João Almeida Moreira - Dinheiro Vivo, opinião
Comportamento gera
comportamento. Tal como a corrupção, a ética é contagiosa. E chegou ao Brasil.
Só se pode entender
a coluna do aclamado Arnaldo Jabor no jornal O Estado de São Paulo intitulada
“Não Acontece Nada Neste País” na perspetiva daquela mãe que, por conviver com
o filho todos os dias, não se apercebe do seu crescimento a não ser quando ouve
o habitual comentário – “ai, ele deu um pulo!” – de quem vê de fora.
Ora quem vê o
Brasil de fora (ou pelo menos distanciado) não tem dúvidas: no Brasil, o que
não falta são acontecimentos – aliás, o Brasil, mais pibinho, menos
investimento estrangeiro, está a acontecer agora, todos os dias.
A um emigrante
recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outros exemplos de
precipícios sociais, a quantidade de empregadas, internas ou não, das chamadas
classes A e B: são 6,5% da população ativa brasileira contra 0,3% da europeia.
Dos subúrbios para os apartamentos dos patrões nas zonas nobres, as domésticas
percorrem dezenas de quilómetros de madrugada para servir o “café da manhã” e
fazem 12 horas depois, já noite alta, o percurso inverso, após servir o jantar.
Não têm horário fixo, nem limite de horas de trabalho, nem direito a horas
extraordinárias, nem um adicional por trabalho noturno, nem direitos em caso de
demissão.
Não tinham. Este
mês, uma proposta de emenda da Constituição vai revolucionar a relação das
domésticas com os seus patrões. “Um marco civilizatório”, resumiu a revista Veja.
A um emigrante
recém-chegado ao país em 2011 fazia impressão, entre outras impunidades, a
impunidade dos condutores de automóveis. Segundo um discutível princípio legal,
os condutores podem recusar o bafómetro (teste do balão, em Portugal) porque
ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio. Uma advogada apanhada
recentemente pela TV a acusar de arbitrariedade um polícia por ele insistir no
teste, enquanto cambaleava de chave do carro na mão, foi um episódio patético e
paradigmático. Além dos anúncios para prevenir o álcool na estrada, com uma
personagem grotescamente simpática, o Zé Trombada, que guiava aos ziguezagues
por uma autoestrada como se o assunto fosse brincadeira e não causa de morte de
milhões no país (veja o vídeo aqui).
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