Diário de Notícias,
editorial
Perante a marcha
acelerada para o abismo da economia portuguesa, ao longo do ano de 2012, já não
é possível fingir que não se vê o que está à vista de todos, nem é aconselhável
embalar a realidade no manto diáfano da retoma ao virar da conjuntura.
Para produzir os
resultados esperados, a estratégia da troika, assumida com arreganho pelo
Governo, assentou em hipóteses que não se confirmam. Mudar o rumo ao tecido
económico no sentido da produção de bens exportáveis pressupõe reforçar todos
os que estão em condições de responder a uma procura externa dirigida à
produção deste país.
Abrir a economia, aumentar o peso do PIB nacional vendido
no estrangeiro, conduz a ganhos de competitividade e pode puxar pelo
investimento em novos projetos competitivos, melhorando o ambiente de negócios
em Portugal, condição de atração do investimento direto estrangeiro.
Quando a dosagem da
medicina é excessiva, a cura transforma-se num pesadelo para o paciente: toda a
Europa está a parar económicamente. 70% dos clientes externos de bens e
produtos "Made in Portugal" estão a encolher as suas bolsas. Com
todos os componentes da moeda única europeia a olhar cada vez mais para dentro,
a saída da crise, puxada pela procura externa, esvai-se.
Já nada mais resta
- na cartilha do Governo - do que esperar. Esperar que alguém com dimensão,
algures na UE, decida investir (mesmo à custa de algum endividamento adicional)
numa expansão mais pujante do seu PIB. E que os 17, os 27, ou uma qualquer
outra combinação entre estes, chegue à conclusão de que é preciso mudar a
dosagem do remédio: um pouco mais de défice, em troca de mais força na economia
real.
Só que essa não é a
receita prescrita por este Governo e seus três parceiros. É a receita de outros.
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