Ferreira Fernandes –
Diário de Notícias, opinião
Vamos lá à polémica
de brancos parolos. Arménio Carlos disse: "Vêm aí outra vez os três reis
magos: um do BCE, outro da CE e o mais escurinho, do FMI." Estalou a
indignação: racismo! Ora racismo é generalizar uma condição negativa a um grupo
ou povo. Sobre Obama, Berlusconi disse-o "bronzeado". Basta ver como
Berluscuni cuida da sua tez para saber que "bronzeado" era elogio e,
no entanto, alguns dos que defendem hoje o líder da CGTP não se privaram então
de acusar o italiano de "racismo". É habitual que as culpas e as desculpas
sejam deitadas segundo a conveniência. Carlos podia chamar
"escurinho" a Selassie, como "bochechas" a Soares. Não será
delicado sublinhar uma característica física de alguém, mas deixo isso para
Paula Bobone. Carlos nem se equivocou chamando "negro" a Selassie: o
termo negro é usado para os povos melano-africanos, a que não pertencem os
etíopes. Abebe Selassie é o escurinho, como o outro da troika é o careca e nem
sei a qual dos dois branquelas me refiro, confundo-os (daí a escolha do
sindicalista em especificar Selassie, o mais nítido dos três). Polémica da
tanga! Com 16 anos, amigos lançavam-me: "Branco!" E eu:
"Preto!" Abraçávamo-nos e dizíamos isso baixo, porque podíamos fazer
piada com tudo mas não com toda a gente. Mal seria que quase meio século depois
não se pudesse dizer alto de alguém o tom de pele que eu, aliás, não me
importava nada de ter. Conhecem quem vá de férias para ficar clarinho?
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