Pedro Rainho –
Jornal i
Os números estão
longe de ser unânimes mas, em todo o país, pediram-se eleições antecipadas
José Aires segura
entre três dedos o cartão vermelho que trouxe à manifestação do movimento “Que
se lixe a troika”, em Lisboa. “A partir do momento em que não nos ouvem, só nos
resta vir para a rua”, diz o antropólogo, funcionário de uma empresa de higiene
e segurança no trabalho, enquanto espera pelos que, a encabeçar a manifestação,
começam a chegar à maior praça do país.
Veio à Praça do
Comércio porque, diz, sente-se “humilhado”. Reclama a falta de legitimidade do
governo para aplicar as receitas de austeridade e traz a solução bem estudada:
“Demitam-se e dêem a palavra ao povo” para que uma alternativa “de esquerda”
possa seguir um outro rumo político.
Pouco antes de os
responsável pela organização do protesto subirem ao palco para cantar a
Grândola, Ana Barbosa tomou o seu lugar, sensivelmente a meio da praça. A
multidão que desceu a Avenida da Liberdade já preenche metade do espaço, que
nunca chegou a estar lotado. Multiplicam-se os cravos elevados no ar e as
músicas de José Mário Branco e José Afonso são a banda sonora que antecede os
versos do tema que deu nome à manifestação de sábado.
Ana está
desempregada há cerca de um ano, mas foram a filha e a sobrinha que a levaram a
caminhar até à beira-rio. Quis que, aos seis e nove anos, experimentassem “ao
vivo” a realidade que vêem na televisão e que soubesem afinal “o que é uma
manifestação”. Admite que nunca deu grande importância à política, mas isso não
a impede de acreditar que “tem de haver uma grande mudança”, e que “o segredo”
está na formação de um novo governo.
A marcar a
manifestação estiveram a repetida exigência de “demissão” do governo e os
números do protesto. A organização sublinhou os mais de um milhão e meio em
todo o país (500 mil em Lisboa). O jornal “Público” fez as contas e chegou à
conclusão de que nos 44 mil metros quadrados do Terreiro do Paço bem apertados
não caberiam 180 mil manifestantes.
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