Jornal de Angola
Familiares de
António Marques Monteiro, nacionalista julgado e condenado no “Processo dos
50”, anunciaram que vão processar judicialmente o antigo dirigente da UNITA
Makuta Nkondo por ter “proferido insultos à memória do nosso ente querido”.
O antigo deputado do Galo Negro afirmou que considera os nacionalistas julgados
no Tribunal Militar de Luanda, em 1961, “delinquentes, bandidos e violadores”.
António Marques Monteiro era dirigente do Movimento para a Independência de
Angola, uma das organizações que se fundiu no MPLA.
Foi julgado em Luanda, condenado e de seguida deportado para o Tarrafal, Cabo
Verde. “Sentimo-nos profundamente ultrajados pela forma grosseira,
irresponsável e gratuita como este indivíduo se refere ao mais famoso processo
político, que teve lugar durante a época colonial, que visou desbaratar o
movimento nacionalista angolano” dizem em comunicado os familiares de António
Marques Monteiro.
“Estão ainda por contar para a História de Angola, as acções de António Marques
Monteiro, na clandestinidade, em Luanda, bem como a sua sagacidade na defesa
dos oprimidos pelo hediondo sistema colonial”, diz o comunicado.
E pergunta: “onde estava o senhor Makuta Nkondo, quando os familiares dos
presos políticos do Processo dos 50 eram humilhados e rejeitados pelo sistema,
alegadamente por serem filhos de terroristas que ousaram contrariar a ordem
colonial?”.
Do processo existente na Torre do Tombo respeitante a António Marques Monteiro,
ressalta a sua coragem. Ele declarou, por escrito, que praticou actos “com
vista à obtenção da independência de Angola” e longe de se arrepender,
reforçou: “a este respeito apenas tenho a acrescentar que pretendi e pretendo a
Independência total, imediata e incondicional de Angola”. E para que os
seus algozes não tivessem dúvidas acrescentou ainda: “neste momento em que o
Povo de Angola se vem batendo e morrendo pela sua libertação, resta
congratular-me com a perfeita identificação e a vontade patente de todos os
meus compatriotas”.
Condenação do tribunal
O Tribunal condenou-o a uma pena de prisão e à sua deportação para o campo de
concentração do Tarrafal. O comunicado da família de António Marques Monteiro
diz sobre Makuta Nkondo: “o seu ódio visceral ao MPLA leva-o à cegueira
política, à desconcentração, à falta de responsabilidade e de respeito pelo
próximo, ofendendo aqueles que deram o melhor da sua vida, em defesa dos ideais
de independência e liberdade do povo angolano. O senhor é hoje livre de se
exprimir, porque houve pessoas como António Marques Monteiro e outros
integrantes do Processo dos 50 que deram um primeiro passo, na defesa dos
ideais que hoje Angola professa, que são a independência, a liberdade de
pensamento e de expressão. Por isso exigimos justiça para que aprenda a
respeitar a dignidade alheia”.
No dia 9 de Dezembro de 1961 foram condenados no Tribunal Militar de Luanda,
presidido pelo tenente-coronel Marçal Moreira, os seguintes angolanos que
lutavam pela independência de Angola: Ilídio Machado, André Franco de Sousa,
Higino Aires de Sousa, Carlos Aniceto Vieira Dias, Carlos Alberto Van-Dúnem,
António Marques Monteiro, Miguel de Oliveira Fernandes, Amadeu Amorim, Mário
António Soares de Campos, Gabriel Leitão e Luís Rafael.
Miguel Fernandes e Luís Rafael foram restituídos à liberdade porque lhes foi
descontada todo o tempo de prisão preventiva. Todos os outros foram enviados
para o Tarrafal cumprir as “medidas de segurança e internamento”. Makuta Nkondo
afirmou que estes angolanos de excepção eram “delinquentes, bandidos, ladrões e
violadores”. A família moveu-lhe um processo-crime.
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