Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Há quem diga que o
relatório do FMI tem falhas graves. Não sei, não tenho competência para
analisar em pormenor os dados que lá constam, mas acredito que sim. Como tenho
visto certos 'especialistas' citarem aspetos do relatório do FMI que nem
sequer lá constam.
Algumas críticas
àquele documento fazem todo sentido. Os Estados, embora devam ser prudentes com
o dinheiro, coisa que o nosso não foi, não podem ser dirigidos pelo
dinheiro, como alguns técnicos parecem pretender. Mas existem outras críticas -
e são essas que aqui me trazem - que constituem uma autêntica nostalgia
do salazarismo. Eu explico. Para Salazar, a liberdade individual não tinha
qualquer significado. Considerava-se um protetor do povo, porque achava o
povo incapaz de escolhas sensatas. Isso, seria algo bom para os ingleses e
holandeses, mas não para povos simples, pobretes, mas alegretes, como nós,
portugueses.
Acontece que esse
tipo de ideologia faz hoje muito caminho em Portugal. Certas receitas
podem ser boas lá fora, dizem-nos. Mas aqui, atenção! O nosso povo é especial,
não pode ser deixado a si próprio. A nossa sociedade civil é má, não pode
autorregular-se. Temos especificidades próprias que os estrangeirados não
entendem.
E esta nostalgia
abarca todo o espetro político. Ouviram ontem Marcelo Rebelo de Sousa? Quem o
ouviu, percebe melhor do que estou a falar.
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