sexta-feira, 1 de março de 2013

Portugal: COELHO RADICAL




Fernanda Câncio – Diáriode Notícias, opinião

Que levará alguém a enforcar um coelho em protesto contra um primeiro-ministro com apelido de láparo? Não sei se pergunta-ram ao moçoilo que ostentava a coisa que raio queria dizer com o preparo nem se tal nunca sucedeu antes porque desde Sá Carneiro que não há PM com nome de animal e uma ovelha sai cara e pesa. Mas foi a primeira vez que tivemos em Portugal algo de parecido com as efígies dos políticos enforcados ou em chamas que nos chegam periodicamente, pela TV, de outras partes do mundo.

Há quem considere a imagem radical. De mau gosto, chocante, gratuita, até obscena, é. E muito pior que isso se a virmos como uma ameaça do autor/autores em relação ao PM. Mas sabemos que ninguém a vê como tal -nem as dezenas de polícias que estiveram na Universidade de Lisboa, já que, ao contrário do que tem sido hábito com os cantores do Grândola (sem que a PSP justifique, como é obrigada pelo artigo 250º do Código do Processo Penal, o procedimento - e como poderia, se não há suspeita de crime invocável?), nem terão, que se saiba, identificado o dono do coelho. É pois, acima de tudo, uma piada de mau gosto que nada mais pressupõe que vontade de "vir na TV". Deve ser reprovada, claro. Mas considerá-la como sinal de "radicalização" é não saber o que é radicalização - ou, paradoxalmente, querer radicalizar a situação.

Porque, claro, falar de "radicalização" serve para assustar. Para dizer "nós ou o caos". Mas se um coelho enforcado ou insultos em corredores são radicalização, que dizer do partido que agora clama "reprovações enfáticas" à sua esquerda mas que quando há meses um seu deputado, presidente da JSD, afiançou que bateria em Sócrates se o encontrasse na rua, não achou necessário demarcar-se disso? Que dizer do Governo que de cada vez que o confrontam com as suas responsabilidades acusa o Executivo anterior de todos os males do País? Que expele discursos de ódio contra quem o antecedeu e arrasa, em histérico exorcismo, as marcas da governação PS? Que dizer de um político que chegou ao poder a prometer o fim da austeridade "para as pessoas" e que logo a seguir jurou ir "além da troika"? Que na oposição defendeu a criminalização dos governantes que fazem previsões económicas sistematicamente erradas e que no poder, sem acertar uma, diz que "previsões são previsões", sem sequer se desculpar? Que chama piegas aos que o elegeram e os manda emigrar, que diz que o desemprego e falências aumentam porque "tem de ser"?

Ser radical é recusar bom senso e consenso, ser cego e surdo a tudo o que não seja a sua conceção do certo e do caminho, ter a obstinação brutal dos fanáticos. É fazer do ódio discurso, chamar necessidade à violência, deitar fogo para fazer novo, "obra", sobre as cinzas. Radical é Passos e este Governo, não o tonto estudante com seu pobre bicho enforcado. E não é prisão nem banimento, muito menos morte (ridículo), que se lhe exige: demissão chega - mas urge.

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