Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
A mexida apanha o
PS em contrapé e não altera em nada a política do governo
Tal como se disse
recentemente neste espaço, o momento era propício a que Passos Coelho mexesse
no governo por sua própria iniciativa e sem ir a reboque de circunstâncias que
não dominasse.
O facto de Paulo
Júlio, secretário de Estado da Administração Autárquica, ter sido obrigado a
sair por alegado envolvimento no favorecimento de um familiar num concurso,
apenas pode ter antecipado uns dias ou umas horas a remodelação light que o
primeiro-ministro tem em curso na hora a que fechamos esta edição.
Em bom rigor,
nenhuma das mudanças conhecidas é surpreendente e, praticamente, os nomes
a sair coincidem com as informações que circulavam nos bastidores políticos.
Passos Coelho, que
do ponto de vista da táctica política tem indiscutíveis capacidades, aproveitou
a janela de oportunidade da melhor forma para lançar acertos e actuou num
momento em que o Partido Socialista se encontra dividido e a braços com graves
clivagens internas entre apoiantes de Seguro, de António Costa e socráticos,
que não desistem de marcar presença e influenciar a vida interna.
Foi em cheio.
Apanhar o adversário em contrapé é algo que os dirigentes políticos têm de ter
sempre em mente para actuarem no momento oportuno, evitando desgaste nas suas
hostes e causando-o nas do adversário.
Seja como for, há
ilações a tirar destas alterações no governo. Em primeiro lugar, têm uma
natureza de tal forma pontual que não alteram nem beliscam minimamente, nem
para cima nem para baixo, a popularidade do governo. Quem o defende continuará
a fazê-lo; quem o critica manterá a opinião. Rigorosamente.
Em segundo lugar, e
mais importante, é Passos Coelho muito provavelmente não se preparar para mexer
em nenhum dos seus ministros. A ideia de que poderia verificar-se um acerto a
esse nível, como reclamou insistentemente Marcelo Rebelo aconselhando a saída
de Miguel Relvas, não foi seguida, como de resto se esperava.
Os ministros, e
muito especialmente o ministro dos Assuntos Parlamentares, são, confirma-se,
peças essenciais de uma linha condutora de que o primeiro-ministro não parece
disposto a abdicar.
Mudar agora de
protagonistas implicaria encetar em alguns sectores um novo caminho político
com opções diferentes e poderia inclusivamente obrigar a modificações em leis
orgânicas, que são sempre extremamente demoradas de concretizar.
Percebe-se portanto
a opção de não mexer na equipa de forma substancial, até porque isso obrigaria
fatalmente a abrir um processo de negociação com Paulo Portas e o CDS, com as
dificuldades inerentes.
Uma coisa é certa:
desta operação ainda em curso Passos Coelho não deve sair-se mal, embora
noutros governos, como os de Cavaco Silva, a coisa se resolvesse de uma
assentada com um comunicado emitido às 19h30.
Quanto aos
portugueses, nada disto deve alterar um quotidiano que continuará marcado por
mais do mesmo.
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