quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ERC iliba Nuno Santos no caso das imagens sobre confrontos frente ao Parlamento




MARIA LOPES – Público – foto ENRIC VIVES-RUBIO

Regulador diz que o acesso da PSP às imagens foi “propiciado” pela ausência de normas internas sobre tais práticas e aconselha a RTP a reparar essa falha.

A ERC ilibou o ex-director de Informação da RTP, Nuno Santos, de culpas no caso do visionamento pela PSP das imagens dos confrontos em frente ao Parlamento no dia 14 de Novembro.

“A partir das versões diametralmente opostas apresentadas na ERC não é possível atribuir responsabilidades individuais pelo sucedido, mas reconhecer que um colectivo agiu de acordo com diferentes concepções sobre os acontecimentos e as suas implicações”, lê-se na deliberação da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, a que o PÚBLICO teve acesso.

Contactado pelo PÚBLICO, Nuno Santos saudou o facto de a ERC ter “produzido um documento independente, de grande qualidade, consistente e com uma visão aprofundada dos acontecimentos e do seu contexto”.

Mais: “O documento da ERC, contrariando o ‘inquérito’ interno da RTP, iliba-me de forma inequívoca - enfatizando o meu entendimento sobre o acesso a ‘brutos’, que era conhecido.”

O ex-director de Informação, que se demitiu do cargo na sequência do caso por considerar que se tinham quebrado os laços de confiança com a administração liderada por Alberto da Ponte, diz ainda que este é um texto “muito importante para o futuro porque obriga a empresa a criar regras e deixa claro onde está o poder editorial e onde não deve chegar a intervenção do conselho de administração”.

Não foi possível obter um comentário da administração da RTP, cujo presidente, Alberto da Ponte, se encontra em visita a Moçambique com o ministro Miguel Relvas.

A decisão foi tomada na quarta-feira, por unanimidade, mas a votação foi feita apenas por três membros do Conselho Regulador: o presidente Carlos Magno, o vice-presidente Alberto Arons de Carvalho e a vogal Luísa Roseira. Os outros dois membros – Raquel Alexandra e Rui Gomes – não participaram por terem estado ausentes durante boa parte das audições e do processo inicial de averiguações.

No âmbito deste processo de inquérito que a ERC abriu já no final de Novembro, o regulador chegou à conclusão que a RTP não tem as regras de procedimento sobre como actuar num caso deste género. Por isso faz uma série de recomendações ao operador público que, realça a ERC, enquanto órgão de comunicação “sobre o qual impendem as obrigações específicas do serviço público de televisão, não pode permitir brechas na relação de confiança que estabelece com os cidadãos”. A RTP deve, por isso, certificar-se que os “procedimentos internos” são “transversalmente reconhecíveis e perfilhados por todos os seus profissionais”.

A ERC recomenda por isso à RTP que coloque por escrito e divulgue as “normas que norteiam o acesso de entidades externas a imagens ou sons captados por jornalistas e outros profissionais ligados à informação, e que não tenham sido emitidos, de forma a uniformizar as práticas internas”.

O regulador considera que a direcção de Informação da RTP, “enquanto estrutura colectiva, não conseguiu evitar que agentes da PSP visionassem imagens captadas pelas equipas jornalísticas na manifestação de 14 de Novembro de 2012, sem acautelar a salvaguarda do eventual sigilo profissional, mediante audição e autorização prévia dos jornalistas que recolheram as imagens em causa”.

Mas também chegou à conclusão que o acesso da PSP às imagens acabou por ser “propiciado pela ausência de normas internas que, assegurando as especificidades dos materiais jornalísticos, convencionem e cristalizem as práticas, tornando-as verdadeiramente universais e inquestionáveis” para todos os que lidam com os conteúdos (sons e imagens), sejam ou não jornalistas.

Na deliberação, o órgão presidido por Carlos Magno adverte também a RTP que deve dar a possibilidade aos jornalistas de decidirem se o material que recolheram (som e imagem) deve beneficiar do sigilo profissional antes de o integrar nos servidores internos e disponibilizados assim a toda a gente que ali trabalha. E o operador público deve assegurar também, se esses conteúdos forem classificados como tal, que não sejam acessíveis a colaboradores (por exemplo técnicos) que não estejam sujeitos ao segredo profissional, como estão os jornalistas. 

Opinião Página Global

A ERC, assim, dá origem a que a culpa volte a morrer solteira. Neste caso as normas internas da RTP são as que regem a deontologia dos jornalistas e dos profissionais de apoio que têm nas empresas. Conforme é escusado perguntar ao cego se quer ver também o é (devia ser) perguntar a profissionais de informação se revelam - e com isso inculpam - aquele ou aqueles que são agentes e causa do seu trabalho de informar, nem quando têm imagens ou registos sonoros que estão em formato de “brutos”. Ou seja, se no caso do cego é escusado perguntar-lhe se quer ver porque sabemos que ele diz que sim, também no caso do jornalistas, jornalistas ou apoios, devia ser escusado por que a resposta deve ser não. O que neste caso se constata é uma cínica e preocupante propensão pidesca da polícia e dos profissionais da RTP envolvidos. E a PIDE ou os PIDES está e estão na memória de Portugal como algo terrivel, asqueroso, desumano, assassino e destruidor da democracia em prol da ditadura. 

Já vivemos uma ditadura de maiorias eleitas com mentiras para captar votos e se os jornalistas colaborarem com este estado de coisas e com este terrorismo de estado facilmente se advinha para onde caminhamos. Os responsáveis da PSP e da RTP, envolvidos e de acordo, deviam ser punidos. Mas constata-se que a culpa vai uma vez mais morrer solteira. São todos bons rapazes e raparigas, como eram entre eles os PIDES. Não é só Nuno Santos que poderá estar em causa porque no caso tudo e todos estão em causa. A partir de agora sabemos que as imagens de manifestações (ou outros eventos) gravadas pelas televisões, jornais, etc., podem vir a ser objeto de trabalho de bufaria a ser usado pelas polícias pidescas deste governo e situação saudosista de Salazar-Caetano e, quem sabe, talvez de Hitler. 

Que polícias enfiarão a carapuça de Gestapo? Que profissionais da informação serão seus informantes e colaboradores? Só o tempo o dirá. O que agora pode parecer um exagero talvez daqui por uma década ou menos não o seja. (Redação PG)

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