domingo, 3 de fevereiro de 2013

Portugal: DOIS E DOIS SÃO QUATRO





Era previsível. Quase tão fácil como prever chuva e frio no inverno. Mas mesmo assim Passos Coelho arriscou. A polémica não vai apenas desgastar o novo secretário de Estado.

Vai arrastar todo o Governo, que terá de justificar - António José Seguro estranhou ontem a ausência de explicações do primeiro-ministro - por que razão decidiu recrutar um ex-administrador do BPN. A "vergonha" permitida por Cavaco Silva, como diz Manuel Alegre, ou a acusação violenta de Jerónimo de Sousa de que, "para o Governo, o crime compensa" são apenas a constatação de que a ética pública não pode nem deve ser contornada.

Mas pior ainda. Pedro Passos Coelho voltou a abrir, completamente a despropósito, mais uma brecha na coligação. O CDS, que parece não ter sido ouvido na escolha de Franquelim Alves, está "incrédulo". E a dúvida é moral: "Como é que alguém que sai da administração de Oliveira Costa e de Abdool Vakil, que reconheceu que não informou o Banco de Portugal sobre a situação real do banco, que é co-responsável por essa gestão desastrosa, pode ser secretário de Estado?" A simplicidade da pergunta feriu de morte o novo secretário de Estado de Álvaro Santos Pereira - ainda que digam que é um injusto juízo de valor, e que Franquelim Alves não é arguido, nem está condenado em nenhum inquérito do BPN.

O silêncio de uma explicação

Opresidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, pronunciou-se ontem sobre a existência de uma conta bancária clandestina utilizada pelo ex-tesoureiro do Partido Popular para canalizar donativos e efetuar determinados pagamentos a dirigentes do partido. As suas palavras foram taxativas: garantiu "ser falso" ter recebido alguma vez "qualquer verba ilegal", e que o PP "não tem" e "nunca teve" contas bancárias no estrangeiro. Disse ainda estar em curso uma campanha para desacreditar o PP, e desestabilizar a atuação governativa.

Contudo, como foi de imediato notado pela oposição socialista - com o seu líder a querer antecipar uma espécie de certidão de óbito político do governante conservador - e por diferentes comentadores no país vizinho, Rajoy explicitou uma só medida: a publicação das suas declarações de rendimentos. Tudo o mais foram palavras. Rajoy acabou por esclarecer muito pouco, ou nada. Não houve, sequer, uma referência às conclusões de auditorias em curso às finanças do partido. E o tema foi abordado na reunião do PP.

Como também foi referido, falta determinar em sede própria a autenticidade dos documentos mostrados e comentados por alguns títulos da imprensa do país vizinho. Mas as declarações do governante conservador não contribuíram em nada para esclarecer essa dúvida. Do comportamento de Rajoy só se pode extrair uma de duas conclusões: ou se está perante um erro de cálculo político ou perante a gestão calculada de um erro do passado.

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