UMA VEZ MAIS PARA
ÁFRICA, RAPIDAMENTE E EM FORÇA
Martinho Júnior, Luanda
6 – A França possui
bases militares em vários países africanos e, no espaço do Sahel, da África do
Oeste e do Golfo da Guiné são conhecidas as que se situam no Tchade, no Níger,
no Senegal, na Costa do Marfim e no Gabão, muito em especial ali onde a “FrançAfrique”
e o “pré carré” mais se manifestam.
Esse é um arranjo
obtido a partir das independências, um arranjo que tem definido os
procedimentos neo coloniais que mantêm presas as elites dos respectivos países
aos interesses geo-políticos, económicos e financeiros de vinculação
(recorde-se os “réseaux Foccard” e, há 40 anos, a criação do Franco CFA).
É a partir do
território nacional francês e dessa grelha de bases que a França mobilizou
efectivos e meios para a Operação Serval e o que está a prever para a sua
sequência!
7 – A Operação
Serval foi concebida para, na sua fase mais ofensiva, durar cerca de um mês com
quatro objectivos de intervenção bem definidos:
- Neutralizar a
expansão dos grupos que deram corpo ao Azawad para sul, em direcção a Bamako,
dentro do Mali;
- Passar à
contra-ofensiva tomando sucessivamente Gao, Tombuctu, Kidal e Tessalit (na
fronteira com a Argélia) e desse modo pondo fim à efémera existência do Azawad;
- Criar as
condições para a chegada e instalação dos contingentes do Mali e dos outros
países africanos que deverão fazer a ocupação do território Azawad de forma a
garantir a soberania do Mali, mesmo que essa soberania esteja sujeita a
conjunturas instáveis de maior ou menor intensidade (é preciso recordar que os
efeitos do golpe de estado não foram ultrapassados).
- Manter quando
muito posições-chave, como por exemplo o controlo de pistas e aeroportos da
região, a fim de garantir os movimentos das unidades típicas de “soft power”
para lá da Operação Serval propriamente dita, entre elas as unidades de forças
especiais.
O “blietzcrieg” foi
de tal maneira rápido que não deu azo a que os órgãos de informação pública
conseguissem penetrar no teatro de operações de forma a pôr em causa as “versões
oficiais”.
Quanto mais para
norte foi a progressão mais isso foi dificultado (muito mais por causa das
condições do terreno do que por resistência armada dos grupos islâmicos
radicais).
É evidente que com
os bombardeamentos da aviação francesa é impossível não haverem “danos
colaterais” na população, mas essa “propaganda negativa” não ocorrerá enquanto
pelo menos decorrer a Operação Serval, apesar de alguns focos controversos…
depois logo se verá…
A intervenção visa
pois dar oportunidade aos “parceiros” africanos a reagirem, a ocuparem e a
tratarem de garantir soberania em cadeia no Sahel, a oeste de África e mais a
sul, em direcção pelo menos à Nigéria, sabendo de antemão que as forças armadas
dos envolvidos necessitarão de permanente apoio, instrução, organização,
comunicações e logística da França e do quadro da hegemonia sob tutela do
AFRICOM!
A parte mais odiosa
da campanha, as incidências negativas, ficarão pois para as forças africana, a
começar pelas do Mali!
Serão essas forças
também as mais acossadas pelas réplicas dos fundamentalistas e radicais
islâmicos…
8 – A guerra contra
o regime de Kadafi na Líbia teve o condão de propiciar instabilidade em cadeia,
por via dos “inimigos úteis” e, por sua vez, a “plataforma” do Mali deixa
previamente supor que a expansão dos grupos radicais islâmicos está garantida,
o que é o ideal para a geo estratégia que se acoberta no AFRICOM de que a “FrançAfrique”
é componente!
A França pode
avaliar melhor que os outros, as incidências humanas da situação que afecta uma
região onde é a dominante neo colonial “no terreno”.
A Operação Serval
ao mobilizar os efectivos franceses do Senegal ao Tchade (além dos reforços
destacados a partir de França), mobilizou as forças armadas de países como o Tchade,
o Níger, o Burkina Faso, o Senegal, o Togo, o Benim, a Costa do Marfim e a
Nigéria, no quadro da Missão Internacional de Apoio ao Mali sob conduta
Africana (MISMA)…
Se a retomada de
Kidal e Tombuctu foi feita juntamente com efectivos do Mali, Tessalit foi com o
acompanhamento do destacamento do Tchade.
9 – A ofensiva
francesa que conjugou os avanços terrestres com a manobra de ataque aéreo, tudo
isso mantendo uma impressionante operação de logística em terra, no ar e no
mar, foi feita com uma superioridade tal de forças que o MNLA e os grupos
radicais islâmicos combatentes, logo após os primeiros combates, “desapareceram
da circulação”:
- A 11 de Janeiro
teve início a Operação Serval, em resposta imediata ao ataque a Konna tomada
recentemente pelos islamitas (estrada em direcção a Bamako);
- Apesar do
abandono das cidades do norte na sequência dos bombardeamentos da aviação
francesa, os islamitas tomam a cidade de Diaballi (14 de Janeiro de 2013);
- A França retoma
Diaballi a 15 de Janeiro de 2013;
- A 16 de Janeiro
uma exploração de gás no leste da Argélia é tomada por grupos islamitas
radicais, tendo sido os seus trabalhadores feitos reféns; a acção constituiu-se
represália ao ataque francês no Mali;
- A 17 de Janeiro
forças malianas reentraram em Konna, retomando a cidade;
- A 19 forças
especiais da Argélia retomam a unidade de exploração de gás no leste do país;
- A 21 de Janeiro
forças francesas e malianas entram em Diabali e Douentza;
- Gao é tomada
pelas forças conjuntas maliana e francesa a 26 de Janeiro;
- Tombuctu é tomada
a 28 de Janeiro, sem combates;
- O Presidente
François Hollande visita Tombuctu e Bamako a 2 de Fevereiro;
- Forças francesas
ocupam o aeroporto de Kidao, enquanto tropas tchadianas ocupam a mesma cidade a
5 de Fevereiro;
- À volta de Gao
registaram-se pequenas escaramuças com radicais islâmicos no dia seguinte;
- A 8 de Fevereiro
forças conjuntas francesas e tchadianas ocupam Tessalit, no norte, junto à
fronteira do Mali com a Argélia; nesta mesma data registou-se em Gao o primeiro
ataque suicida;
- A 10 de
Fevereiro, combatentes do MUJAO atacam o centro de Gao, na sequência de outros
dois ataques suicidas, entrando em confronto com forças do Mali…
Quer dizer que ao
cederem o terreno e ao não oferecerem resistência directa à ofensiva francesa,
os grupos islâmicos prepararam-se para um longo combate, que serão
principalmente as forças africanas a enfrentar, pois são elas que, no quadro da
MISMA e sob os auspícios da ONU, irão articular a ocupação.
Os franceses
reservam para si o papel da intervenção “onde for necessário” em todo o Sahel,
tirando partido dos suportes do quadro das medidas de “Inteligence,
Surveillance and Reconnaissance” que mantêm com os norte-americanos, assim como
de suas bases de há décads instladas e de sua enorme potencialidade logística.
Tudo isso está
integrado na perspectiva geo política e geo estratégica ampla do AFRICOM, mas a
ocupação, a parte mais penosa, está reservada aos africanos na base do sistema
e em nome das soberanias dos respectivos estados!
É necessário para a
ingerência neo colonial toda a doutrina de contra-subversão e luta contra o
terrorismo são as potências ocidentais que detêm a filosofia assim como toda a
panóplia de meios que vão fornecer aos estados… depois de haverem accionado a seu
tempo, “inteligentemente”, os grupos “terroristas”…
Mapa: Ilustração (não
exaustiva) do afluxo de unidades militares francesas ao Mali no quadro da
Operação Serval (não constam, provavelmente por razões de “contra inteligência”,
as forças provenientes ou a operar a partir do Níger).
Consultas:
- Operation Serval
– http://fr.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Serval
- Dates-clés de
l'intervention de la France – http://fr.news.yahoo.com/mali-dates-clés-lintervention-france-195911400.html;_ylt=AnBL4K1cofiRU_FuzeGuB1Pq0Mh_;_ylu=X3oDMTNzYWxlcHYzBG1pdANDb2xsZWN0aW9uIE1lZ2F0cm9uBHBrZwMxNTkxMjU2Ni1kMzczLTM0MjgtOGM1OC1lZDY2ZTQ4ODJlN2IEcG9zAzMEc2VjA21lZ2F0cm9uBHZlcgM3ZTliNTA5MC03M2JjLTExZTItYmZmYy02YTY0N2ZkZjI1OGQ-;_ylg=X3oDMTFlOHMwbjZ1BGludGwDZnIEbGFuZwNmci1mcgRwc3RhaWQDBHBzdGNhdAMEcHQDc2VjdGlvbnM-;_ylv=3
- La presse
française assume le caractère colonial de l’opération Serval – http://www.voltairenet.org/article177315.html
- Un gouvernement
au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- Condamnation de
la guerre au Mali et dénonciation du complot néocolonial de l’Occident – http://www.voltairenet.org/article177366.html
- Il n’y a pas plus
aveugle que celui qui ne veut pas voir… - http://www.lequotidien-oran.com/?news=5178335
- Une intervention
indécente - http://www.courrierinternational.com/article/2013/01/22/une-intervention-indecente
- La France cache
les dégâts collatéraux de ses raids aériens sur le Mali – http://www.voltairenet.org/article177442.html
- Non. La guerre ce
n’est pas la France – http://www.voltairenet.org/article177446.html
- The War in Mali
and AFRICOM’s Agenda: Target China - http://www.globalresearch.ca/the-war-in-mali-and-africoms-african-agenda-target-china/5322517
- Rusia y China
lidian con el futuro de Mali – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162929
- Opération Serval
les forces françaises et tchadiennes s’emparent de Tessalit – http://www.defense.gouv.fr/operations/mali/actualite/operation-serval-les-forces-francaises-et-tchadiennes-s-emparent-de-tessalit
- Opération Serval
point de situation du jeudi 7 février 2013 – http://www.defense.gouv.fr/operations/mali/actualite/operation-serval-point-de-situation-du-jeudi-7-fevrier-2013
- La Force Licorne
en soutien de l’opération Serval – http://www.defense.gouv.fr/operations/mali/actualite/cote-d-ivoire-la-force-licorne-en-soutien-de-l-operation-serval
- Opération Serval
Engagement d’un escadron blindé AMX 10RC de Niamey à Gao – http://www.defense.gouv.fr/operations/mali/actualite/operation-serval-point-de-situation-du-jeudi-7-fevrier-2013
- Opération Serval
zoom sur le détachement Harfang (os drones franceses) – http://www.defense.gouv.fr/operations/mali/actualite/operation-serval-zoom-sur-le-detachement-harfang
- EADS Harfang – http://en.wikipedia.org/wiki/EADS_Harfang
- Security Council
Authorizes Deployment of African-led International Support Mission in Mali for
Initial Year-Long Period – http://www.un.org/News/Press/docs/2012/sc10870.doc.htm
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