Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
Para a esmagadora
maioria dos portugueses não está nada fácil resistir de cabeça levantada,
alimentar esperança e no dia a dia tocar a vida para a frente. As políticas de
mentira, de encenações fraudulentas, postas em prática pelo Governo e pela
União Europeia (UE), ampliadas por uma praga de analistas e comentadores de
serviço em grandes meios da comunicação social, geram realidades aparentes que
retraem o povo nos seus justos anseios a uma vida digna, submetem-no numa
exploração sem limites, isolam cada ser humano no seu sofrimento.
Recentemente foi
utilizada até à exaustão a ilusão da solução financeira decorrente da
"grande vitória" da ida aos mercados. Operação ardilosamente
trabalhada no plano nacional e europeu, contribuiu para desarmar críticas e protestos,
e acrescentou confusão no povo. Serviu para ampliar contradições no seio do
Partido Socialista e fazê-lo amochar enquanto oposição que devia ser, enquanto
força necessária para a construção de urgente alternativa.
Seguiram-se as
manipulações em torno da discussão do Orçamento Comunitário, valorizando-se de
forma desmedida os fundos de que vamos dispor, sem análise séria dos custos
impostos e escondendo que desta UE - com a atual política e relação de forças -
só virão medidas que limitam o nosso desenvolvimento.
A dura realidade
que marca, de forma contínua, a vida dos portugueses e o rumo do país não se
altera com as falsas aparências daquelas encenações. Ela prossegue na recessão
económica, no brutal desemprego, na dureza dos impostos e redução de salários e
pensões, na perda do poder de compra, nas falências que se multiplicam, na
emigração que aumenta, na pobreza que se amplia e atinge violentamente as
crianças.
O Governo é mero
instrumento das brutais políticas neoliberais e neoconservadoras que vão
imperando na Europa.
O CDS faz de conta
que discorda disto ou daquilo, apenas para tentar alguma credibilidade futura,
mas amocha para salvaguardar o lugar no Poder e por identidade genética com as
políticas conservadoras e retrógradas que sustentam o processo.
O presidente da
República há muito que amochou, enredado em contradições de vários tipos e na
falta de capacidade e de valores para estar à altura dos tempos que vivemos.
Mas, o povo não
pode amochar! Se os trabalhadores e o povo não reagirem, o descalabro
continuará. Se a recessão económica em 2013 for idêntica à de 2012, o
desemprego oficial aproximar-se-á dos 20% no final do ano. Isto é um desastre.
O desemprego não é
apenas um drama para cada desempregado e suas famílias. É catastrófico para
toda a sociedade. É a perda de produção de riqueza, de contributos para os
Orçamentos do Estado e da Segurança Social; um enorme desperdício de
competências e de qualificações das pessoas, que em pouco tempo aniquilará os
resultados do investimento feito na educação e formação; um empurrão da
juventude para fora do país, diminuindo e envelhecendo a população; um
abaixamento da qualidade do emprego e desincentivo à modernização organizacional
e tecnológica das empresas; um agravamento de disfunções na sociedade com
aumento das desigualdades, do trabalho infantil, dos custos com a saúde; uma
perda de valores sociais e de responsabilidades, que se refletirão nas relações
humanas, na vida familiar, na estruturação e funcionamento da economia e da
sociedade.
O Governo
prosseguirá sem inversão de rumo e limitar-se-á a "solicitar" aos
"credores" umas concessões no pagamento da dívida, concessões essas
que lhe serão garantidas na dimensão e características adequadas para manterem
as políticas de austeridade e o povo a pagar a dívida em toda a dimensão e com
custos elevadíssimos.
Não podemos ir no
jogo. O que se exige é uma renegociação séria e profunda da dívida, que liberte
recursos para o crescimento e a criação de emprego, acompanhada de políticas
com dimensão social que estanquem as carências gritantes e a pobreza. Isso só é
possível com uma mobilização social forte.
No seio das forças
sociais, económicas e políticas democráticas e genuinamente patrióticas, não
pode haver amoches ou taticismos que travem a urgência de uma nova política e
de um novo governo.
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