Libération, Le
Monde, Süddeutsche Zeitung & 4 outros – Presseurop - imagem Plantu
A 11 de janeiro, o
Exército francês lançou uma operação militar destinada a travar o avanço para o
Sul do Mali dos grupos armados islamitas que controlam, desde a primavera, o
Norte do país. A imprensa europeia reconhece globalmente a necessidade da intervenção,
mas aponta os riscos desta operação.
Sob o mandato da
ONU, as
forças francesas levam a cabo bombardeamentos aéreos com o apoio
logístico dos britânicos em apoio das tropas do Mali contra o Movimento
Nacional de Libertação do Azawad, que luta pela independência das províncias de
Gao, Tombuctu e Kidal, e os salafitas de Ansar Dine, e que pretendem instaurar
um regime islamita nessa parte do Mali.
"François
Hollande pode felicitar-se por ter travado os talibãs das areias",comenta o Libération, que, no entanto, se interroga
sobre o que se seguirá à operação "Serval":
Irá a França
contentar-se com travar o avanço irresistível dos islamitas no Mali? Irá
reconquistar, usando como testa de ferro algumas tropas africanas, o Norte do
país, nas mãos, desde há nove meses, dos Loucos de Deus, que impõem um Islão
totalmente contrário às práticas moderadas e tolerantes dos malianos? […] Hoje,
as tropas francesas talvez sejam bem acolhidas pela população esgotada, que se
opõe largamente aos islamitas. Contudo, os malianos não vão, e com razão,
suportar durante muito tempo a presença das tropas do antigo colonizador. Não
existe uma solução militar e, por maioria de razão, francesa para a crise no
Mali.
Perante o avanço
dos islamitas, o Presidente francês, François Hollande, optou pelo "mal
menor", considera Le Monde. Porque a passividade não
era opção. Ou teria sem dúvida conduzido a uma situação que iria exigir uma
ação militar posterior, de maior envergadura. Mas a França não pode ficar
sozinha. Ajudar o Mali a reconquistar o seu território é, em primeiro lugar,
tarefa dos Estados da África Ocidental. Impedir o estabelecimento de um núcleo
*jiadista* no Sahel, é do interesse de toda a Europa.
Ao intervir no
Mali, "François Hollande correu um risco", considera oSüddeutsche
Zeitung. Segundo este diário de Munique, trata-se, porém, de um risco que não
devemos deixá-lo assumir sozinho:
Deve ser criada um
força militar operacional internacional, integrada sobretudo por países da
União Africana. Por outro lado, a França precisa da ajuda militar dos seus
aliados europeus. […] A União Europeia debate, há meses, o problema do Mali,
com tão pouco sucesso que até faz corar. […] Neste momento, a Europa já é
ameaçada por uma rede terrorista islamita, que se implantou no Norte de África.
Aquilo que se passa na outra margem daquilo que, não por acaso, se chama Mare
Nostrum não pode deixar ninguém indiferente na Europa. Não se trata do pátio
das traseiras negligenciado da Europa mas da sua vizinhança.
"O problema da
intervenção francesa é ser francesa", escreve por seu turno oTageszeitung. Este
diário alternativo de Berlim desaprova o "colonialismo de esquerda" e
salienta que Nicolas Sarkozy
foi muito criticado pela participação francesa nas intervenções militares na
Líbia e na Costa do Marfim, mas, pelo menos, essas operações inscreviam-se num
quadro internacional estrito. Quem teria pensado que Hollande poderia
representar um passo atrás em relação a Sarkozy?
Além disso, adverte The
Independent, a intervenção no Mali irá reforçar o discurso radical dos
islamitas sobre mais um ataque do Ocidente contra o Islão. Para o cronista Owen
Jones, il est pour le moins dérangeant de constater comment [le Premier
ministre David] Cameron entraîne le Royaume-Uni dans le conflit au Mali sans la
moindre ébauche de consultation. On nous dit qu’il n’y aura pas d’envoi de
troupes ; mais le terme de “mission creep” [l’extension de la portée originale
de l’objectif] a un sens, et une escalade pourrait certainement entraîner un
engagement britannique plus profond. L’Occident a la é no mínimo preocupante
que [o primeiro-ministro David] Cameron arraste o Reino Unido para o conflito
do Mali, sem sequer um simulacro de consulta. Dizem-nos que não vão ser
enviados soldados. Mas as palavras ‘mission creep’ [extensão do alcance
original do objetivo] têm um sentido e uma escalada poderá levar a um maior
envolvimento britânico. O Ocidente tem o terrível hábito de se associar aos
aliados mais duvidosos: o lado que escolhemos está longe de ser o dos
democratas respeitadores dos direitos humanos… É responsabilidade de todos nós
analisar bem aquilo que os nossos governos fazem em nosso nome; se não
conseguimos aprender isso com o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, então já não
há esperança.
Em Bucareste, o Adevărul mostra-se
preocupado com as "fortes consequências da operação ‘Serval’
sobre um território imenso em África" e, também, com "a segurança da
UE e dos seus cidadãos, no interior e no exterior do espaço comunitário".
Apesar disso, refere este diário, a intervenção era necessária, devido ao
aumento sem precedentes do número de células islâmicas […] a Norte e a Sul do
Saara. Contudo, acrescenta, agora que a França se envolveu diretamente nas
operações militares, é possível que se verifiquem cenários semelhantes aos do
Iraque ou do Afeganistão, mas a uma escala muito mais vasta e complexa.
"Agora, a
questão é saber se e como irá a UE mobilizar-se", acrescenta oEuropean Voice.
Este semanário com sede em Bruxelas coloca a questão da defesa europeia e
pergunta:
Des pays de l’UE
enverront-ils des troupes combattre avec les Français ? L’UE se
contentera-t-elle d’entraîner les troupes des autres ? [..] Que les islamistes
contrôlent le désert, une base pour de potentielles attaques dans la région et
en Europe, est clairement un grand sujet d’inquiétude pour la France et,
pense-t-elle, devrait l’être pour l’Europe dans son ensemble. [...]
L’intervention et les questions qu’elle va susciter Irão alguns países da UE
enviar tropas para combater ao lado dos franceses? Limitar-se-á a UE a treinar
as tropas dos outros? O facto de os islamitas controlarem o deserto – uma base
para potenciais ataques na região e na Europa – constitui claramente um forte
motivo de preocupação para a França e, no entender deste país, deveria sê-lo
também para toda a Europa. Outros países da UE talvez não estejam tão
preocupados. [...] Mas a intervenção e as questões que esta suscitará irão
provavelmente ocupar os espíritos, na grande cimeira de dezembro sobre
cooperação em matéria de defesa. […] As questões associadas à capacidade
militar da Europa são muito importantes [para o presidente do Conselho Europeu,
Herman Van Rompuy]. Com a ‘ajuda’ do Mali, essas questões irão provavelmente
ser muito mais importantes para os outros responsáveis políticos e para os
cidadãos comuns europeus, até ao fim do ano.
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