quarta-feira, 17 de abril de 2013

O BRASIL NÃO ANDA, PULA




João Almeida Moreira - Dinheiro Vivo, opinião

Comportamento gera comportamento. Tal como a corrupção, a ética é contagiosa. E chegou ao Brasil.

Só se pode entender a coluna do aclamado Arnaldo Jabor no jornal O Estado de São Paulo intitulada “Não Acontece Nada Neste País” na perspetiva daquela mãe que, por conviver com o filho todos os dias, não se apercebe do seu crescimento a não ser quando ouve o habitual comentário – “ai, ele deu um pulo!” – de quem vê de fora.

Ora quem vê o Brasil de fora (ou pelo menos distanciado) não tem dúvidas: no Brasil, o que não falta são acontecimentos – aliás, o Brasil, mais pibinho, menos investimento estrangeiro, está a acontecer agora, todos os dias.

A um emigrante recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outros exemplos de precipícios sociais, a quantidade de empregadas, internas ou não, das chamadas classes A e B: são 6,5% da população ativa brasileira contra 0,3% da europeia. Dos subúrbios para os apartamentos dos patrões nas zonas nobres, as domésticas percorrem dezenas de quilómetros de madrugada para servir o “café da manhã” e fazem 12 horas depois, já noite alta, o percurso inverso, após servir o jantar. Não têm horário fixo, nem limite de horas de trabalho, nem direito a horas extraordinárias, nem um adicional por trabalho noturno, nem direitos em caso de demissão.

Não tinham. Este mês, uma proposta de emenda da Constituição vai revolucionar a relação das domésticas com os seus patrões. “Um marco civilizatório”, resumiu a revista Veja.

A um emigrante recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outras impunidades, a impunidade dos condutores de automóveis. Segundo um discutível princípio legal, os condutores podem recusar o bafómetro (teste do balão, em Portugal) porque ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio. Uma advogada apanhada recentemente pela TV a acusar de arbitrariedade um polícia por ele insistir no teste, enquanto cambaleava de chave do carro na mão, foi um episódio patético e paradigmático. Além dos anúncios para prevenir o álcool na estrada, com uma personagem grotescamente simpática, o Zé Trombada, que guiava aos ziguezagues por uma autoestrada como se o assunto fosse brincadeira e não causa de morte de milhões no país (veja o vídeo aqui).

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