Tiago Mesquita – Expresso,
opinião
O longo reinado da
senhora procuradora Cândida Almeida terminou. A Procuradora-Geral da
República (PGR), Joana Marques Vidal, "despachou" finalmente a
senhora que nos últimos doze anos esteve à frente do DCIAP. Quanto a mim, vai
tarde.
Mas não foi fácil.
Mesmo convidada a mostrar a sua indisponibilidade para continuar, Cândida
Almeida reagiu mal, fincou o pé e teve de ser empurrada. Foram muitos anos à
frente de um departamento que gere os grandes processos, que envolvem o poder
político e financeiro. Inquéritos como o Freeport, Furacão, Submarinos,
Monte Branco e contratos da energia e das Parcerias Público-Privadas estiveram,
estão ainda, a seu cargo. Adora a berlinda, esta senhora. Nasceu para os
grandes palcos, mas com fracas actuações.
Não é preciso fazer
um desenho, basta observarmos alguns dos resultados destes inquéritos, a
condução dos mesmo e, mais grave, os desfechos, para percebermos a inutilidade
de Cândida Almeida. Estamos a falar de alguém que teve a distinta lata de dizer
que "o nosso país não é um país corrupto, os nossos políticos não são
políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos.
Portugal não é um país corrupto."
E, realmente, tendo
em conta o resultado dos processos que conduz, somos todos obrigados a concluir
que a senhora tinha razão. O Portugal de Cândida Almeida não é um país
corrupto. O nosso, infelizmente, é. No fundo, a senhora procuradora era
paga para combater uma coisa que na cabeça dela nem sequer existia. Como já
aqui disse, aos olhos da senhora procuradora a corrupção vinda de Espanha
chega ali a Badajoz e dá meia volta, com medo.
A pergunta é óbvia: por
que razão foi esta senhora permanentemente reconduzida no cargo pelos
antecessores de Joana Marques Vidal ? Mais, para que precisa a
justiça portuguesa de uma pessoa como Cândida Almeida? É fácil: para nada. Mas
este "nada" deve dar imenso jeito a quem é corrupto, pois foi e
continua a ser invisível.
Joana Marques Vidal
fez o que qualquer português de coragem, no cargo de PGR, teria feito há muito.
Infelizmente, muita gente que por ali passou não passava de um pau-mandado.
Cândida Almeida não deixa saudades, deixa, sim, a mágoa de muitos anos, e
euros, perdidos pela justiça portuguesa na luta contra a grande corrupção. E
sim, senhora procuradora, a corrupção existe mesmo. Parece impossível, não é?
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