Guilherme Dias – Lusomonitor,
opinião
“Aprofundar a
democracia participativa”. Foi esta a última promessa de campanha de José
Eduardo dos Santos, a 29 de Agosto de 2012, num comício junto ao estádio 11 de
Novembro, nos arredores de Luanda. Aprofundar, disse, “através da concertação
do Governo com os parceiros sociais, sociedade civil e autoridades
tradicionais, de modo a que todos participem organizadamente na resolução dos
problemas da nação”.
Poucos, muito
poucos mesmo, terão acreditado. Mas era difícil acreditar que durasse tão
pouco: menos de um ano depois, o regime voltou
a usar da força para silenciar as vozes de protesto. Quase duas dezenas de
manifestantes foram detidos, jornalistas impedidos de trabalhar, ativistas dos
Direitos Humanos ameaçados. Silenciamento total da comunicação social pública,
quase total da parte da privada. No sábado, Angola foi, mais uma vez, amordaçada.
Viu-se mais uma vez
o pior do regime angolano. O uso de força desmesurada para conter algumas
dezenas de jovens, armados apenas com a frustração e o cântico de protesto. Mas
viu-se também o medo de uma elite que sabe que os que desceram até ao cemitério
de Santa Ana, defronte do Comando Provincial da Polícia Nacional, são apenas
uma pequena amostra dos que querem uma mudança – uma “primavera”, como lhe
chamam os organizadores da manifestação de sábado.
E agora…
Quantos mais, ao
ler as notícias sobre o silenciamento da manifestação, terão eles próprios sido
tomados desse desejo de mudança?
Qual seria o efeito
de a liderança angolana levar a sério as suas palavras – “aprofundar a
democracia participativa”, lembre-se – e iniciar um processo inclusivo de
reformas, envolvendo toda a sociedade civil, desde os intelectuais e
inclusivamente históricos do MPLA que há anos reivindicam uma abertura, às ONG
e aos mais contestatários?
E como pode um dos
mais ricos e poderosos regimes de África ter medo de um punhado de jovens ao
ponto de danificar ainda mais a sua pobre reputação de cumprimento dos
preceitos da democracia e Direitos Humanos?
A comunidade
internacional vai imitar a comunicação social pública angolana e fingir que
nada aconteceu no cemitério de Santa Ana no dia 30 de Março de 2013?
Antes da manifestação marcada pela
Primavera Angolana, Luís Rocha, um dos organizadores, dizia ao LusoMonitor
estar preparado para esperar, por estas e outras respostas. “Continuamos
pacientemente a moralizar o angolano a demolir essa muralha do medo e
reivindicar os seus direitos fundamentais”.
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