sábado, 16 de fevereiro de 2013

Portugal: O AJUSTAMENTO VAI NU




Diário de Notícias, editorial

Perante a marcha acelerada para o abismo da economia portuguesa, ao longo do ano de 2012, já não é possível fingir que não se vê o que está à vista de todos, nem é aconselhável embalar a realidade no manto diáfano da retoma ao virar da conjuntura.

Para produzir os resultados esperados, a estratégia da troika, assumida com arreganho pelo Governo, assentou em hipóteses que não se confirmam. Mudar o rumo ao tecido económico no sentido da produção de bens exportáveis pressupõe reforçar todos os que estão em condições de responder a uma procura externa dirigida à produção deste país. 
Abrir a economia, aumentar o peso do PIB nacional vendido no estrangeiro, conduz a ganhos de competitividade e pode puxar pelo investimento em novos projetos competitivos, melhorando o ambiente de negócios em Portugal, condição de atração do investimento direto estrangeiro.

Quando a dosagem da medicina é excessiva, a cura transforma-se num pesadelo para o paciente: toda a Europa está a parar económicamente. 70% dos clientes externos de bens e produtos "Made in Portugal" estão a encolher as suas bolsas. Com todos os componentes da moeda única europeia a olhar cada vez mais para dentro, a saída da crise, puxada pela procura externa, esvai-se.

Já nada mais resta - na cartilha do Governo - do que esperar. Esperar que alguém com dimensão, algures na UE, decida investir (mesmo à custa de algum endividamento adicional) numa expansão mais pujante do seu PIB. E que os 17, os 27, ou uma qualquer outra combinação entre estes, chegue à conclusão de que é preciso mudar a dosagem do remédio: um pouco mais de défice, em troca de mais força na economia real.

Só que essa não é a receita prescrita por este Governo e seus três parceiros. É a receita de outros.

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