Henrique Monteiro –
Expresso, opinião em Blogues
Eugénio Rosa é um
economista ligado à CGTP que há anos presta um serviço público. Analisa
números e envia as suas análises para uma vasta lista de pessoas. As suas
conclusões pessoais estão implícitas, e são discutíveis à luz das preferências
políticas, mas os seus números têm-se revelado exatos e são fornecidos com
contas devidamente feitas.
O último relatório
deste economista prova que em Portugal 4 488 926 (quase quatro milhões e
meio) de portugueses que estariam na situação de pobreza se não fossem as transferências
sociais, incluindo as pensões. Os números são do INE e mostram uma realidade
alarmante: quase metade do país a afundar-se. Recorde-se que o limiar
de pobreza em Portugal é de 5040 euros anuais, ou seja 420 euros a 12 meses (ou,
como Eugénio Rosa prefere apresentar, 360 a 14 meses).
Ainda de acordo com
o INE, esta situação, que se reporta a 2011, mantém-se mais ou menos estável
desde 2007. Nesse ano a percentagem de portugueses que seriam pobres sem
qualquer transferência social era de 41,5%, em 2009 era de 43,4 e em 2011 de
42,5. Após as transferências, ainda assim, o número de portugueses pobres
(menos de 5040 euros anuais) oscila entre os 18 e os 19 por cento (ou
seja, de 1,7 a 1,8 milhões, números redondos).
Tal como Eugénio
Rosa parecem-me imprescindíveis estes apoios e impossível cortá-los mais, como
parece pretender o FMI ou o Governo.
Mas, e aqui
afasto-me do economista, agradecendo-lhe o seu trabalho, para mim, o que
estes números mostram à saciedade é que a pobreza não se combate com subsidiação,
mas com criação de riqueza. Mais ou menos subsídios (a situação de 2007 para
2011 alterou-se substancialmente) não correspondem a variações sensíveis nos
níveis de pobreza. O esforço tem de ser colocado do lado da criação de
riqueza. E este é um ponto que muita gente de esquerda parece não entender. Porque a
criação de riqueza não deve ser feita através do investimento público, como
continuam a defender, apesar dos últimos 20 anos provaram o contrário, mas de
investimento privado em bens transacionáveis, ou seja, vendáveis - e não
autoestradas, pontes e linhas de TGV. Mas esta é outra discussão, que
ficará para outro dia.
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