Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
O EXEMPLO IRLANDÊS
JÁ CANSA
Há duas décadas que
os portugueses vivem colados ao exemplo da Irlanda. Primeiro era o Dr. Paulo
Portas que apontava o país dos trevos como o exemplo a seguir no seu caminho do
desenvolvimento e do crescimento. O Tigre Celta (assim lhe chamavam) inchou tanto
que estourou por via da especulação. Viu-se então que a economia que o
sustentava não era mais que a despensa da Grã-Bretanha e o jardim avançado dos
Estados Unidos. Ao menos por cá ainda ficámos com uma ou outra obrazita de
betão. Agora enchem-nos com o regresso irlandês aos mercados e a sua
reestruturação interna. As comparações directas ignoram obviamente certas
realidades, como o facto de na Irlanda apenas 3% da população falar a própria
língua (o gaélico-irlandês) e de um dos temas que estão em cima da mesa ser
precisamente a utilidade do ensino do idioma genuíno porque custa 500 milhões
de euros/ano. Ao menos nós temos três línguas oficiais, o português, o mirandês
e a língua gestual portuguesa, e não se discute o assunto, embora pouco se
invista nelas.
MATÉRIA A TER EM
CONTA
Somam-se os
indícios de que está em curso uma junção dos três subsistemas de saúde que se
mantêm na área pública: ADSE, ADM (militares) e o da PSP e GNR. Dado esse
passo, o seguinte seria a agregação de todos eles ao Serviço Nacional de Saúde.
Já em 2011 se deu um primeiro passo, quando se verificou a integração dos
subsistema da Justiça na ADSE, embora nesse caso houvesse uma harmonia quase
total de procedimentos. No caso dos militares há que ter em conta que os seus
sistemas comportam tratamentos directos de saúde em unidades hospitalares
adequadas, o que dificulta ainda mais os procedimentos, pelo que se tem dado
especial atenção à concentração de todos os ramos numa única unidade. Todos
estes aspectos são matéria altamente sensível e uma das dúvidas existentes
prende-se com a possibilidade material de concretizar tanta reforma em tempo
útil. O objectivo final é naturalmente reduzir a despesa, em conformidade com o
acordo assinado com a troika.
SAÍDA DIGNA E RARA
O secretário da
Administração Local e da Reforma Administrativa, Paulo Júlio, demitiu-se depois
de ser indiciado pelo DIAP por alegadamente ter favorecido um primo num
concurso. Em Portugal alguns estranharão até o facto de isso ser crime. O
visado diz que está de consciência tranquila mas ficou-lhe bem, a ele e ao
ministro que o tutela, Miguel Relvas, a renúncia sem mais delongas.
Circunstância de assinalar é também o facto de a notícia da dedução de acusação
ter sido dada por um jornal regional, no caso o “Campeão das Províncias”, e
depois ter sido amplificada nacionalmente. Uma prova óbvia de que o jornalismo
de proximidade tem uma missão importante.
QUANDO O CIDADÃO
NÃO CONTA, A CARTEIRA É QUE PAGA
A sabedoria popular
diz que há muitas maneiras de virar frangos. É verdade. Mas aparentemente há ainda
mais formas de aumentar impostos. A partir deste mês, em Lisboa, deixou de
haver passes de transporte (que não os sociais) só para a Carris e para o Metro
ou para os dois. Por 35 euros, o cidadão que queira o chamado Navegante é
obrigado a comprar um título que serve para andar também na CP (!) dentro da
capital, coisa que não interessa praticamente a ninguém. Claro que o aumento
foi enorme e se junta ao dos impostos, servindo a maquinação para minorar as
contas da CP. Um verdadeiro imposto encapotado!
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