Diário de Notícias,
editorial
Não vale a pena
fingir que não se sabe: o sector dito informal da economia - o que funciona à
margem da lei - está a crescer em Portugal. Quanto a isto não pode haver
dúvidas. Seguindo norma internacional, o limiar da pobreza situa-se um pouco
acima dos 400 euros de rendimento disponível por mês. Descontada a TSU, quem ganha
o salário mínimo fica com 431,65 euros no bolso. O indexante para os apoios
sociais situa-se nos 419,22 euros. Estes valores articulam-se, assim, com o
esforço prosseguido ao longo de muitos anos de diminuição da pobreza em
Portugal. Acontece que a crise não só empobreceu muitos ativos e reformados no
sector público e privado, como também produziu o número crescente de
desempregados (são mais de metade!), que esgotaram os subsídios a que tinham
direito.
Estão, assim,
criadas as condições para haver quem se disponha a trabalhar a tempo inteiro
por um salário de miséria, abaixo do limiar legalmente estabelecido. Os
empregadores, que assim contratam, não apareceram agora. Sempre cá estiveram
entre nós, aplicando a mulheres operárias e empregadas ou a emigrantes
clandestinos a receita da sobre-exploração como fonte da sua riqueza.
A inspeção do
trabalho é que sempre ostentou uma falta escandalosa de meios humanos e
operacionais, para atacar práticas empresariais inaceitáveis. Já para não falar
da suspeita de corrupção que o infindável olhar para o lado legitima. Não há
aqui qualquer racionalidade económica defensável, como se aqueles que levam dez
euros por dia para casa se constituíssem como campeões da livre escolha do
mercado e exemplos de produtividade e fonte de inovação das empresas, nas quais
trabalham.
Ser pobre,
trabalhando a tempo inteiro, é uma vergonha nacional. É um desígnio nacional
acabar com ela.
Êxito e
constrangimentos
O ministro das
Finanças, em Frankfurt, valorizou os aspetos positivos do programa de
estabilização português em três vertentes: regresso aos mercados de dívida
pública a longo prazo, continuação do programa de privatizações e intervenção
possível do BCE no mercado secundário de dívidas soberanas. A conjugação destes
fatores revela-se auspiciosa para Portugal, é valorizada pelos parceiros
externos, nomeadamente pela troika, e anuncia o fim da dependência desta para o
financiamento da dívida pública portuguesa.
Nos próximos três
anos, vai ser necessário refinanciar uns 50 mil milhões de euros de dívida e,
para tal, será preciso mobilizar todos os meios disponíveis a partir da
confiança restabelecida junto dos potenciais financiadores. Só a partir de 2015
é que a dívida pública portuguesa tem condições para começar a diminuir numa
trajetória, que terá de ser sustentada ao longo dos vinte anos seguintes.
Esse esforço
continuado passa pelo crescimento da economia portuguesa, na medida em que a
anulação do défice comercial vai ter de se manter mesmo em fase de recuperação.
O que se tem verificado até agora é a quebra da procura interna a reduzir de
forma drástica as importações, para logo de seguida voltar a alargar-se na fase
da retoma. Ora quanto aos sinais que a economia dá, neste mês de janeiro, são
ainda de enfraquecimento e recuo.
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