terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Portugal – Parlamento: DEPUTADOS ESCONDEM INTERESSES AOS CIDADÃOS



Margarida Bon de Sousa – Jornal i

Os parlamentares portugueses são mais específicos na informação que prestam ao Constitucional do que a que publicam no site da AR para ser consultada pelos cidadãos

É possível trocar-se um vencimento de 100 mil euros anuais por outro de pouco menos de 60 mil? Pode-se ser sócio de um escritório de advogados e não o declarar no registo de interesses de deputado no site da Assembleia da República? À primeira vista é difícil, mas basta um olhar atento aos deputados/advogados com assento no parlamento para se verificar que existem muitos exemplos deste tipo.

Os factos mostram também que existe uma abordagem muito diferente quando os parlamentares prestam contas perante o Tribunal Constitucional ou perante quem os elegeu. As declarações do TC são, por norma, muito mais minuciosas que as outras.

Veja-se o PSD. No total, o grupo parlamentar que apoia o governo conta com 25 deputados/advogados, com e sem cédula suspensa. Adriano Rafael Moreira declarou ao TC relativamente a 2010, o ano que antecedeu a sua entrada no hemiciclo, que era administrador da Adriano Rafael Moreira, detendo uma percentagem de 70% no capital social da empresa. Já no site da AR, o deputado privilegiou a vertente da formação, realçando uma pós-graduação em Direito Penal Económico e Europeu e uma pós-graduação em Contratação Pública, entre outras.

Outro seu colega de bancada, Amadeu Soares Albergaria, refere as acções que detém ao TC, embora deixe em branco este campo no registo de interesses do parlamento. E nem num organismo nem noutro declara onde trabalha como advogado.

O também social-democrata José de Matos Correia, com cédula activa na Ordem dos Advogados, ganhou 76 mil euros de trabalho dependente em 2010 e 90 mil euros como independente, segundo a declaração arquivada no TC, declarando a profissão de docente universitário e advogado no registo de interesses da AR. Mas sem especificar onde.

Antes de chegar à liderança do grupo parlamentar do PSD, Luís Montenegro recebia 73,7 mil euros de trabalho dependente e 90,5 mil de trabalho independente. O social-democrata esteve algum tempo sem exercer advocacia, mas desde o Verão que a diminuição progressiva do seu vencimento como deputado acabou por falar mais alto, levando-o a retomar a sua antiga actividade profissional.

Paulo Rios de Oliveira também não informa que tem participação na sociedade de advogados Rio Pinho e Cristo no site da Assembleia da República, contrariamente ao registado no Tribunal Constitucional. No site do parlamento valoriza sobretudo a sua carreira política enquanto membro da Assembleia de Freguesia de Ramalde e da Assembleia Municipal do Porto e da Grande Área Metropolitana do Porto. Já no Tribunal Constitucional refere que é administrador da Rios, Pinho e Cristo desde 2008 e que em 2010 ganhou 2,3 mil euros de trabalho dependente e 104,6 mil de trabalho independente.

PARTIDO SOCIALISTA 

No PS também há advogados de renome que acumulam a prática com o cargo de deputados. Vitalino Canas é um deles. No site do parlamento não refere a quota de 70% que detém na sociedade Vitalino Canas e associados nem as acções recebidas desde 2007 na mesma empresa, informação dada ao Tribunal Constitucional.

Em 2010, o ex-governante recebeu 79,3 mil euros de trabalho dependente e 49 mil de trabalho independente.

Alberto Costa também tem a cédula activa na Ordem dos Advogados e declara a advocacia como a sua profissão no site do parlamento. Em 2006, a sua declaração de rendimentos referia que ganhava 80 mil euros de trabalho dependente e 26,1 mil de trabalho independente. Mas o gosto pela política pura e dura acabou por ter reflexos nos seus rendimentos. Em 2010 apenas declarou 56 mil euros ao Tribunal Constitucional.

CDS-PP 

Além do Partido Social Democrata e do PS, o CDS-PP é o único grupo parlamentar com deputados/advogados no activo. Artur Rego declarou 229 mil euros de trabalho independente em 2010 no Tribunal Constitucional, bem como quotas em sociedades imobiliárias e cargos de gerência numa série de empresas imobiliárias. A situação é reflectida no seu registo de interesses como deputado.

Outro dos seus pares na bancada parlamentar do CDS, José Lino Ramos, também tem a sua cédula de advogado activa. Na declaração de interesses apresentada no Tribunal Constitucional aquando do início do mandato de deputado pode ler-se que ganhou, de trabalho dependente em 2010, 92,9 mil euros.

Ainda em 2011 deixou de exercer dois cargos na Associação Turismo de Lisboa. No site da AR pode ler-se ainda que foi presidente do conselho directivo da AMTRES até Abril desse mesmo ano e quatro meses depois saiu da administração da Tratolixo, empresa intermunicipal de tratamento de resíduos sólidos, com sede em S. Domingos de Rana. Neste caso também foi impossível saber onde exercia a profissão de advogado, uma vez que as duas declarações são omissas sobre a matéria.

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