Detsche Welle
Brasil vai fechar
convênios com Rússia para equipar Forças Armadas com baterias antiaéreas, além
da produção de mísseis. Embraer deve firmar acordos na área de defesa. Banco de
fomento para o Brics poderá ser lançado.
A presidente Dilma
Rousseff e o vice-presidente Michel Temer vão receber em Brasília a visita do
primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, a partir desta quarta-feira (20/02).
Em dois dias, os encontros devem gerar acordos principalmente nas áreas de
defesa, tecnologia e agricultura.
Medvedev vai
participar da 6ª reunião da Comissão de Alto Nível (CAN) de Cooperação
Rússia-Brasil – copresidida por Temer e Medvedev. Na lista de discussões está,
ainda, a criação de um banco de desenvolvimento para fomentar empresas dos
países que compõem o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
"A visita de
Medvedev tem um grande significado. Apesar de o comércio entre os dois países
ter aumentado muito, temos pontos a serem resolvidos, como por exemplo, o
embargo da carne pelos russos e a compra dos aviões caça Sukhoi para a
Aeronáutica", frisou Paulo Carvalho, professor de Ciências Políticas da
Universidade de Brasília (UnB).
Para equipar suas
Forças Armadas, o Brasil deve comprar dos russos três baterias antiaéreas de
alta tecnologia Pantsir S1– que lança mísseis terra-ar com alcance de 20km e
15km de altitude – e realizar, ainda, um acordo joint venture entre
Embraer, Avibrás e Odebrecht Defesa e Tecnologia para produzir mísseis Igla-S,
que podem ser disparados a partir do ombro de um soldado. Em todos os casos, os
russos teriam disposição de transferir tecnologia para o Brasil. O valor da
operação ainda não foi definido.
Entre os convênios
simbólicos, está a instalação de um ponto de calibragem do sistema russo de
localização geográfica concorrente do GPS, o Glonass. Há a possibilidade de a
Embraer fechar um acordo para construir um avião civil de médio porte da sua
congênere russa.
Carvalho acredita
que o caça russo Sukhoi ainda tenha grandes chances de ser o escolhido para
equipar a Aeronáutica do Brasil, e que o assunto continuará a ser discutido em
Brasília. Os aviões russos disputam a preferência brasileira com o francês
Rafale, o sueco Gripen NG e o norte-americano F18 Super Hornet – este último,
produzido pela Boeing. "O nível de transferência tecnológica oferecida
pelos russos ao Brasil é grande", frisou.
Banco do Brics
Rousseff deverá discutir
com Medvedev a criação de um banco de desenvolvimento do grupo Brics, que
atuaria na liberação de linhas de financiamento para empresas do Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul. Essa instituição, nos moldes do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), poderá ser oficializada
na próxima reunião do Brics, em março deste ano, na África do Sul.
Gilberto Ramos,
presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, acredita que será estabelecida
uma cooperação entre os dois bancos nacionais de desenvolvimento para a criação
de linhas de crédito voltadas a projetos que envolvam transferência de
tecnologia da Rússia para o Brasil nas áreas de energia, fármacos e
desenvolvimento de novos materiais. O Brasil poderá fechar parceria, ainda, com
universidades russas para receber estudantes brasileiros pelo programa de
intercâmbio Ciências Sem Fronteiras.
Outra possibilidade
discutida por brasileiros e russos é o uso do real e do rublo no intercâmbio
comercial entre os dois países. A Rússia já possui acordo semelhante com a
China e a Índia; o Brasil, por sua vez, com a Argentina.
A presidente
brasileira deverá aproveitar o encontro com o primeiro-ministro russo a fim de
pedir apoio à candidatura do diplomata brasileiro, Roberto Azevêdo, para a chefia
da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em entrevista
exclusiva para a DW, no início de fevereiro, Azevêdo afirmou que pretende
fortalecer sistema multilateral de comércio e avançar com as negociações da
Rodada de Doha – que está parada há 12 anos e tem o objetivo de remover
barreiras comerciais entre os países.
Fim do embargo da
carne?
O tema agricultura
também dominará parte das reuniões entre as delegações e líderes políticos. O
Brasil deseja ampliar a venda de carne e soja para a Rússia, enquanto esta
ainda analisa se retira o embargo às exportações de carne de três estados
brasileiros – Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que já dura mais de um
ano e meio.
Na visita de
Rousseff a Moscou, em dezembro do ano passado, quando se reuniu com Medvedev e
o presidente russo, Vladmir Putin, existia a expectativa de que o governo russo
fosse finalmente suspender a restrição à carne brasileira – o que acabou não
acontecendo e, de certa forma, frustrando parte da delegação de técnicos,
empresários e políticos brasileiros enviados à Rússia.
Mesmo com o
embargo, a Rússia continua sendo o maior destino das exportações de carne suína
e bovina do Brasil. "Os comitês veterinários e fitossanitários dos dois
países estão reunidos desde segunda-feira. Temos expectativa que haja evolução
quanto ao tema", frisou Gilberto Ramos.
De Brasília, o
primeiro-ministro russo segue para a capital cubana, Havana, onde vai se
encontrar com o presidente Raúl Castro. O objetivo da visita à ilha caribenha é
aumentar o intercâmbio comercial entre os dois países.
Autor: Fernando
Caulyt - Revisão: Augusto Valente
Sem comentários:
Enviar um comentário