quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Passos, insensível, atravessa o "corredor da morte" política na Faculdade de Direito de Lisboa!




João Lemos Esteves – Expresso, opinião

1. Ontem, Passos Coelho dirigiu-se à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa com o objectivo de encerrar a conferência sobre o futuro do Estado, organizada pela JSD. Esta conferência iniciou-se logo pela manhã com a presença do Secretário de Estado dos Assuntos Europeus e do Ministro da Economia, Santos Pereira, mas teve obviamente na presença do Primeiro-Ministro o seu ponto alto. Aliás, a conferência foi pensada exclusivamente para permitir um palco para Passos Coelho aparecer numa Universidade, depois dos incidentes da passada semana com Miguel Relvas no ISCTE. Após os reparos de Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário de domingo na TVI (que, recorde-se, perguntou onde andava a JSD para defender o executivo), a JSD quis responder de imediato, fazendo prova de vida ao organizar à pressão a conferência de ontem. E aqui cumpre atribuir mérito (muito) à JSD nacional e ao seu presidente: conseguir organizar uma conferência, sob o título pomposo de "debate de uma geração" em dois dias, com nomes como o sindicalista João Proença (líder da UGT, que, aliás, foi o mais efusivo nos cumprimentos ao Primeiro-Ministro: o abraço entre Passos Coelho e João Proença foi o mais forte da tarde), dando uma oportunidade para Passos Coelho fazer uma demonstração de força na FDL, é um feito digno de registo. E a JSD teve o cuidado de garantir a presença de militantes seus de todo o país: havia militantes das estruturas do Norte, do Centro e do Sul de Portugal. Esta foi a nota mais positiva da tarde: a JSD - quando quer! - consegue mobilizar-se e dizer, sem medo, presente. A mobilização não é, pois, um exclusivo do PCP ou do Bloco de Esquerda.

2. Posto isto, convém elucidar os leitores do EXPRESSO que esta visita do Primeiro-Ministro foi também um teste aos elementos da sua Segurança pessoal. Depois dos erros cometidos no ISCTE, este era a oportunidade para corrigir lapsos de logística e de estratégia. Como é que fizeram? No dia anterior à visita do Primeiro-Ministro, elementos da sua Segurança visitaram a Faculdade de Direito, estudaram o terreno, falaram com alunos, mediram o grau do perigo. Ao longo do dia de ontem, a Faculdade foi literalmente "tomada de assalto" por polícias, fardados e muitos à paisana que se mantiveram em zonas de grande afluência de alunos, como foi o caso do Bar da Faculdade. Houve, inclusive, no dia anterior, contactos intensos entre o Director da Faculdade de Direito e o gabinete do Primeiro-Ministro para garantir que não haveria falhas de segurança. Quando Passos Coelho chegou, o acesso ao auditório foi barrado para impedir que os manifestantes impedissem o Primeiro-Ministro de proferir o seu discurso: tentou garantir-se ao máximo que os presentes no auditório fossem não-hostis para Passos Coelho. Depois, à saída, foi o descalabro total, com os seguranças a abrirem caminho, empurrando os manifestantes, que começaram a cercar Passos Coelho, com um a queda aparatosa de um jornalista e alguns alunos a ficarem em pânico. A verdade é que foi um percurso muito difícil para Passos Coelho, que manteve uma cara insensível para esconder o seu receio. E o caso só não atingiu proporções maiores, porque os manifestantes organizaram-se, também eles, num curtíssimo espaço de tempo: a conferência apenas foi anunciada no final de tarde do dia anterior, não dando tempo para uma grande mobilização dos opositores de Passos Coelho. Em termos de Segurança, a visita de Passos Coelho à Faculdade correu, pois, melhor do que a visita de Miguel Relvas ao ISCTE.

A inabilidade política de Passos Coelho: chegará o seu Governo  a 2015?

3.Por último, cumpre apreciar qual foi o objectivo político de Passos Coelho ao deslocar-se à Faculdade de Direito de Lisboa. Foi proferir um discurso marcante sobre " a próxima geração e o seu futuro"? Foi aproveitar a honra e o privilégio de estar na maior e melhor Faculdade de Portugal para anunciar as linhas de reforma do Estado? Anunciar como vai cortar na despesa do Estado? Não, nada disso. Passos Coelho, no seu discurso, não disse rigorosamente nada de jeito. Nada que se aproveitasse. A única frase que resulta do discurso de Passos Coelho é até perigosa - o dizer que as manifestações são "modas passageiras". Esta é uma frase explosiva, cujo único feito é convidar ainda mais manifestantes a revoltarem-se ainda mais contra Passos Coelho e contra o seu Governo. O problema é que - volto a afirmar! - parece que Passos Coelho está a provocar os portugueses. Será que não há ninguém no Governo que diga a Passos Coelho que o tom do seu discurso e a sua gestão política são miseráveis? Que as manifestações são resultado, para além de medidas discutíveis, dessa sua arrogância e obstinação em persistir no erro -só para não dar razão a terceiros? Passos Coelho faz lembrar um menino birrento...Quem perde? Portugal. Porque o PSD corre o sério risco de se afastar completamente dos portugueses...com consequências para os próximos (longos?) anos. Por conseguinte, aqueles que hoje se limitam a prestar vassalagem ao Primeiro-Ministro deveriam acordar para a vida e fazer perceber a Passos Coelho que está errado. Enfim...

Uma aluna dizia com piada e argúcia analítica que "Passos Coelho atravessou o corredor da morte" ontem. Corredores como este podem bem ser a causa da sua "morte" política. Vejam bem como está o Governo: já não se fala na próxima legislatura. O horizonte já não é voltar a ser Governo em 2015. Não: o Governo Passos Coelho, neste momento, está a lutar para se aguentar até 2015! Mais palavras para quê?

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