As próximas
eleições quenianas podem ser verdadeiramente revolucionárias. Pela primeira vez
foram introduzidos mandatos reservados exclusivamente às mulheres. Uma forma de
encorajar a participação política feminina.
A nova
Constituição, que entra em vigor com as eleições gerais de 4 de março, é
ambiciosa, para um país no qual as mulheres, até agora, praticamente não tinham
um papel na política. O que não significa que as perspetivas eleitorais da
única mulher que se candidata à presidência sejam muito boas. Sondagens
recentes indicam que nem sequer um por cento dos eleitores tenciona votar em
Martha Karua. A grande cena política continua a ser um território
exclusivamente masculino.
E o caminho para o
Parlamento é longo e penoso. Rachel Yegon é candidata ao parlamento. A
empresária de Kericho, no oeste do país, é financeiramente independente, o que
a distingue da maioria das quenianas: “A falta de poder económico das mulheres
é o maior problema”, diz Yegon: “Até para se tornarem ativas na política devem
primeiro pedir a autorização dos homens. Depois têm que pedir por um carro,
dinheiro, e muitas coisas mais. E pedir todos os dias. É claro que o homem se
farta depressa e deixa de apoiar a mulher”.
A importância do
dinheiro
Sem dinheiro não há
como levar avante uma campanha eleitoral, que no Quênia é dispendiosa. Para
além dos custos de transporte e dos cartazes, há que pagar uma taxa para
nomeação, custear a publicidade nos meios de comunicação e dar prendas em
dinheiro a potenciais eleitores.
Outro obstáculo
para as mulheres é o facto de muitas vezes terem menos educação dos que os
homens. Quanto mais importante é o cargo público, maiores são as exigências em
termos de formação. Sobretudo nas partes mais remotas do país, mas também nas
regiões costeiras e entre a etnia massai, no sul, não será, por isso, fácil,
haverá poucas mulheres candidatas à assembleia nacional, receiam os
observadores.
Condições especiais
Originalmente a
Constituição de 2010 queria ir mais longe, estipulando que nem homens, nem
mulheres, deveriam ocupar mais de dois terços dos cargos na administração
pública, incluindo o Parlamento. Em dezembro de 2012, poucos meses antes do
sufrágio, o Tribunal Supremo do Quénia decidiu que a regra só se aplicaria
progressivamente após as eleições de março. Não obstante, o o número de
deputadas vai aumentar. Nas próximas eleições haverá, 47 mandatos reservados às
mulheres – um por círculos eleitoral -, a acrescentar aos 222 já existentes.
Hassan Omar, candidato pelo cidade costeira de Mombasa, acha que esta não pode
ser a solução: “Estou muito desiludido com o movimento feminista queniano.
Agora temos mandatos especiais para as mulheres, e é só por estes que a maioria
delas se interessa, Deixam de parte todas as outras possibilidades ao seu
alcance”.
Joan Birika,
colaboradora queniana da Fundação alemã Heinrich Böll, em Nairobi, contrapõe
que uma vez no Parlamento, as mulheres podem influenciar muito a política:
“Basta ver o que já conseguiram as sete ou nove por cento de deputadas atuais
no Parlamento. Veja as muitas leis por elas propostas. São iniciativas úteis
para as pessoas”. Birika dá como exemplo a política de consumo de álcool: “O
álcool clandestino é a causa de um problema enorme de desemprego sobretudo
entre os mais jovens. A nova lei é boa para os homens e as mulheres”.
A promoção da
reconciliação
A politóloga espera
que as mulheres ajudem a superar os conflitos étnicos do país. Ao contrário dos
homens, as mulheres mudam de pertença étnica ao longo da sua vida através do
casamento, explica Birika. Por isso estão bem colocadas para superar as
barreiras étnicas e culturais e defender um verdadeiro programa político.
Autora: Maja
Braun/António Rocha - Edição: Cristina Krippahl
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