segunda-feira, 4 de março de 2013

Portugal: MILHARES GRITARAM PELA DEMISSÃO DO GOVERNO




Pedro Rainho – Jornal i

Os números estão longe de ser unânimes mas, em todo o país, pediram-se eleições antecipadas

José Aires segura entre três dedos o cartão vermelho que trouxe à manifestação do movimento “Que se lixe a troika”, em Lisboa. “A partir do momento em que não nos ouvem, só nos resta vir para a rua”, diz o antropólogo, funcionário de uma empresa de higiene e segurança no trabalho, enquanto espera pelos que, a encabeçar a manifestação, começam a chegar à maior praça do país.

Veio à Praça do Comércio porque, diz, sente-se “humilhado”. Reclama a falta de legitimidade do governo para aplicar as receitas de austeridade e traz a solução bem estudada: “Demitam-se e dêem a palavra ao povo” para que uma alternativa “de esquerda” possa seguir um outro rumo político.

Pouco antes de os responsável pela organização do protesto subirem ao palco para cantar a Grândola, Ana Barbosa tomou o seu lugar, sensivelmente a meio da praça. A multidão que desceu a Avenida da Liberdade já preenche metade do espaço, que nunca chegou a estar lotado. Multiplicam-se os cravos elevados no ar e as músicas de José Mário Branco e José Afonso são a banda sonora que antecede os versos do tema que deu nome à manifestação de sábado.

Ana está desempregada há cerca de um ano, mas foram a filha e a sobrinha que a levaram a caminhar até à beira-rio. Quis que, aos seis e nove anos, experimentassem “ao vivo” a realidade que vêem na televisão e que soubesem afinal “o que é uma manifestação”. Admite que nunca deu grande importância à política, mas isso não a impede de acreditar que “tem de haver uma grande mudança”, e que “o segredo” está na formação de um novo governo.

A marcar a manifestação estiveram a repetida exigência de “demissão” do governo e os números do protesto. A organização sublinhou os mais de um milhão e meio em todo o país (500 mil em Lisboa). O jornal “Público” fez as contas e chegou à conclusão de que nos 44 mil metros quadrados do Terreiro do Paço bem apertados não caberiam 180 mil manifestantes.

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