sábado, 26 de janeiro de 2013

Portugal: NOTAS SOLTAS




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

O EXEMPLO IRLANDÊS JÁ CANSA

Há duas décadas que os portugueses vivem colados ao exemplo da Irlanda. Primeiro era o Dr. Paulo Portas que apontava o país dos trevos como o exemplo a seguir no seu caminho do desenvolvimento e do crescimento. O Tigre Celta (assim lhe chamavam) inchou tanto que estourou por via da especulação. Viu-se então que a economia que o sustentava não era mais que a despensa da Grã-Bretanha e o jardim avançado dos Estados Unidos. Ao menos por cá ainda ficámos com uma ou outra obrazita de betão. Agora enchem-nos com o regresso irlandês aos mercados e a sua reestruturação interna. As comparações directas ignoram obviamente certas realidades, como o facto de na Irlanda apenas 3% da população falar a própria língua (o gaélico-irlandês) e de um dos temas que estão em cima da mesa ser precisamente a utilidade do ensino do idioma genuíno porque custa 500 milhões de euros/ano. Ao menos nós temos três línguas oficiais, o português, o mirandês e a língua gestual portuguesa, e não se discute o assunto, embora pouco se invista nelas.

MATÉRIA A TER EM CONTA

Somam-se os indícios de que está em curso uma junção dos três subsistemas de saúde que se mantêm na área pública: ADSE, ADM (militares) e o da PSP e GNR. Dado esse passo, o seguinte seria a agregação de todos eles ao Serviço Nacional de Saúde. Já em 2011 se deu um primeiro passo, quando se verificou a integração dos subsistema da Justiça na ADSE, embora nesse caso houvesse uma harmonia quase total de procedimentos. No caso dos militares há que ter em conta que os seus sistemas comportam tratamentos directos de saúde em unidades hospitalares adequadas, o que dificulta ainda mais os procedimentos, pelo que se tem dado especial atenção à concentração de todos os ramos numa única unidade. Todos estes aspectos são matéria altamente sensível e uma das dúvidas existentes prende-se com a possibilidade material de concretizar tanta reforma em tempo útil. O objectivo final é naturalmente reduzir a despesa, em conformidade com o acordo assinado com a troika.

SAÍDA DIGNA E RARA

O secretário da Administração Local e da Reforma Administrativa, Paulo Júlio, demitiu-se depois de ser indiciado pelo DIAP por alegadamente ter favorecido um primo num concurso. Em Portugal alguns estranharão até o facto de isso ser crime. O visado diz que está de consciência tranquila mas ficou-lhe bem, a ele e ao ministro que o tutela, Miguel Relvas, a renúncia sem mais delongas. Circunstância de assinalar é também o facto de a notícia da dedução de acusação ter sido dada por um jornal regional, no caso o “Campeão das Províncias”, e depois ter sido amplificada nacionalmente. Uma prova óbvia de que o jornalismo de proximidade tem uma missão importante.

QUANDO O CIDADÃO NÃO CONTA, A CARTEIRA É QUE PAGA

A sabedoria popular diz que há muitas maneiras de virar frangos. É verdade. Mas aparentemente há ainda mais formas de aumentar impostos. A partir deste mês, em Lisboa, deixou de haver passes de transporte (que não os sociais) só para a Carris e para o Metro ou para os dois. Por 35 euros, o cidadão que queira o chamado Navegante é obrigado a comprar um título que serve para andar também na CP (!) dentro da capital, coisa que não interessa praticamente a ninguém. Claro que o aumento foi enorme e se junta ao dos impostos, servindo a maquinação para minorar as contas da CP. Um verdadeiro imposto encapotado!

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