Jornal i - Lusa
O presidente do
Conselho de Administração do Hospital de Cascais, Adalberto Campos Fernandes,
avisou hoje que o último aumento das taxas moderadoras “empurrou para fora do
sistema de saúde” dezenas ou centenas de milhares de pessoas.
“Estamos no limite
de segurança crítico de introdução de barreiras económicas ao acesso [à
saúde]”, afirmou Adalberto Campos Fernandes, ao comentar a proposta do FMI para
aumento das taxas moderadoras, durante um debate hoje em Lisboa sobre a
sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para o especialista
em economia de saúde, a proposta do FMI transforma as taxas moderadoras em
copagamentos, considerando uma ideia descabida e própria de quem desconhece a
realidade portuguesa.
“É de quem está a
10 mil quilómetros daqui, e não faz a mínima ideia do que está a dizer”,
comentou. “O último aumento de taxas moderadoras [registado há um ano] empurrou
para fora do sistema de saúde dezenas ou centenas de milhares de pessoas”,
frisou.
Por isso mesmo, e
devido ao contexto de crise, o administrador do Hospital de Cascais diz que
deveria haver “uma caracterização epidemiológica da pobreza”, na mesma linha do
defendido pelo professor da Escola de Saúde Pública Constantino Sakellarides,
que advogou a criação de um sistema público de monitorização dos impactos da
crise na saúde.
Adalberto Campos
Fernandes lamentou ainda que os decisores políticos andem a fugir da questão
dos subsistemas de saúde, como a ADSE, que já vêm identificados como um
problema a resolver no primeiro memorando da “troika”.
“Não percebo como
somos tão seguidores dos dispositivos do memorando, mas desde maio de 2011 que
o documento indica que os subsistemas são um problema. Andamos há um ano e meio
a fugir desta questão como diabo da cruz”, comentou.
Para contribuir para
a sustentabilidade do SNS, o responsável do Hospital de Cascais defendeu ainda
que a reforma hospitalar deve avançar como um “imperativo cívico”.
Para Adalberto
Campos Fernandes, não avançar com a reforma hospitalar custa muito mais ao país
do que um ano inteiro sem que os hospitais cumpram a lei dos compromissos.
Esta lei impede os
serviços do Estado de assumir despesa que não tenha cabimento nos três meses
seguintes, mas, no caso da saúde, tem suscitado polémica por dificuldades de
aplicação e cumprimento por parte dos hospitais.
O presidente da
Administração Central do Sistema de Saúde reconheceu hoje, durante o debate,
que esta lei foi implementada “num contexto nacional desadequado”, e defendeu
igualmente a importância de avançar com a reforma hospitalar.
“Se existe
redundância de serviços [ao nível dos hospitais], há possibilidade de fazer
melhor com menos”, comentou João Carvalho das Neves, admitindo que é preciso
que a reforma hospitalar avance mais depressa do que tem vindo a acontecer.
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