dias de hoje.
Sem comentários:
Enviar um comentário