Verdade (mz) - Editorial
Nos últimos dias,
os múltiplos cultos públicos do Guebuzaismo-pagão já começam a atingir a raia
do ridículo. Mais do que a generalizada busca incessante pela satisfação do
insaciável estômago, ajeitando a gravata do chefe de Estado. Há, hoje,
generalizada idolatria ao todo financeira e economicamente poderoso Presidente
da República, $enhor Armando Guebuza que hoje completa 70 anos de idade.
A situação é, sem
dúvida, tão nacional e apresenta-se tão furiosa que a sensatez e a vergonha na
cara tendem a desaparecer das práticas de alguns moçambicanos. Diga-se em abono
da verdade, como moçambicanos o que mais nos têm faltado - e que vai ficando
bem à vista a cada dia que se levanta – é a Consciência e a Graça, algo que
deveria fazer corar de vergonha a todos nós.
A televisão
pública, TVM, é exemplo mais acabado de uma máquina de estupidificação da
sociedade moçambicana. Fazendo o usufruto dos nossos impostos, condena milhares
de moçambicanos a assistirem ao (péssimo) espectáculo de culto de
personalidade. O que mais intriga nessa história não é o mau serviço prestado
por aquela estação televisiva que de pública só tem os nossos impostos e nem a
festa de aniversário "patrocinado" pelo suor e sangue do povo, porém,
o deprimente exercício de louvores ao $enhor Presidente da República.
Não temos nada
contra a celebração de uma festa de aniversário. Aliás, nem é de bom tom
impedir que as pessoas celebrem uma data tão importante como o dia do seu
nascimento. Porém, quando tal aniversário invade a casa de pessoas comuns e que
pagam impostos, por via de uma televisão que é suposto prestar informação de
interesse público, as coisas mudam de figura. Ou seja, essa transmissão nada
mais é do que um convite e, por via disso, a nossa apreciação é legítima. Ainda
mais quando o aniversariante é nada mais nada menos do que Armando Guebuza, o
filho mais querido da Nação.
A transmissão em
directo do aniversário do chefe do Estado é o maior erro televisivo da história
do país, sobretudo numa altura em que famílias choram pela perda dos seus bens
no país inteiro.
A Televisão de
Moçambique não para de surpreender e com esse gesto genuflexivo, quanto baste,
deixou de pertencer aos órgãos esquisitos estilo AIM e Notícias. A TVM é um
perigo público. Fornicou a informação do interesse público para prestar
louvores rasgados ao filho mais querido da Nação. A TVM é um órgão de
informação criminoso. Devia ser banida.
Contudo, pior do
que o comportamento da TVM é a figura de um sisentinho da auto-estima que, nas
redes sociais, tenta defender a legitimidade da festança. Isso, meu caro, nunca
esteve em causa. Guebuza tem o direito e a obrigação de festejar o seu aniversário.
O que não pode acontecer e nem deve ser aceite, de forma alguma, é a
transmissão gratuita do descaso que tem pelo povo.
Este defende
Guebuza e diz que a festa tinha de ser televisionada. Não fala do momento em
que isso ocorre e da mensagem que pode passar aos vândalos deste país toda
aquela pomposidade. Não sabemos se essa defesa denota a sua natureza
camaleónica e antecipa o seu carácter egoísta e escovinha, tão vincado naquilo
que procura defender. Sabemos, contudo, que o culambismo nacional tão em voga
ao redor de quem tem o poder, tem por patologia o não perceber nada do que diz
e, como muito gente, o querer defender o indefensável.
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