No pós-Guerra,
Alemanha estava tão endividada quanto a Grécia de hoje, colhendo olhares
desconfiados dos credores. Há 60 anos, porém, país teve metade de seus débitos
perdoados e começou a se reerguer.
Até hoje, muitos
alemães sentem orgulho do chamado "milagre econômico" do pós-Guerra,
quando o crescimento foi excepcional. Somente entre 1953 e 1963, o Produto
Interno Bruto (PIB) da recém-fundada Alemanha Ocidental duplicou.
Desde então,
gerações de crianças e adolescentes aprenderam na escola que os alemães são um
povo inacreditavelmente esforçado e trabalhador, que, com o apoio dos Estados
Unidos, conseguiu reerguer o país. "Esse é um exemplo lamentável de como a
História é recalcada neste país", diz Jürgen Kaiser, da aliança
erlassjahr.de, que faz campanha pelo perdão da dívida de países em
desenvolvimento.
Segundo ele, os
alemães reprimem da memória o fato de que, depois da Segunda Guerra, a própria
Alemanha se encontrava desesperadamente endividada, de maneira semelhante à
Grécia dos dias de hoje.
Foi somente o
chamado Acordo de Londres, assinado há exatos 60 anos, que fez com que o país
pudesse respirar de novo, lembra a historiadora Ursula Rombeck-Jaschinski, da
Universidade de Stuttgart. "Pode-se até mesmo afirmar que o milagre
econômico não teria sido possível sem o perdão da dívida", afirma.
30 bilhões de
marcos de dívidas
Naquela época,
cerca de 70 países cobravam dinheiro da Alemanha – dívidas contraídas em parte
antes e em parte depois da guerra. No total, o país devia 30 bilhões de marcos,
e economizar e pagar aos poucos não era uma alternativa viável. Pelo contrário:
a economia alemã precisava de investimentos, a fim de que a reconstrução e o
crescimento pudessem ser financiados.
Para o banqueiro
Hermann-Josef Abs, que conduziu a delegação alemã nas negociações em Londres,
essa ideia estava mais do que clara. Suas palavras de ordem eram: os credores
de hoje têm que se transformar nos investidores de amanhã.
As negociações
começaram em meados de 1952 e foram lentas e difíceis. Não se sabia ainda ao
certo se os credores iriam de fato abdicar de seus créditos, nem se iriam
confiar nos alemães.
"Houve até
mesmo um momento em que as negociações quase fracassaram", conta Rombeck-Jaschinski.
"Os alemães apresentaram aos credores estrangeiros uma proposta que, na
visão do então Ministério das Finanças, era o máximo da viabilidade. Os
credores acharam a sugestão um desaforo."
Desconfiança dos
credores
Os alemães foram
obrigados a mudar o documento, e as negociações então continuaram. Os paralelos
com as atuais conversas entre a Grécia e seus credores são evidentes. Naquela
época, em Londres, a meta também era encontrar um equilíbrio. Os credores
queriam reaver o máximo possível de seus recursos, mas, ao mesmo tempo, a
Alemanha não deveria ficar sobrecarregada.
"Principalmente
os britânicos defendiam a ideia de que os alemães poderiam, na verdade, pagar
tudo de volta", diz Rombeck-Jaschinski. "Mas os americanos passaram à
frente. A eles interessava que a Alemanha tivesse recursos para outras coisas,
especialmente para o rearmamento."
O acordo, selado,
enfim, no dia 27 de fevereiro de 1953, foi sensivelmente favorável à economia
alemã: pelo menos metade das dívidas foram perdoadas. O resto foi remanejado a
longo prazo.
O nascimento da
nação exportadora
Além disso, era
colocada naquele momento a pedra fundamental para o nascimento de uma nação
exportadora. A Alemanha só teria que pagar suas dívidas se ganhasse dinheiro
com o comércio exterior. Os credores tinham interesse em comprar mercadorias
alemãs, lembra Jürgen Kaiser. Segundo ele, uma solução parecida poderia ajudar
hoje a endividada Grécia – sobretudo porque o país, antes da crise, gastou
bilhões de euros para pagar tanques de guerra comprados da Alemanha.
Já
Rombeck-Jaschinski afirma que a situação de 60 anos atrás não pode ser
simplesmente comparada com a de hoje. Apesar disso, ela recomenda aos alemães
não esquecerem, em meio às negociações com a Grécia, que a própria Alemanha já
esteve desesperadamente afundada em dívidas, precisando de ajuda.
Autor: Andreas
Becker (sv) - Revisão: Rafael Plaisant Roldão
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