Antonio Tozzi*, Miami – Direto da Redação
Miami (EUA) -
Depois de uma temporada de férias no Brasil, deu para notar que o país evoluiu
em muitas coisas, mas infelizmente ainda possui uma infraestrutura carente,
algo que, creio, deverá ser corrigido com o tempo.
Os principais
problemas que parecem incomodar os brasileiros e quem mora nas grandes cidades
são o trânsito e a violência urbana. Como a melhoria do trânsito passa
exatamente pelo aperfeiçoamento da infraestrutura, é possível ter esperanças de
que este problema possa ser equacionado ou, pelo menos, minimizado.
A grande incógnita,
porém, está no alto grau de violência que tomou conta do país. Pior ainda, está
espalhando-se até mesmo por locais onde a vida era bem mais pacata como as
pequenas cidades do interior e estados do sul do Brasil que sempre apresentaram
índices baixos de violência.
Obviamente, os
crimes cometidos em São Paulo e no Rio de Janeiro ganham mais repercussão
nacional porque os principais veículos de comunicação do país estão sediados
nestas cidades, mas proporcionalmente outras capitais apresentam índices mais
violentos, conforme comprovam os dados fornecidos pelas secretarias de
segurança pública.
Não se trata de
estabelecer um ranking de periculosidade, mas, sim, de procurar enfrentar um
problema que está deixando a população bastante assustada, sobretudo nas
periferias das grandes cidades. No subúrbio de Lins de Vaconcelos, no Rio de
Janeiro, quatro moças e uma menina foram vítimas de balas perdidas. A garota,
aliás, foi protagonista de uma cena absurda ao ser levada para a emergência do
Hospital Salgado Filho e ter de esperar oito horas para ser atendida porque o
neurocirugião escalado para o plantão de Natal simplesmente faltou à escala. A
menina, depois de transferida para outro hospital, não resistiu e faleceu,
demonstrando o pouco caso com a população mais carente que paga impostos e não
tem um serviço público de saúde decente.
Ficar desfiando
casos aqui seria enfadonho, mas alguns chocaram, como o do rapaz de Campinas
que foi esfaqueado e morto pelo dono do restaurante no Guarujá por ter discutido
em razão de uma conta de sete reais, confirmando que a vida no Brasil realmente
vale muito pouco. Ou do rapaz de 17 anos de Goiânia que matou a sangue frio
três travestis porque, segundo ele, um deles o teria humilhado.
O problema nem é
somente da polícia, que efetua prisões, ou do Judiciário, que julga, mas, sim,
do Código Penal vigente, uma peça obsoleta e totalmente ineficaz para combater
a criminalidade. Ora, menores de idade matam com requintes de crueldade e o
tempo máximo que ficam presos é 90 dias, porque o Estatuto da Criança e do
Adolescente lhes garante uma imunidade inconsequente amparado no suposto maus
tratos aos menores de idade. É inadmissível que menores de idade, com diversos
crimes nas costas, sejam julgados como crianças indefesas. Eles devem ser
tirados do convívio da sociedade e arcarem com as consequências de seus atos.
Algo que,
convenhamos, acho difícil que venha a ocorrer, a julgar pela leniência com os
chamados réus primários. Ou seja, o sujeito pode matar pelo motivo mais torpe e
fútil que seja que dificilmente cumprirá uma pena exemplar. Bom comportamento
na prisão e progressão na pena colocam o agressor em liberdade em pouco tempo
para que ele volte a cometer mais crimes.
O que a sociedade
deveria cobrar dos políticos seria uma atualização do Código Penal brasileiro,
com a inclusão de prisão perpétua, eliminação de visitas íntimas e saídas
temporárias em épocas de festividades e, claro, um sistema penal decente que
possa de fato recuperar o “ reeducando”, como são chamados os prisioneiros.
Como não há verba para a construção de presídios, o governo deveria terceirizar
este serviço para a iniciativa privada, já que o governo federal está mesmo
numa fase privatista. Isto daria condições mais humanas aos detidos, que hoje
vivem amontoados em celas infectas, e cobriria o déficit de prisões para
acomodar os infratores.
Até mesmo a
possibilidade de pena de morte para malfeitores pode ser discutida.
Particularmente, sou contrário a ela, mas a população tem direito de se
manifestar sobre isto. Ironicamente, a pena de morte não é institucionalizada
pelo Estado, mas vem sendo praticada por esquadrões da morte que cometem
chacinas nas periferias das capitais, muitas vezes matando pessoas inocentes
que tiveram a infelicidade de estarem no lugar errado na hora errada. Isto é
outra coisa que precisa ser eliminada para que a população aprenda a ter
respeito e confiança na polícia e deixar de confundir proteção de bandidos como
algo benéfico.
* Foi repórter do
Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996,
onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da
revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
Sem comentários:
Enviar um comentário