Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Governo propõe mais
meia hora de trabalho por semana. UGT ameaça não assinar acordo de concertação
social. Governo recua e altera lei laboral radicalmente.
Governo propõe
alterações na Taxa Social Única, aumentando os descontos da segurança
social dos trabalhadores e reduzindo os descontos dos empregadores, pondo os
trabalhadores a financiar as empresas. Enormes manifestações em todo o País.
Governo recua e aplica o maior aumento de impostos de que há memória.
Governo pede um relatório
ao FMI sobre os cortes no Estado Social de que será a única fonte.
Relatório político (e não técnico) propõe aumento do horário, redução de
salário e despedimento de 20% a 30% dos funcionários públicos; aumento dos
horários dos professores com dispensa de 30 a 50 mil docentes; aumento das
propinas; redução drástica dos apoios ao desemprego e restantes prestações
sociais; redução drástica das reformas e aumento da idade de reforma; aumento
das taxas moderadoras e redução das comparticipações dos medicamentos. Reação
generalizada contra as propostas avançadas, que se traduziriam num aumento
brutal do desemprego, na destruição do pouco que resta do mercado interno, na
miséria para a maioria dos portugueses e na demissão do Estado, em plena crise
aguda, das suas principais funções sociais. Governo avisa que o
"relatório técnico" de que é, na realidade, o verdadeiro autor, não
será a sua bíblia.
A tática é sempre o
mesmo: anunciar o intolerável para avançar com o inaceitável. Em nenhum
momento há um verdadeiro processo de negociação. Em nenhum momento o governo
realmente cede a alguma coisa. Em nenhum momento há a tentativa de encontrar
soluções sensatas. Há um truque, sempre o mesmo truque.
Continua a cair
quem quer. E já não parece que alguém caia. Este relatório - que não
é um relatório, mas um programa de governo - técnico - que não é um
técnico, pois está pejado de erros factuais - do FMI - que não é do
FMI, mas uma mera transposição das intenções políticas de Pedro Passos Coelho - é
uma fraude. Uma fraude para impor um ponto de vista inaceitável para o começo
de um debate. Assim sendo, ele não deve ser visto pelos partidos da oposição e
os parceiros sociais como um ponto de partida. O ponto de partida, nesta
matéria, é a Constituição da República Portuguesa. Na sua letra e no seu
espírito. É aí que está, escrito e com legitimidade democrática, o consenso
nacional sobre o Estado Social. Querem uma revolução? Arranjem os aliados
para mudar a lei fundamental do País.
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