Liliana Valente –
Jornal i
Relvas deixou claro
que sai do governo por “vontade própria”
Quase dois anos
depois da tomada de posse do governo e sob forte contestação, Miguel Relvas é a
primeira baixa do governo liderado por Passos Coelho, por não ter “condições
anímicas” para continuar como ministro. Em causa estão “razões pessoais”, mas a
decisão do ministro acontece numa altura em que o relatório da Inspecção-Geral
de Educação considerou a sua licenciatura irregular (ver página 4). Em
declarações ao i, Miguel Relvas não fecha a porta à vida política e sobre
o seu regresso ao parlamento diz que ainda não decidiu.
O momento da saída
do ministro causou estranheza, uma vez que hoje é conhecida a decisão do
Tribunal Constitucional (TC) sobre o Orçamento do Estado e a agenda política
será dominada por essa discussão. Aliás, Passos Coelho pôs os ministros de
prevenção, no sábado, para um Conselho de Ministros extraordinário em que, além
da decisão do TC, vai estar em cima da mesa a reforma do próprio governo, de
acordo com o “Jornal de Negócios” (ver ao lado). O substituto de Miguel Relvas
ainda não é conhecido e só deverá ser apresentado depois do encontro do
governo.
A escolha do timing
foi feita pelo próprio e pelo primeiro- -ministro, com quem discutiu a saída há
“várias semanas”. O i já tinha noticiado há uma semana e meia a
possibilidade de Relvas deixar o governo.
Miguel Relvas diz
que sai “por vontade própria”, por entender que já não tem “condições anímicas
para continuar”. E tudo, disse ontem, numa declaração pouco comum de um
ministro a cessar funções, porque tem “plena consciência do preço” que pagou ao
longo dos anos, pelas “críticas” que ouviu e pelo “julgamento negativo” e pela
“incompreensão” pelas suas “reais motivações”.
Tudo razões que não
abalaram a confiança de Passos Coelho no ex-ministro, a quem, na hora da
despedida, quis agradecer em comunicado “o seu valioso contributo para o
cumprimento do programa de governo numa fase exigente para o país e para todos
os portugueses”.
RELVAS FABRICOU
PASSOS
Os agradecimentos entre Miguel Relvas e o primeiro-ministro foram
mútuos. Na declaração à imprensa, o ex-governante lembrou que dedicou ao
projecto político de Passos Coelho cinco anos. Aos dois enquanto ministro
juntam-se “dois em que acreditei e lutei, no interior do meu partido, pela
afirmação de um novo líder que encabeçasse um projecto de mudança para
Portugal”, disse, a que acresce mais um ano em que “acreditei e lutei pela
eleição de um novo primeiro-ministro”. E garantiu que vai “continuar a
participar” neste projecto, em cuja validade continua a acreditar.
Passos e Relvas são
amigos de longa data e a relação próxima entre os dois foi um dos motivos
apontados para a sua não substituição há mais tempo, quando no ano passado foi
confrontado com as polémicas da licenciatura e a sua relação com o ex-espião,
recentemente reintegrado na Presidência do Conselho de Ministro, Silva
Carvalho. Passos Coelho chegou até a dizer que o caso da licenciatura era “um
não assunto”. Mas um ano depois, conhecido o relatório sobre a sua
licenciatura, este terá sido um dos motivos que pesou na decisão de Miguel
Relvas que perderá o título académico.
As crescentes
polémicas em torno do ministro levaram várias personalidades, até dentro da
área política da maioria, a pedir a sua substituição. Ontem, depois de
conhecida a sua saída, Eduardo Catroga, o homem que negociou pelo PSD o
orçamento de 2011 com José Sócrates, disse à TVI que “ele próprio já devia ter
tomado esta iniciativa há bastante tempo”. Já o empresário Ângelo Correia, em
declarações à RTP Informação, lembra que a saída de Relvas pode abrir a porta à
remodelação uma vez que Passos terá querido dar-lhe palco, não o misturando com
saídas, por exemplo do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
Dentro da coligação
de governo, Miguel Relvas já era contestado. Publicamente alguns dirigentes do
CDS defenderam a sua substituição para reforçar a coordenação política do
executivo e mesmo entre os dirigentes social--democratas houve quem defendesse
que Relvas já devia ter descolado há mais tempo para não contagiar a imagem
pública do primeiro-ministro.
Ontem,
oficialmente, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, disse respeitar a decisão
e lembrou que em termos institucionais, de relação entre o ministro e o grupo
parlamentar, foi “correcta e leal”. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD,
disse compreender a decisão e “mostrou apreço” pelo trabalho do ministro.
Nas reacções à sua
saída, a oposição aproveitou para pedir a demissão do próprio primeiro-
-ministro, do PCP ao PS. Com Eduardo Oliveira e Silva
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