Pedro Rainho –
Jornal i
Faz hoje dois anos
que Passos classificou o corte do subsídio de férias como um “disparate”
“Já ouvi o
primeiro-ministro dizer, infelizmente, que o PSD quer acabar com muitas coisas
e também com o 13.o mês, mas nós nunca falámos disso e isso é um disparate.” A
1 de Abril de 2011, Pedro Passos Coelho, questionado pelos estudantes de uma
escola de Vila Franca de Xira, classificou como um “disparate” uma medida que
meses depois o governo aplicava - uma sobretaxa sobre os subsídios de Natal dos
funcionários públicos. O corte no 13.o chegava no ano seguinte. José Miguel
Júdice diz que a mentira “faz parte do ADN do político”, mas o presidente da
JSD Hugo Soares sublinha que “uma ovelha não faz o rebanho”. O politólogo
António Costa Pinto considera que os eleitores estão familiarizados com a
cantiga: “A sociedade portuguesa já dá o desconto”.
“Votamos nos
políticos que nos mentem e não nos que nos dizem a verdade. No fundo é a
memória genética a funcionar”, explica Júdice. O ex-dirigente do PSD vê nos
políticos uma versão pós--moderna dos feiticeiros que previam a chegada das
chuvas. “Se falhassem, eram substituídos por outros que, mais uma vez,
asseguravam que iam conseguir”. Era a garantia de que conseguiriam adivinhar a
chegada da chuva que lhes assegurava essa espécie de eleição social. E, tal
como em relação aos feiticeiros, “só um político suicida nos falará verdade
antes de ser eleito”, considera o jurista. Porém, no caso do primeiro-ministro,
Júdice admite que “fala verdade muito acima da média”.
António Costa Pinto
reconhece que existe em Portugal uma “grande desconfiança em relação à classe
política” e diz que os casos de políticos que falham no cumprimento da palavra
“só agravam essa desconfiança” junto dos eleitores. Mas não há inocentes neste
jogo de duas forças: “Os políticos sabem que estão a enganar, mas a sociedade
também se habituou a que uma parte das promessas não seja cumprida”.
Quando Passos
Coelho afastou a hipótese de cortar os subsídios, o PSD estava a dois meses de
ser governo e os sacrifícios mais pesadas ainda estavam para chegar. Mas o
primeiro-ministro garantia que “toda a austeridade” iria ser feita pelo Estado
e não pelos portugueses” e que não seria necessário fazer “mais aumentos de
impostos”. Até porque, escrevia Passos no seu livro Mudar, “o próprio aumento
de impostos pode conduzir à contracção da actividade económica”.
Hugo Filipe Soares,
líder da JSD, reconhece no recuo de Passos em relação aos subsídios o único
passo em falso do primeiro-ministro. Em Setembro do ano passado, “a primeira opção
não foi aumentar os impostos sobre o rendimento dos trabalhadores. A primeira
opção era a Taxa Social Única”, recorda Hugo Filipe Soares, garantindo que “a
verdade é fundamental, sobre pena de ruir o regime”.
O primeiro-ministro
não está, porém, sozinho nas promessas falhadas, garante Costa Pinto. “Isto é
comum em outras democracias da Europa do Sul. No caso português o mais
interessante é que o governo nunca se desculpou com a intervenção externa. Só
mais recentemente é que o governo se justificou com a troika”, diz o politólogo.
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