domingo, 26 de maio de 2013

Angola: Família de ex-militar desaparecido em Luanda lamenta silêncio das autoridades

 


EL – ROC - Lusa
 
Luanda, 25 mai (Lusa) - Horácio Kamulingue não disfarça o desalento quando fala do sobrinho, António Alves, desaparecido há cerca de um ano em Luanda (Angola), quando tentava organizar uma manifestação de ex-militares, como ele, para exigir o pagamento de subsídios alegadamente em atraso.
 
"Sabe, o pior é não sabermos nada dele: se está vivo ou morto. O que queremos é que as autoridades nos digam onde está. Se está morto, que nos devolvam o corpo para o podermos enterrar", explicou à agência Lusa Horácio, que divide o tempo entre Luanda, onde vive, e o Caxito, a 70 quilómetros, onde mantém uma pequena lavra.
 
Os ex-militares António Alves Kamulingue e Isaías Cassule desapareceram nos dias 27 e 29 de maio de 2012, respetivamente, quando tentavam organizar uma manifestação de outros ex-militares.
 
Talvez pelo empenho na organização da manifestação, talvez pelo seu desaparecimento, os ex-militares saíram à rua nos dias 07 e 20 de junho de 2012.
 
A iniciativa levou as autoridades governamentais e militares a encetarem de imediato o pagamento dos subsídios alegados, nalguns casos com 20 anos de atraso. Mas do paradeiro dos dois desaparecidos nunca mais se soube e as famílias dividem os dias entre casa e a Direção Nacional de Investigação Criminal.
 
Em dezembro de 2012 as famílias reuniram-se no Ministério do Interior com o responsável da pasta, Ângelo Veiga, e o comandante-geral da Polícia Nacional, comissário Ambrósio de Lemos, entre outros dirigentes dos departamentos de investigação criminal e da Procuradoria-Geral da República.
 
"O senhor ministro garantiu-nos que iriam ser feitas investigações, mas desde então ninguém mais nos disse nada", recordou Horácio Kamulingue.
 
Na reunião de dezembro participaram também jovens do autodenominado Movimento Revolucionário (MR), que desde 07 de março de 2011 organizou em várias ocasiões, em Luanda, manifestações antigovernamentais.
 
Na próxima segunda-feira, o MR volta a organizar um ato público para não deixar esquecer Kamulingue e Cassule.
 
O objetivo é organizar uma vigília silenciosa, entre as 16:00 de segunda-feira e a manhã do dia seguinte no Largo da Independência, na capital angolana.
 
As duas últimas iniciativas públicas para não deixar esquecer os dois ex-militares foram marcadas pela violência.
 
Na primeira, a 22 de dezembro de 2012, pelo menos quatro pessoas foram detidas pela polícia durante a manifestação, autorizada pelas autoridades de Luanda e que até começou sem incidentes desde o seu início, no Largo da Independência.
 
Os confrontos com a polícia ocorreram na zona central da capital, no Largo da Maianga, quando algumas dezenas de manifestantes tentaram progredir em direção ao Ministério da Justiça.
 
O edifício fica numa das entradas da Cidade Alta, onde se situam a Presidência da República e outros departamentos do Estado angolano.
 
A segunda iniciativa pública morreu antes de começar.
 
Marcada a concentração defronte do cemitério de Santana, no passeio oposto ao Comando Provincial da Polícia Nacional, os jovens foram sendo detidos à medida que se tentavam concentrar, para efetua ruma marcha de três quilómetros até ao Largo da Independência.
 
O resultado foi a detenção de 12 pessoas, segundo a polícia, 18, segundo o MR.
 
Para segunda-feira, e seguindo o que está disposto na legislação, o MR deu conhecimento a Governo Provincial da realização da vigília.
 
Para Horácio Kamulingue, "é preciso fazer alguma coisa".
 
"Isto está-nos a custar muito", concluiu.
 
A Lusa solicitou à Polícia Nacional uma declaração sobre este caso, mas não obteve qualquer resposta.
 

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