quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Portugal: UMA REMODELAÇÃO LIGHT




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

A mexida apanha o PS em contrapé e não altera em nada a política do governo

Tal como se disse recentemente neste espaço, o momento era propício a que Passos Coelho mexesse no governo por sua própria iniciativa e sem ir a reboque de circunstâncias que não dominasse.

O facto de Paulo Júlio, secretário de Estado da Administração Autárquica, ter sido obrigado a sair por alegado envolvimento no favorecimento de um familiar num concurso, apenas pode ter antecipado uns dias ou umas horas a remodelação light que o primeiro-ministro tem em curso na hora a que fechamos esta edição.

Em bom rigor, nenhuma das mudanças conhecidas é surpreendente e, praticamente, os nomes a sair coincidem com as informações que circulavam nos bastidores políticos.

Passos Coelho, que do ponto de vista da táctica política tem indiscutíveis capacidades, aproveitou a janela de oportunidade da melhor forma para lançar acertos e actuou num momento em que o Partido Socialista se encontra dividido e a braços com graves clivagens internas entre apoiantes de Seguro, de António Costa e socráticos, que não desistem de marcar presença e influenciar a vida interna.

Foi em cheio. Apanhar o adversário em contrapé é algo que os dirigentes políticos têm de ter sempre em mente para actuarem no momento oportuno, evitando desgaste nas suas hostes e causando-o nas do adversário.

Seja como for, há ilações a tirar destas alterações no governo. Em primeiro lugar, têm uma natureza de tal forma pontual que não alteram nem beliscam minimamente, nem para cima nem para baixo, a popularidade do governo. Quem o defende continuará a fazê-lo; quem o critica manterá a opinião. Rigorosamente.

Em segundo lugar, e mais importante, é Passos Coelho muito provavelmente não se preparar para mexer em nenhum dos seus ministros. A ideia de que poderia verificar-se um acerto a esse nível, como reclamou insistentemente Marcelo Rebelo aconselhando a saída de Miguel Relvas, não foi seguida, como de resto se esperava.

Os ministros, e muito especialmente o ministro dos Assuntos Parlamentares, são, confirma-se, peças essenciais de uma linha condutora de que o primeiro-ministro não parece disposto a abdicar.

Mudar agora de protagonistas implicaria encetar em alguns sectores um novo caminho político com opções diferentes e poderia inclusivamente obrigar a modificações em leis orgânicas, que são sempre extremamente demoradas de concretizar.

Percebe-se portanto a opção de não mexer na equipa de forma substancial, até porque isso obrigaria fatalmente a abrir um processo de negociação com Paulo Portas e o CDS, com as dificuldades inerentes.

Uma coisa é certa: desta operação ainda em curso Passos Coelho não deve sair-se mal, embora noutros governos, como os de Cavaco Silva, a coisa se resolvesse de uma assentada com um comunicado emitido às 19h30.

Quanto aos portugueses, nada disto deve alterar um quotidiano que continuará marcado por mais do mesmo.

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