Diário de Notícias
- editorial
Era previsível.
Quase tão fácil como prever chuva e frio no inverno. Mas mesmo assim Passos
Coelho arriscou. A polémica não vai apenas desgastar o novo secretário de
Estado.
Vai arrastar todo o
Governo, que terá de justificar - António José Seguro estranhou ontem a
ausência de explicações do primeiro-ministro - por que razão decidiu recrutar
um ex-administrador do BPN. A "vergonha" permitida por Cavaco Silva,
como diz Manuel Alegre, ou a acusação violenta de Jerónimo de Sousa de que,
"para o Governo, o crime compensa" são apenas a constatação de que a
ética pública não pode nem deve ser contornada.
Mas pior ainda.
Pedro Passos Coelho voltou a abrir, completamente a despropósito, mais uma
brecha na coligação. O CDS, que parece não ter sido ouvido na escolha de
Franquelim Alves, está "incrédulo". E a dúvida é moral: "Como é
que alguém que sai da administração de Oliveira Costa e de Abdool Vakil, que
reconheceu que não informou o Banco de Portugal sobre a situação real do banco,
que é co-responsável por essa gestão desastrosa, pode ser secretário de
Estado?" A simplicidade da pergunta feriu de morte o novo secretário de Estado
de Álvaro Santos Pereira - ainda que digam que é um injusto juízo de valor, e
que Franquelim Alves não é arguido, nem está condenado em nenhum inquérito do
BPN.
O silêncio de uma
explicação
Opresidente do
Governo espanhol, Mariano Rajoy, pronunciou-se ontem sobre a existência de uma
conta bancária clandestina utilizada pelo ex-tesoureiro do Partido Popular para
canalizar donativos e efetuar determinados pagamentos a dirigentes do partido.
As suas palavras foram taxativas: garantiu "ser falso" ter recebido
alguma vez "qualquer verba ilegal", e que o PP "não tem" e
"nunca teve" contas bancárias no estrangeiro. Disse ainda estar em
curso uma campanha para desacreditar o PP, e desestabilizar a atuação
governativa.
Contudo, como foi
de imediato notado pela oposição socialista - com o seu líder a querer
antecipar uma espécie de certidão de óbito político do governante conservador -
e por diferentes comentadores no país vizinho, Rajoy explicitou uma só medida:
a publicação das suas declarações de rendimentos. Tudo o mais foram palavras.
Rajoy acabou por esclarecer muito pouco, ou nada. Não houve, sequer, uma
referência às conclusões de auditorias em curso às finanças do partido. E o
tema foi abordado na reunião do PP.
Como também foi
referido, falta determinar em sede própria a autenticidade dos documentos
mostrados e comentados por alguns títulos da imprensa do país vizinho. Mas as
declarações do governante conservador não contribuíram em nada para esclarecer
essa dúvida. Do comportamento de Rajoy só se pode extrair uma de duas
conclusões: ou se está perante um erro de cálculo político ou perante a gestão
calculada de um erro do passado.
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