quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Portugal: OS “EXPERTOS”




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

São eles que geram a espiral recessiva que é a verdadeira peste negra dos dias de hoje

Costuma dizer-se que os números não mentem, o que é porventura a maior das mentiras inventadas desde que a economia deixou de ser contas de somar, subtrair, multiplicar e dividir e passou a integrar um conjunto de factores e elementos tão estranhos como abstractos para o comum dos mortais.

É por isso que muitos “expertos” respondem com desdém quando são confrontados com questões simples e objectivas, que logo classificam como contas de donas de casa.

O facto é que as donas(os) de casa não se enganam porque não podem. Só não acertam quando falha uma entrada de dinheiro que davam por adquirida, enquanto os “expertos” fracassam em toda a linha porque os seus métodos quantitativos, as suas variáveis estatísticas e os seus “benchmarks” (em português copianços) foram transpostos para cenários imaginários.

É isso que está a suceder com o governo e mais concretamente com Vítor Gaspar. Tirando os juros da dívida externa nos mercados secundários, que têm vindo a descer, nada dá certo.

O relatório de Inverno do Banco de Portugal foi o mais recente entalão nas estimativas governamentais. Onde Gaspar consentia uma recessão de 1%, o Banco de Portugal atira com 1,9%, o que é praticamente o dobro.

É preciso, todavia, considerar que esses números são meras projecções e que a recessão em 2012 ultrapassou os 3%, o que pode levar à afirmação de senso comum de que as coisas não irão certamente melhorar e ambas as instituições estão erradas. Apostar noutros 3% é capaz de dar dinheiro.

Agora que são já mais ou menos conhecidos os valores astronómicos dos impostos entrados em vigor com o Orçamento de 2013, é de considerar ainda mais fortemente a possibilidade de nada bater certo.

Talvez nem mesmo as expectativas em relação às exportações, que manifestamente não têm em conta a retracção dos mercados que maioritariamente recebem os nossos produtos.

Todos os dias assistimos de resto a elucubrações simplistas a respeito dos temas mais diversos. A mais recente prende-se com a ideia peregrina de que o regime da ADSE ou certas comparticipações do SNS dentro do sistema geral são excessivas e deveriam ser reduzidas.

Muito bem. Abstraindo do que seria a calamidade de todos irem a correr para os hospitais públicos, dê-se de barato o raciocínio e aplique-se. Mais tarde se verificará que o dinheiro que as pessoas são obrigadas a desviar para tratamentos e consultas que deixam de ser apoiados são logo retirados a pequenas coisas do quotidiano que faz a economia real.

Quais? Muito simples. Tomar café. Petiscar qualquer coisa. Comprar um jornal ou uma revista. Pagar a quota num clube. Oferecer um jantar no S. Valentim, um brinquedo aos filhos ou mesmo dar um contributo para a caridade ou a solidariedade.

É disto que parece não ser nada que se esquecem os “expertos” que tão espertos se consideram. Mas é por eles e pelas suas contas que nos chega esta espiral recessiva, a verdadeira peste negra dos dias de hoje.

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